São Paulo, sábado, 15 de agosto de 1998

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Para autor, amor por meninas era platônico

da Reportagem Local

O autor de "Lewis Carroll - Uma Biografia", Morton N. Cohen, 77, disse não ter evidências sobre possíveis avanços, no sentido sexual, do escritor com suas amadas, as meninas pré-puberes a quem dedicou praticamente toda sua vida sentimental.
"Carroll era uma boa pessoa, cristão praticante. Não existem provas de que tivesse ido além do carinho e da atenção. Conversei com algumas delas, já idosas, e todas se lembravam dele como um amigo", disse Cohen à Folha, por telefone, de Londres.
O biógrafo, que vai lançar um livro com fotografias de Carroll em outubro, não considera conclusivos de pedofilia os indícios que encontrou em alguns depoimentos, como o da irmã de Alice, Lorina, que comenta com a musa do livro homônimo o fato de Carroll a colocar sempre sobre as pernas.
"O sr. D. (Dodgson) costumava sentá-la sobre os joelhos", diz Lorina. O próprio Cohen alude ao costume de Carroll de pôr as favoritas no colo, de beijá-las e de convidá-las para jantares "tête-à-tête", sem a presença de familiares, além de ter fotografado muitas delas nuas.
"É óbvio que tocá-las intimamente não seria normal, mas colocá-las no colo era comum na época vitoriana. Sigmund Freud ainda não havia aparecido", diz o biógrafo. Mas reconhece que Carroll "certamente" utilizava a imaginação como contador de histórias para conquistar a amizade das crianças.
Para Cohen, também era resultado da época o caráter reservado do escritor, que escondia os sentimentos todo o tempo e expiava a culpa com orações fervorosas.
Não acha, porém, que foi essa atração pelas meninas que teria levado Charles Dodgson a se tornar escritor. "Ele era um escritor e, antes de tudo, também foi um matemático importante."
As cartas escritas por Carroll às meninas também se referem a beijos trocados, assumindo, muitas vezes, um linguajar estranho para um homem já de idade avançada. Revela, no entanto, enorme criatividade, inventando cartas para ler em frente ao espelho, escritas com letra trêmula ou para serem lidas de trás para diante.
"Não acho que suas cartas fossem infantis", diz Cohen. "Elas procuravam falar a linguagem das crianças, mas eram, pelo contrário, muito inteligentes." (CM)



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