São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 2008

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br

Contra a cafonice

Dono da grife Cavalera, o empresário Alberto Hiar abre rede de lojas Jeans Boutique; ex-deputado estadual, ele diz que hoje a política e a moda são "cafonas" no Brasil

Ele foi eleito vereador em São Paulo duas vezes, e deputado estadual outras duas. No início, pelo PMDB, depois pelo PSDB. Em 2006, perdeu as eleições. A sua distância do mundo político foi crescendo e, hoje, ele não quer nem mesmo ouvir falar no apelido eleitoral que lhe ajudou angariar votos entre os jovens: Turco Loco. Se você se dirigir ao dono das grifes Cavalera e V.ROM, prefira o nome de batismo: Alberto Hiar.
"A política no Brasil é cafona. Hoje você tem vergonha de dizer que é um homem público", diz Hiar. Como assim, cafona? ""É cafona no plano das idéias. O Brasil mudou muito, mas só se ouve falar nos mesmos políticos com as mesmas velhas idéias. Para político, preto fede, jovem não presta para nada e gay tem lepra", completa.
Casado e pai de três filhos, Hiar, 43, é um dos empresários de moda em quem vale a pena prestar atenção. Além de ser o homem por trás das antenadas grifes Cavalera e V.ROM, ele lançou há poucos meses a rede de lojas Jeans Boutique.
A rede, que iniciou seus negócios em junho, já tem quatro lojas. Até o final do ano, serão 11, inclusive em Vitória, Curitiba e Porto Alegre. É uma iniciativa inédita no país: reunir num mesmo espaço jeans -e só jeans- brasileiros e importados. Na loja da Oscar Freire, são 2.500 peças de 12 grifes nacionais e 8 estrangeiras -entre elas, as hypadas Serfontaine, Tag e Earnest Sewn.
A Jeans Boutique é uma parceria da K2, empresa de Hiar e de sua irmã, Janete Hiar, com o grupo Varcavo, que é dono da World Tennis (com 250 lojas no Brasil). Hiar tem 20% do negócio, que funciona por meio de franquias. Ele é responsável por selecionar as grifes e os modelos que estarão nas lojas e por manter o conceito original da Jeans Boutique.
Atualmente, 70% das vendas são de jeans nacionais, cujo preço médio é R$ 159. As importadas custam entre R$ 299 (um modelo Replay) e R$ 1.599 (o modelo Kasandra, da americana Rock & Republic).
Hiar conta, sem revelar números, que os negócios da rede estão indo de vento em popa. Para explicar o sucesso, ele solta um slogan: "O jeans é o uniforme contemporâneo, e a camiseta é o outdoor, não só no Brasil, mas no mundo".
Sua experiência diz que os jeans resinados e os "brutos" -sem lavagens e sem decoração (aviamentos, bordados etc.)- são os modelos da hora. Outra novidade é que as melhores grifes estão preferindo não estampar ostensivamente suas logomarcas -colocando-as como detalhe discreto.

Cultura de moda
Hiar também tem planos de expansão para a Cavalera, criada em 1995. Ele está reformulando sua equipe de designers, coordenada pelo estilista Marcelo Sommer, a fim de concentrar a grife na criação de streetwear. Abriu três novas lojas neste ano -duas em Curitiba e uma em Belo Horizonte. E vai abrir mais três nos próximos meses -uma delas em Jurerê (SC)-, totalizando 15 lojas.
A grife patrocina há dois anos o piloto Bruno Senna, que será novamente o garoto-propaganda da Cavalera para a campanha do verão 2008/09. A outra campanha da marca para a temporada foi feita pela equipe francesa da Surface to Air -grife e grupo de criação sediado em Paris, que tem uma loja em São Paulo, da qual Hiar recentemente se tornou sócio.
Quando o assunto é moda brasileira, Hiar reacende a veia política. "A indústria de vestuário pode estar crescendo no país, mas não a indústria de moda. Falta interesse e investimento do governo", protesta.
Ele também aponta o dedo para o meio fashion. "Todo o setor, inclusive os estilistas, cometem um grande erro ao não incentivar a cultura de moda no país. A informação de moda do brasileiro vem da novela das oito. A Abest (Associação Brasileira de Estilistas) poderia ter um papel mais amplo do que simplesmente promover desfiles de grifes brasileiras."
Para Hiar, a moda hoje também está passando por "um momento de cafonice". "São sempre as mesmas idéias, só se fala nos mesmos estilistas, não se investe em novos projetos e em novos criadores", reclama.
O ex-deputado pode estar desencantado com a política, mas parece que não perdeu o gosto pelo debate público.

com VIVIAN WHITEMAN



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