|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA/GRAVADORAS
Migração de Chico Buarque para a Biscoito Fino e Gal Costa para a Trama acentua mudança
Nomes consagrados reforçam mercado das "independentes"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Os biscoitos finos estão menos
distantes das massas no mercado
fonográfico. Anunciada há dez
dias, a contratação de Chico Buarque pela Biscoito Fino comprova
o bom momento das gravadoras
chamadas independentes: mais
nomes de peso, mais vendas, mais
perto do público.
A ABPD (Associação Brasileira
dos Produtores de Discos) não divulga números deste ano, mas a
ABMI (Associação Brasileira da
Música Independente) estima em
20% a participação das pequenas
e médias no mercado. O coletivo
delas já estaria do tamanho de
uma multinacional -são quatro
as "majors" do país: Sony BMG,
Universal, EMI e Warner.
"Agora, as independentes é que
mandam, como sempre deveria
ser. A música não pode ficar na
mão de meia dúzia de executivos", diz João Marcello Bôscoli,
um dos sócios da Trama.
Para Bôscoli, "os artistas consagrados é que estão chegando no
patamar das independentes", e
não o contrário. Segundo ele, para
Chico, Maria Bethânia (Biscoito
Fino) e Gal Costa (Trama), mais
vale fazer um trabalho autônomo
do que entrar na corrida do ouro
das grandes, que têm de remeter
lucros para as matrizes.
"As "majors" estavam dopando
os artistas com adiantamentos.
Na Trama, o dinheiro é para desenvolver projetos artísticos, não
para financiar artistas. Quem quiser carro blindado que compre o
seu", afirma Bôscoli.
Olívia Hime, sócia da Biscoito
Fino, conta que não havia um
projeto quando a gravadora foi
criada, há cinco anos. "Mas sabíamos que, mesmo que a música
passasse a ser transmitida por fio
dental ou telepatia, ela sempre seria gravada e haveria um ser humano tocando", diz a cantora.
Trama e Biscoito Fino contam
com retaguarda forte. A primeira
tem como sócios os irmãos Cláudio e André Szajman, donos do
Grupo VR (Vale Refeição); a segunda tem Kati Almeida Braga,
do banco Icatu.
"Tratando-se o assunto com rigor, a Deckdisc é a única que poderia ser chamada de independente no Brasil. Todos os seus investimentos são feitos com a renda gerada pelas suas vendas. Não
há bancos, financeiras ou qualquer outro tipo de empresa por
trás", afirma Guacira Abreu, diretora de marketing da Deckdisc.
A gravadora diz ser a líder das
independentes, com 3,5% do
mercado. Seu catálogo inclui pagode, forró, sertanejo, rock e outros gêneros. "É o que chamamos
de "leque aberto'", diz Abreu.
A Rob Digital também sonha alto: está de mudança para uma sede com estúdio próprio, o que barateia muito a produção.
"E sempre investimos na distribuição, porque, sem ter alcance
nacional, uma gravadora fica
sempre pequena", diz Roberto
Carvalho, um dos sócios da Rob.
Para o diretor-geral da ABPD,
Paulo Rosa, a pirataria e o fechamento de pontos-de-venda impedem que "qualquer segmento tenha efetivamente crescido nos últimos anos". Ele classifica as
transferências de Chico, Gal e Bethânia como "circunstanciais".
"As produções dos três são tão
autorais que o fato de estarem numa "major" ou numa independente não é determinante para o sucesso comercial", acredita.
Já para o presidente da ABMI,
Pena Schmidt, "os grandes artistas identificam nos independentes uma possibilidade real de investir no seu trabalho, a partir de
uma relação diferente". Ele vê o
futuro com otimismo: "A nossa
tendência é de crescimento".
Texto Anterior: Artes plásticas/réplica: Dor, simbolização, e o que é sério e o que não é sério Próximo Texto: Osesp está entre as novas parceiras Índice
|