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"Bye-Bye" revela Elia Kazan francês
INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema
Karim Dridi nasceu na Tunísia,
durante a guerra de independência
que aquele país moveu contra a
França. Seu pai é tunisiano. Sua
mãe, francesa. Daí, não ser nada
estranho o sentimento de dilaceração que atravessa "Bye-Bye".
Também não é estranho que
uma das referências cinematográficas de Dridi seja Elia Kazan: cineasta de origem turca que emigrou para os EUA aos quatro anos,
mas nunca perdeu o sentimento de
estrangeiridade (ao contrário, ele é
central em "América, América"
ou "Sindicato de Ladrões").
Mas a ficção de "Bye-Bye" remete antes de tudo a John Ford,
um cineasta que não chega a entusiasmar Dridi. A odisséia de Ismael, o irmão mais velho encarregado de levar o jovem Mouloud de
Paris até a Tunísia, lembra a de
John Wayne em "Rastros de
Ódio", o grande faroeste de 1956.
Como Mouloud não quer ser
despachado para a Tunísia -onde
vivem os pais-, ele desaparece
em Marselha. A Ismael caberá procurar Mouloud no submundo
marselhês. Uma busca que é também da identidade, de si mesmo.
Seria injusto dizer que
"Bye-Bye" também não tem algo
de Kazan, a começar pela atenção
dada aos atores.
Mas as imagens marítimas, em
que Ismael (Sami Bouajila) divide
as atenções com os navios, possuem esse tom portuário bem kazaniano: transmitem a sensação de
não estar nem dentro nem fora,
mas numa terra de ninguém.
É nessa encruzilhada que acontece "Bye-Bye". Ali, tudo pode
acontecer: sobreviver ou morrer,
tornar-se ou não marginal.
A marginalidade é, no mais, uma
sombra que atinge a comunidade
árabe quase inteira, em parte pela
pobreza, em parte por não abandonar seus costumes em favor da
cultura européia -o que ajuda a
desencadear a ação dos racistas de
extrema-direita.
Mesmo considerando que Dridi
traz o pessimismo sombrio de
John Ford em "Rastros de Ódio",
misturado ao caráter visceral e
crispado da dramaturgia de Kazan, este seu segundo filme (o primeiro, "Pigalle", foi lançado apenas em vídeo no Brasil) se beneficia de um uso da câmera e de uma
ambientação livre e leve, à maneira
da nouvelle vague francesa.
É verdade que Dridi não aprecia
essa escola, à qual reprova o caráter "intelectual". Mas a batalha
da nouvelle vague girou em torno
da necessidade de filmar personagens com vida, e Dridi usa e abusa
desse legado.
Há que lembrar, por fim, que
"Bye Bye" é um filme com 19 personagens, o que leva seu diretor a,
não raro, abandonar a trama central e deixar sua câmera vagabundeando por Marselha, vasculhando a vida das populações pobres,
antes de voltar ao eixo central.
Dridi controla bem essa complexidade. É uma revelação e um cineasta a ser seguido.
Filme: Bye Bye
Produção: França, 1995
Direção: Karim Dridi
Com: Sami Bouajila, Nozha Khouadra
Quando: a partir de hoje, no Espaço
Unibanco de Cinema, sala 3
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