MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Camundongos costumam ter muitos filhos, mas, no caso do mais famoso deles, ocorreu uma inversão: ele tem vários pais.
"Ele" é, obviamente, Mickey Mouse, o camundongo criado por...por quem mesmo? Walt Disney, diz o senso comum. Bom, se Disney é de fato o mentor intelectual do personagem, pelo menos dois outros homens clamam participação na paternidade. Os exames de DNA que eles apresentam como provas de que são (também) pais da "criança" chegaram ao Brasil recentemente.
O mais atual é o livro da série "Mestres Disney" dedicado a Floyd Gottfredson, lançado este mês nas bancas da região Sudeste pela editora Abril (chega ao resto do país em setembro). Gottfredson é descrito na obra como "o pai do Mickey nas HQs".
O americano começou a trabalhar na Disney em dezembro de 1929, como assistente de desenhista -Mickey tinha recém estreado nos cinemas, em 1928. Em 1930, as histórias do personagem começaram a ser publicadas em jornais, e foi no meio da primeira série de histórias em tirinhas, "O Vale da Morte", que Gottfredson assumiu os desenhos.
O volume de "Mestres Disney" dedicado a Gottfredson traz esta raríssima história em seu formato original: tirinhas com três ou quatro quadrinhos cada uma, que eram publicadas dia a dia nos jornais. A edição permite observar como os roteiristas resolveram cada bloco de histórias em pouco espaço, mantendo o gancho para o dia seguinte. Também permite observar a mudança de estilo com a entrada de Gottfredson -que assume a partir da 29ª tira.
Além de "O Vale da Morte", o livro traz também as clássicas "Os Sete Fantasmas" (1936) -com Pateta e Donald- e "Mickey Mouse Contra o Mancha Negra" (1939), em que o tradicional vilão faz sua estréia e mostra o rosto.
Floyd Gottfredson desenhou e criou roteiros de histórias do Mickey por 45 anos. Sua adoção do personagem se deu justamente quando o outro "pai", que havia criado Mickey com Walt Disney, resolveu sair: Ub Iwerks.
Retratado no documentário "A Mão por trás do Camundongo: a História de Ub Iwerks", exibido no último Anima Mundi, Iwerks foi o desenhista que colocou no papel a idéia que estava na cabeça de Disney. Como o próprio Roy, irmão de Walt e vice-presidente dos estúdios Disney, diz no filme, "Iwerks animou o Mickey. Mesmo Wally [apelido do irmão] começou a admitir que, sem Ub, não haveria Mickey".
Como prova de sua paternidade, Iwerks deixou seu nome como desenhista de todos os primeiros filmes de Mickey, inclusive no pioneiro "Plane Crazy" (1928).