São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 2005

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MÚSICA/GRAVADORAS

Migração de Chico Buarque para a Biscoito Fino e Gal Costa para a Trama acentua mudança

Nomes consagrados reforçam mercado das "independentes"

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Os biscoitos finos estão menos distantes das massas no mercado fonográfico. Anunciada há dez dias, a contratação de Chico Buarque pela Biscoito Fino comprova o bom momento das gravadoras chamadas independentes: mais nomes de peso, mais vendas, mais perto do público.
A ABPD (Associação Brasileira dos Produtores de Discos) não divulga números deste ano, mas a ABMI (Associação Brasileira da Música Independente) estima em 20% a participação das pequenas e médias no mercado. O coletivo delas já estaria do tamanho de uma multinacional -são quatro as "majors" do país: Sony BMG, Universal, EMI e Warner.
"Agora, as independentes é que mandam, como sempre deveria ser. A música não pode ficar na mão de meia dúzia de executivos", diz João Marcello Bôscoli, um dos sócios da Trama.
Para Bôscoli, "os artistas consagrados é que estão chegando no patamar das independentes", e não o contrário. Segundo ele, para Chico, Maria Bethânia (Biscoito Fino) e Gal Costa (Trama), mais vale fazer um trabalho autônomo do que entrar na corrida do ouro das grandes, que têm de remeter lucros para as matrizes.
"As "majors" estavam dopando os artistas com adiantamentos. Na Trama, o dinheiro é para desenvolver projetos artísticos, não para financiar artistas. Quem quiser carro blindado que compre o seu", afirma Bôscoli.
Olívia Hime, sócia da Biscoito Fino, conta que não havia um projeto quando a gravadora foi criada, há cinco anos. "Mas sabíamos que, mesmo que a música passasse a ser transmitida por fio dental ou telepatia, ela sempre seria gravada e haveria um ser humano tocando", diz a cantora.
Trama e Biscoito Fino contam com retaguarda forte. A primeira tem como sócios os irmãos Cláudio e André Szajman, donos do Grupo VR (Vale Refeição); a segunda tem Kati Almeida Braga, do banco Icatu.
"Tratando-se o assunto com rigor, a Deckdisc é a única que poderia ser chamada de independente no Brasil. Todos os seus investimentos são feitos com a renda gerada pelas suas vendas. Não há bancos, financeiras ou qualquer outro tipo de empresa por trás", afirma Guacira Abreu, diretora de marketing da Deckdisc.
A gravadora diz ser a líder das independentes, com 3,5% do mercado. Seu catálogo inclui pagode, forró, sertanejo, rock e outros gêneros. "É o que chamamos de "leque aberto'", diz Abreu.
A Rob Digital também sonha alto: está de mudança para uma sede com estúdio próprio, o que barateia muito a produção.
"E sempre investimos na distribuição, porque, sem ter alcance nacional, uma gravadora fica sempre pequena", diz Roberto Carvalho, um dos sócios da Rob.
Para o diretor-geral da ABPD, Paulo Rosa, a pirataria e o fechamento de pontos-de-venda impedem que "qualquer segmento tenha efetivamente crescido nos últimos anos". Ele classifica as transferências de Chico, Gal e Bethânia como "circunstanciais".
"As produções dos três são tão autorais que o fato de estarem numa "major" ou numa independente não é determinante para o sucesso comercial", acredita.
Já para o presidente da ABMI, Pena Schmidt, "os grandes artistas identificam nos independentes uma possibilidade real de investir no seu trabalho, a partir de uma relação diferente". Ele vê o futuro com otimismo: "A nossa tendência é de crescimento".

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