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"AMARELO MANGA"
Assis faz um quase-grande filme
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Há quase um ano "Amarelo
Manga" ficou pronto e começou a circular pelos festivais de
cinema -e há quase um ano vem
se falando desse filme. Nesse meio
tempo, o longa-metragem de estréia de Cláudio Assis ganhou ares
mitológicos. Seria o filme-rebelde
da retomada; autêntica revolução.
Chegaram a dizer que nascia, com
ele, uma "nova dramaturgia".
Cercado, agora, de imensa expectativa, "Amarelo Manga" periga decepcionar. O que seria uma
injustiça, pois ele está longe de ser
desinteressante. Mas o que traz de
novo? A rigor, nada. Sua maior
importância está em dar continuidade a um movimento que
despontou lá no começo da retomada, com "Baile Perfumado", e
que foi interrompido por circunstâncias diversas: uma produção
vigorosa, vinda de Pernambuco,
equivalente cinematográfico ao
musical mangue bit.
Um pouco como "Baile Perfumado", "Amarelo Manga" tem
imensa dose de energia e um resultado aquém do que essa energia poderia gerar. Ao fim da projeção, fica a sensação de desperdício, de algo que escapou, de um
quase-grande filme.
O que ele traz de melhor são
imagens documentais do Recife,
representando um Nordeste urbano, cru e -por que não?- bonito. Na forma de um painel, cruzam-se as trajetórias de vários
personagens: a dona de bar Lígia
(Leona Cavalli), o estrangeiro
Isaac (Jonas Bloch), o açougueiro
Wellington (Chico Diaz), sua mulher, a evangélica Kika (Dira
Paes), o homossexual Dunga
(Matheus Nachtergaele).
O tratamento dado aos personagens, buscando fugir do glamour e dos clichês, quase cai em
seu revés, ou seja, o naturalismo,
o retrato fetichizado do povo. Todos eles têm alguma perversão (o
estrangeiro necrófilo, o homossexual vingativo, a evangélica capaz
da violência brutal). Nesse sentido, outro longa da retomada, o
"Madame Satã" de Karim Aïnouz, trouxe um tratamento muito mais original e não-fetichizado.
"Amarelo Manga" vale pelo vigor, pelas imagens do Recife contemporâneo e até pelo esforço na
busca do novo. Mas daí a chamá-lo de revolucionário, não dá.
Amarelo Manga
Produção: Brasil, 2002
Direção: Cláudio Assis
Com: Matheus Nachtergaele, Jonas
Bloch, Dira Paes, Leona Cavalli
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Espaço Unibanco, Frei
Caneca Unibanco Arteplex, Interlagos,
Interlar Aricanduva e Lumière
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