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Última Moda
ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br
Contra a cafonice
Dono da grife Cavalera, o empresário Alberto Hiar
abre rede de lojas Jeans Boutique; ex-deputado estadual, ele diz que hoje a política e a moda são "cafonas" no Brasil
Ele foi eleito vereador em
São Paulo duas vezes, e deputado estadual outras duas. No início, pelo PMDB, depois pelo
PSDB. Em 2006, perdeu as eleições. A sua distância do mundo
político foi crescendo e, hoje,
ele não quer nem mesmo ouvir
falar no apelido eleitoral que
lhe ajudou angariar votos entre
os jovens: Turco Loco. Se você
se dirigir ao dono das grifes Cavalera e V.ROM, prefira o nome
de batismo: Alberto Hiar.
"A política no Brasil é cafona.
Hoje você tem vergonha de dizer que é um homem público",
diz Hiar. Como assim, cafona?
""É cafona no plano das idéias. O
Brasil mudou muito, mas só se
ouve falar nos mesmos políticos com as mesmas velhas
idéias. Para político, preto fede,
jovem não presta para nada e
gay tem lepra", completa.
Casado e pai de três filhos,
Hiar, 43, é um dos empresários
de moda em quem vale a pena
prestar atenção. Além de ser o
homem por trás das antenadas
grifes Cavalera e V.ROM, ele
lançou há poucos meses a rede
de lojas Jeans Boutique.
A rede, que iniciou seus negócios em junho, já tem quatro
lojas. Até o final do ano, serão
11, inclusive em Vitória, Curitiba e Porto Alegre. É uma iniciativa inédita no país: reunir num
mesmo espaço jeans -e só
jeans- brasileiros e importados. Na loja da Oscar Freire, são
2.500 peças de 12 grifes nacionais e 8 estrangeiras -entre
elas, as hypadas Serfontaine,
Tag e Earnest Sewn.
A Jeans Boutique é uma parceria da K2, empresa de Hiar e
de sua irmã, Janete Hiar, com o
grupo Varcavo, que é dono da
World Tennis (com 250 lojas
no Brasil). Hiar tem 20% do negócio, que funciona por meio de
franquias. Ele é responsável
por selecionar as grifes e os modelos que estarão nas lojas e
por manter o conceito original
da Jeans Boutique.
Atualmente, 70% das vendas
são de jeans nacionais, cujo
preço médio é R$ 159. As importadas custam entre R$ 299
(um modelo Replay) e R$ 1.599
(o modelo Kasandra, da americana Rock & Republic).
Hiar conta, sem revelar números, que os negócios da rede
estão indo de vento em popa.
Para explicar o sucesso, ele solta um slogan: "O jeans é o uniforme contemporâneo, e a camiseta é o outdoor, não só no
Brasil, mas no mundo".
Sua experiência diz que os
jeans resinados e os "brutos"
-sem lavagens e sem decoração (aviamentos, bordados
etc.)- são os modelos da hora.
Outra novidade é que as melhores grifes estão preferindo não
estampar ostensivamente suas
logomarcas -colocando-as como detalhe discreto.
Cultura de moda
Hiar também tem planos de
expansão para a Cavalera, criada em 1995. Ele está reformulando sua equipe de designers,
coordenada pelo estilista Marcelo Sommer, a fim de concentrar a grife na criação de streetwear. Abriu três novas lojas
neste ano -duas em Curitiba e
uma em Belo Horizonte. E vai
abrir mais três nos próximos
meses -uma delas em Jurerê
(SC)-, totalizando 15 lojas.
A grife patrocina há dois anos
o piloto Bruno Senna, que será
novamente o garoto-propaganda da Cavalera para a campanha do verão 2008/09. A outra
campanha da marca para a
temporada foi feita pela equipe
francesa da Surface to Air -grife e grupo de criação sediado
em Paris, que tem uma loja em
São Paulo, da qual Hiar recentemente se tornou sócio.
Quando o assunto é moda
brasileira, Hiar reacende a veia
política. "A indústria de vestuário pode estar crescendo no
país, mas não a indústria de
moda. Falta interesse e investimento do governo", protesta.
Ele também aponta o dedo
para o meio fashion. "Todo o
setor, inclusive os estilistas, cometem um grande erro ao não
incentivar a cultura de moda no
país. A informação de moda do
brasileiro vem da novela das oito. A Abest (Associação Brasileira de Estilistas) poderia ter
um papel mais amplo do que
simplesmente promover desfiles de grifes brasileiras."
Para Hiar, a moda hoje também está passando por "um
momento de cafonice". "São
sempre as mesmas idéias, só se
fala nos mesmos estilistas, não
se investe em novos projetos e
em novos criadores", reclama.
O ex-deputado pode estar desencantado com a política, mas
parece que não perdeu o gosto
pelo debate público.
com VIVIAN WHITEMAN
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