São Paulo, sábado, 15 de agosto de 1998

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CARTAS DE CARROLL

"Anotava sistematicamente seu nome completo e data de aniversário e marcava atrás de uma porta sua altura, à medida que cresciam. Colocava-as sobre seus joelhos, abraçava-as, acariciava-as e beijava-as.
Mandava-lhes uma torrente de cartas, muitas com desenhos, enfeites, brincadeiras, chistes. Criava charadas, trocadilhos e truques; gracejava e representava personagens que ele mesmo criava.
Estava sempre inventando um novo tipo de carta: cartas com rébus; cartas no formato de cata-ventos; cartas invertidas que só podem ser lidas na frente de um espelho; cartas de trás para a frente que devem ser lidas a partir do final; cartas com adivinhas, brincadeiras e acrósticos (...). Dedicava-se de corpo e alma a essas cartas e, sem querer, conquistou para si um lugar na história da arte epistolar.
Algumas dessas amizades eram mais intensas do que outras; algumas duravam décadas, outras, pouco tempo, e várias terminavam abruptamente, em geral com a rejeição de Charles sem nenhum motivo aparente. Quando uma amizade estava em pleno viço, as crianças adoravam Charles.
Os pais vitorianos de classe alta não davam muita atenção a seus filhos e relegavam-nos aos cuidados, e muitas vezes à negligência, de babás e governantas, que não raro eram criaturas austeras, ignorantes, insensíveis e sem imaginação. Que diferença quando essas crianças começavam a conviver com o sr. Dodgson: "Minha amizade com ele foi provavelmente a experiência mais valiosa de toda a minha vida e influenciou minha maneira de ver o mundo mais do que toda a minha vivência posterior -e somente para melhor', escreveu Enid (Stevens) Shawyer. Isa Bowman relembra: "Ele era tão bom e delicado, tão carinhoso e gentil... O convívio prolongado com ele quando éramos crianças, o fato de termos conhecido tão de perto o homem que, mais do que qualquer outro, soube entender a infância, foi realmente uma dádiva de Deus...'."

Trecho extraído de "Lewis Carroll - Uma Biografia", de Morton N. Cohen.



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