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Para autor, amor por meninas era platônico
da Reportagem Local
O autor de "Lewis Carroll - Uma
Biografia", Morton N. Cohen, 77,
disse não ter evidências sobre possíveis avanços, no sentido sexual,
do escritor com suas amadas, as
meninas pré-puberes a quem dedicou praticamente toda sua vida
sentimental.
"Carroll era uma boa pessoa,
cristão praticante. Não existem
provas de que tivesse ido além do
carinho e da atenção. Conversei
com algumas delas, já idosas, e todas se lembravam dele como um
amigo", disse Cohen à Folha, por
telefone, de Londres.
O biógrafo, que vai lançar um livro com fotografias de Carroll em
outubro, não considera conclusivos de pedofilia os indícios que encontrou em alguns depoimentos,
como o da irmã de Alice, Lorina,
que comenta com a musa do livro
homônimo o fato de Carroll a colocar sempre sobre as pernas.
"O sr. D. (Dodgson) costumava sentá-la sobre os joelhos", diz
Lorina. O próprio Cohen alude ao
costume de Carroll de pôr as favoritas no colo, de beijá-las e de convidá-las para jantares "tête-à-tête", sem a presença de familiares,
além de ter fotografado muitas delas nuas.
"É óbvio que tocá-las intimamente não seria normal, mas colocá-las no colo era comum na época vitoriana. Sigmund Freud ainda
não havia aparecido", diz o biógrafo. Mas reconhece que Carroll
"certamente" utilizava a imaginação como contador de histórias
para conquistar a amizade das
crianças.
Para Cohen, também era resultado da época o caráter reservado
do escritor, que escondia os sentimentos todo o tempo e expiava a
culpa com orações fervorosas.
Não acha, porém, que foi essa
atração pelas meninas que teria levado Charles Dodgson a se tornar
escritor. "Ele era um escritor e,
antes de tudo, também foi um matemático importante."
As cartas escritas por Carroll às
meninas também se referem a beijos trocados, assumindo, muitas
vezes, um linguajar estranho para
um homem já de idade avançada.
Revela, no entanto, enorme criatividade, inventando cartas para ler
em frente ao espelho, escritas com
letra trêmula ou para serem lidas
de trás para diante.
"Não acho que suas cartas fossem infantis", diz Cohen. "Elas
procuravam falar a linguagem das
crianças, mas eram, pelo contrário, muito inteligentes."
(CM)
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