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São Paulo, segunda-feira, 15 de setembro de 2003

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Porto Alegre e Buenos Aires sincronizam festivais com dança, teatro e música

Sul ao sul

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

As artes cênicas dão uma guinada para o sul do país, em Porto Alegre, e mais para "el sur" do continente, em Buenos Aires: as capitais do Rio Grande do Sul e da Argentina abriram seus principais eventos nessa área.
Lançado em 94, o Porto Alegre em Cena é anual, voltado para o teatro e a dança do Brasil e do exterior. Chega à 10ª edição.
Realizado desde 97, o Festival Internacional de Buenos Aires é bienal e conjuga teatro, dança, música e artes plásticas. Está em sua 4ª edição.
A sincronia -ambos vão até o dia 28- estimula intercâmbio que já foi mais intenso. Em 2001, por exemplo, os dois festivais viram um concerto do compositor bósnio Goran Bregovic e um "Hamlet" dirigido pelo lituano Eimuntas Nekrosius.
Neste ano, a crise econômica restringe a troca. Há apenas um espetáculo comum às duas programações, "Ni Sombra de lo que Fuimos", da companhia espanhola La Zaranda.
Curiosamente, na edição em que Porto Alegre foca mais a produção nacional e não traz nenhum grupo sul-americano -até então uma regra, dada a vizinhança com o Cone Sul-, Buenos Aires tem atrações da Colômbia e sobretudo do Brasil.
A companhia carioca de dança Lia Rodrigues apresenta "Formas Breves". O compositor Arrigo Barnabé dirige sua ópera "O Homem dos Crocodilos".
Mas é na música, a MPB, que a brasilidade reverbera de vez em Buenos Aires. O segmento "Noches Brasileñas" inclui apresentações de nomes como Tom Zé, Elza Soares, Cida Moreira e o trio José Miguel Wisnik, Ná Ozetti e Luiz Tatit.
"A idéia foi levar alguns artistas que representassem nossa diversidade musical. Não queríamos os artistas que regularmente se apresentam na Argentina. Elza Soares, por exemplo, só havia estado em Buenos Aires na década de 60. O critério foi mais ou menos este: qualidade e ineditismo", diz Luciano Alabarse, 49, curador do projeto ao lado do produtor argentino Carlos Villalba. Alabarse coordenou o Porto Alegre em Cena até 2001.
Com 14 shows, "Noches Brasileñas" custa R$ 380 mil, metade patrocinada pela Petrobras.
A diretora do Festival Internacional de Buenos Aires (Fiba), Graciela Casabé, vê com bons olhos o fato de a parceria com Porto Alegre ser amparada, também, pela iniciativa privada, o que é raro em seu país.
O 4º Fiba custa cerca de US$ 700 mil (R$ 2 milhões). Mais da metade é bancada pelo governo de Buenos Aires. O restante vem de apoio de organismos internacionais como o Instituto Goethe e o British Council.
"Se estamos saindo de um momento de crise, ele é também culturalmente excelente. A produção e o público cresceram nos últimos meses", afirma Casabé, 44.
Não é por acaso que o festival dá espaço para o teatro político com um projeto especial, "Yo Manifiesto". São três monólogos de dramaturgos contemporâneos que refletem a realidade argentina sob as perspectivas da economia, da moral e da cultura.
Coordenador do Porto Alegre em Cena a partir deste ano, o pesquisador teatral Ramiro Silveira, 31, diz que o intercâmbio com Buenos Aires não foi maior por conta da agenda dos grupos.
"Não é uma questão de distância, ao contrário, trazer um espetáculo de Buenos Aires implica praticamente as mesmas dificuldades de trazer um do Rio", diz.
O 10º Porto Alegre em Cena é orçado em R$ 1,3 milhão. São 25 montagens nacionais e seis estrangeiras, entre dança e teatro.



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