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Criado há 25 anos, grupo espanhol se apresenta em Porto Alegre e em Buenos Aires com "Ni Sombra de lo que Fuimos"
Companhia La Zaranda busca "comunhão com o absoluto"
DA REPORTAGEM LOCAL
Romper fórmulas. Explorar territórios desconhecidos. Evitar falsas vanguardas. Em 25 anos de
história, a companhia espanhola
La Zaranda - Teatro Inestable de
Andalucia la Baja não abdicou
dessas premissas.
Quem assistiu a "Cuando la Vida Eterna se Acabe", espetáculo
que passou por festivais de Londrina e Belo Horizonte, dois anos
atrás, tem noção da poesia que os
atores alcançam em cena.
A La Zaranda (algo como A Peneira) volta ao país para apresentar "Ni Sombra de lo que Fuimos"
(2002), texto de Eusebio Calonge
e direção de Francisco Sánchez, o
Paco de la Zaranda. Faria sua última apresentação ontem em Porto
Alegre e segue depois para Buenos Aires.
Na peça, um velho carrossel é o
principal elemento da cenografia.
Resta-lhe apenas um cavalo de
madeira. Gira lentamente; range
por causa da ferrugem. Entre
sombras e vazios, estão o dono e
seus quatro empregados, como
num carrossel de esperanças e
fracassos. Leia, a seguir, entrevista
com o autor.
(VALMIR SANTOS)
Folha - Como surgiu a companhia?
Eusebio Calonge - O grupo foi
criado em 78, no período de transição para a democracia espanhola, quando vários atores se reagruparam, vindos de trabalhos independentes. Por sobrevivência, tivemos experiências distintas com
o público, não só fazendo teatro
de rua, mas também infantil, cabaré. Os únicos remanescentes
dessa época são os atores Francisco Sánchez e Gaspar Campuzano.
Folha - A companhia parece conciliar plasticidade cênica, recriação
dos objetos e dramaturgia coletiva, por exemplo, sem que o trabalho de ator fique em segundo plano. É isso?
Calonge - As obras são coletivas
enquanto levadas à cena, mas
seus textos não o são. É importante, sem dúvida, que os textos confluam com as ações. Por isso, o
dramaturgo é um elemento presente a cada etapa do processo.
Folha - "Ni Sombra..." parece
bastante crítico com vazios e incertezas do homem contemporâneo.
O carrossel seria uma metáfora de
que estamos sempre condenados a
repetir os mesmos erros? As peças
passam sempre por esse desalento? Há luz no final do túnel?
Calonge - Acreditamos sempre
que, apesar da obscuridade que
pode dominar a nossa obra, sua
mensagem de verticalidade, de
comunhão com o absoluto, está
sempre presente. Pode ser que a
visão passageira do trabalho seja
obscura ou pessimista, mas não é
a visão espiritual que queremos
transmitir do homem. Os desfechos das nossas peças são apenas
metafísicos. Não buscamos respostas no que é passageiro, mas
no eterno.
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