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Porto Alegre e Buenos Aires sincronizam festivais com dança, teatro
e música
Sul ao sul
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
As artes cênicas dão uma guinada para o sul do país, em Porto
Alegre, e mais para "el sur" do
continente, em Buenos Aires: as
capitais do Rio Grande do Sul e da
Argentina abriram seus principais eventos nessa área.
Lançado em 94, o Porto Alegre
em Cena é anual, voltado para o
teatro e a dança do Brasil e do exterior. Chega à 10ª edição.
Realizado desde 97, o Festival
Internacional de Buenos Aires é
bienal e conjuga teatro, dança,
música e artes plásticas. Está em
sua 4ª edição.
A sincronia -ambos vão até o
dia 28- estimula intercâmbio
que já foi mais intenso. Em 2001,
por exemplo, os dois festivais viram um concerto do compositor
bósnio Goran Bregovic e um
"Hamlet" dirigido pelo lituano Eimuntas Nekrosius.
Neste ano, a crise econômica
restringe a troca. Há apenas um
espetáculo comum às duas programações, "Ni Sombra de lo que
Fuimos", da companhia espanhola La Zaranda.
Curiosamente, na edição em
que Porto Alegre foca mais a produção nacional e não traz nenhum grupo sul-americano -até
então uma regra, dada a vizinhança com o Cone Sul-, Buenos Aires tem atrações da Colômbia e
sobretudo do Brasil.
A companhia carioca de dança
Lia Rodrigues apresenta "Formas
Breves". O compositor Arrigo
Barnabé dirige sua ópera "O Homem dos Crocodilos".
Mas é na música, a MPB, que a
brasilidade reverbera de vez em
Buenos Aires. O segmento "Noches Brasileñas" inclui apresentações de nomes como Tom Zé, Elza Soares, Cida Moreira e o trio
José Miguel Wisnik, Ná Ozetti e
Luiz Tatit.
"A idéia foi levar alguns artistas
que representassem nossa diversidade musical. Não queríamos os
artistas que regularmente se apresentam na Argentina. Elza Soares,
por exemplo, só havia estado em
Buenos Aires na década de 60. O
critério foi mais ou menos este:
qualidade e ineditismo", diz Luciano Alabarse, 49, curador do
projeto ao lado do produtor argentino Carlos Villalba. Alabarse
coordenou o Porto Alegre em Cena até 2001.
Com 14 shows, "Noches Brasileñas" custa R$ 380 mil, metade patrocinada pela Petrobras.
A diretora do Festival Internacional de Buenos Aires (Fiba),
Graciela Casabé, vê com bons
olhos o fato de a parceria com
Porto Alegre ser amparada, também, pela iniciativa privada, o que
é raro em seu país.
O 4º Fiba custa cerca de US$ 700
mil (R$ 2 milhões). Mais da metade é bancada pelo governo de
Buenos Aires. O restante vem de
apoio de organismos internacionais como o Instituto Goethe e o
British Council.
"Se estamos saindo de um momento de crise, ele é também culturalmente excelente. A produção
e o público cresceram nos últimos
meses", afirma Casabé, 44.
Não é por acaso que o festival dá
espaço para o teatro político com
um projeto especial, "Yo Manifiesto". São três monólogos de
dramaturgos contemporâneos
que refletem a realidade argentina
sob as perspectivas da economia,
da moral e da cultura.
Coordenador do Porto Alegre
em Cena a partir deste ano, o pesquisador teatral Ramiro Silveira,
31, diz que o intercâmbio com
Buenos Aires não foi maior por
conta da agenda dos grupos.
"Não é uma questão de distância, ao contrário, trazer um espetáculo de Buenos Aires implica
praticamente as mesmas dificuldades de trazer um do Rio", diz.
O 10º Porto Alegre em Cena é
orçado em R$ 1,3 milhão. São 25
montagens nacionais e seis estrangeiras, entre dança e teatro.
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