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Versos levaram escritor à prisão
DA REPORTAGEM LOCAL
Os versos de "Tem Gente com
Fome", do primeiro livro de Solano Trindade, "Poemas de uma
Vida Simples", publicado em
1944, levaram o poeta para a cadeia, por ordem expressa do presidente Eurico Gaspar Dutra.
Um ano depois da prisão, o escritor fundou, com o amigo Abdias do Nascimento, o Teatro Experimental do Negro (TEN), no
Rio de Janeiro. A peça de estréia,
"Imperador Jones", provocou revolta na classe média conservadora e rendeu muitos protestos.
Em editorial, o jornal carioca "O
Globo" disse que o espetáculo era
obra de "um grupo palmarista
(referência ao Quilombo dos Palmares) tentando criar problema
artificial no país".
Engajamento
Durante toda a sua trajetória,
Solano Trindade enfrentou contratempos dessa natureza. Tanto
com os poemas e encenações como no engajamento político para
combater o racismo.
"Se hoje há resistência e teimosia em acabar com o racismo,
imaginem o que significava fazer
teatro com esse teor há 60 anos
atrás", afirma a professora Inaldete Andrade, do Recife, que atua
em comunidades de remanescentes de escravos em Pernambuco e
prepara uma nova antologia do
autor.
Segundo Darcy Ribeiro, que tratou da militância do poeta no seu
livro "Aos Trancos e Barrancos
-°Como o Brasil Deu no que Deu",
de 1985, o grupo TEN funcionou
como um núcleo ativo de conscientização dos negros, para assumirem orgulhosamente sua identidade e lutarem contra a discriminação.
Solano Trindade, que nasceu no
Recife em 1908, filho do sapateiro
Manuel Abílio e da quituteira
Emerenciana, atuou, além do Rio,
nos Estados de Minas, Rio Grande
do Sul e São Paulo. Fundou, nos
anos 60, na cidade do Embu, na
região metropolitana, o núcleo
cultural que contribuiu para o
atual batismo de Embu das Artes.
Raquel, filha do poeta, fundou e
mantém até hoje, naquele município, um grupo de teatro popular
com o nome do pai.
(XS)
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