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LIVRO/LANÇAMENTO
Após reproduzir arquétipos em seu romance mais longo, Patrícia Melo ganha telas em três filmes
Autora usa pesquisa
para "inventar realidade possível"
DA REDAÇÃO
Patrícia Melo, cujo maior sucesso literário, "O Matador", se calcou em muito material real, incluindo entrevistas com assassinos profissionais, surpreende
quem pensa que a pesquisa é a
parte mais importante da composição de seus romances.
"Agora, minha preocupação foi
fazer com que esse mundo, esse
morro do Berimbau, com seus
personagens, parecesse verossímil, possível. Sou ficcionista. Se ficar enfurnada na pesquisa, vou
fazer um trabalho documental."
Patrícia lembra que, justamente
em "O Matador", sofreu com isso.
"Era uma angústia, porque eu estava tão ligada naquela pesquisa
que achava: "Na realidade não é
assim...". Mas isso também não é a
realidade! A experiência dos outros livros me deu descolamento."
"Mais importante do que a pesquisa é a imaginação. Um escritor
contemporâneo fala do que está à
sua volta. Isso cria no leitor a idéia
de realidade próxima, ele acha
que aquilo é um retrato, mas não
é: é uma realidade inventada."
Compôs "Inferno" com personagens que são quase ícones do
que se imagina ser o morro e sua
relação com o mundo de baixo:
Alzira, a mãe, doméstica, honesta
e humilhada pela patroa branca,
que faz ginástica e tem um amante; a irmã, Carolaine, adolescente
meio perdida; a avó, Cândida, ligada à tradição do samba.
"De um modo geral, o percurso
de um traficante de drogas é muito previsível. E há, dentro desse
universo, uma decadência de valores morais. As dificuldades que
a vida impõe levam a situações
que passam a ser arquétipos."
Além de ser seu livro mais extenso -tem 368 páginas-, "Inferno" introduz uma novidade: é
seu primeiro livro narrado em
terceira pessoa. Ela já havia tentado abandonar o foco em primeira
pessoa nos romances anteriores.
"Tinha uma sensação de artificialidade, tanto no "Matador", como no "Elogio", que me incomodava. Nesse, não, foi a primeira
tentativa, nem cheguei a tentar
em primeira pessoa. É a primeira
vez que tenho um protagonista e
uma gama de personagens, que
levam o livro também. Eles são
importantes, porque optei por
uma narrativa onisciente, mas o
tempo todo ela ecoa as vozes dos
personagens. Estilisticamente falando, esses foram os desafios."
Falando de método, Patrícia diz
que não há "receita de bolo".
"Uma coisa curiosa dessa profissão é que os processos de criação nunca se repetem. Você vai
mudando sua maneira de trabalhar. Esse hábito de me apoiar
muito na imagem não é mais tão
fundamental na minha literatura", explica, aludindo à carreira de
roteirista, iniciada mesmo antes
da de escritora.
Ela fez recentemente os roteiros
de "Bufo & Spallanzani", baseado
no livro de seu mestre confesso,
Rubem Fonseca, e "O Xangô de
Baker Street", a partir do best seller de Jô Soares. Como escritora,
é difícil adaptar obras literárias?
"Eu gosto bastante de fazer
adaptação, e esses projetos me deram prazer porque tive total liberdade. Acho que a grande dificuldade da adaptação é o excessivo
cuidado com o livro. O roteirista
tem de ser fiel ao espírito, mas não
pode ficar amarrado; se a adaptação é a reprodução do livro, geralmente fica aquém dele."
E ela também entra no cinema
pelo outro lado: "O Matador" acaba de ser adaptado, exatamente
por Rubem Fonseca, para virar o
filme "O Homem do Ano", pelas
mãos do filho do autor, José Henrique Fonseca, no começo de
2001. Como escritora, é difícil ter
uma obra adaptada?
"Geralmente o autor tem ciúmes do livro. Posso falar porque
sou autora. Mas consegui não ter,
inclusive porque tive essa honra."
"Inferno" e roteiros concluídos,
ela se dedica a Heidegger e Aristóteles -no Rio, voltou à faculdade,
para estudar filosofia- e planeja,
além de um texto para teatro para
a irmã, Renata, montar, um novo
roteiro, ainda não definido, para o
próximo projeto de Andrucha
Waddington ("Eu Tu Eles"). Enquanto isso, torce para que o novo
livro siga a trilha dos dois anteriores, publicados com sucesso de
público e crítica no exterior.
(FRANCESCA ANGIOLILLO)
A OBRA
Livro: Inferno
Autora: Patrícia Melo
Editora: Cia. das Letras
Quanto: R$ 29 (368 págs.)
Lançamento: dia 25, às 19h, na
Fnac (tel. 0/xx/11/3097-0022)
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