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São Paulo, segunda-feira, 15 de setembro de 2003

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Criado há 25 anos, grupo espanhol se apresenta em Porto Alegre e em Buenos Aires com "Ni Sombra de lo que Fuimos"

Companhia La Zaranda busca "comunhão com o absoluto"

DA REPORTAGEM LOCAL

Romper fórmulas. Explorar territórios desconhecidos. Evitar falsas vanguardas. Em 25 anos de história, a companhia espanhola La Zaranda - Teatro Inestable de Andalucia la Baja não abdicou dessas premissas.
Quem assistiu a "Cuando la Vida Eterna se Acabe", espetáculo que passou por festivais de Londrina e Belo Horizonte, dois anos atrás, tem noção da poesia que os atores alcançam em cena.
A La Zaranda (algo como A Peneira) volta ao país para apresentar "Ni Sombra de lo que Fuimos" (2002), texto de Eusebio Calonge e direção de Francisco Sánchez, o Paco de la Zaranda. Faria sua última apresentação ontem em Porto Alegre e segue depois para Buenos Aires.
Na peça, um velho carrossel é o principal elemento da cenografia. Resta-lhe apenas um cavalo de madeira. Gira lentamente; range por causa da ferrugem. Entre sombras e vazios, estão o dono e seus quatro empregados, como num carrossel de esperanças e fracassos. Leia, a seguir, entrevista com o autor. (VALMIR SANTOS)
 
Folha - Como surgiu a companhia?
Eusebio Calonge -
O grupo foi criado em 78, no período de transição para a democracia espanhola, quando vários atores se reagruparam, vindos de trabalhos independentes. Por sobrevivência, tivemos experiências distintas com o público, não só fazendo teatro de rua, mas também infantil, cabaré. Os únicos remanescentes dessa época são os atores Francisco Sánchez e Gaspar Campuzano.

Folha - A companhia parece conciliar plasticidade cênica, recriação dos objetos e dramaturgia coletiva, por exemplo, sem que o trabalho de ator fique em segundo plano. É isso?
Calonge -
As obras são coletivas enquanto levadas à cena, mas seus textos não o são. É importante, sem dúvida, que os textos confluam com as ações. Por isso, o dramaturgo é um elemento presente a cada etapa do processo.

Folha - "Ni Sombra..." parece bastante crítico com vazios e incertezas do homem contemporâneo. O carrossel seria uma metáfora de que estamos sempre condenados a repetir os mesmos erros? As peças passam sempre por esse desalento? Há luz no final do túnel?
Calonge -
Acreditamos sempre que, apesar da obscuridade que pode dominar a nossa obra, sua mensagem de verticalidade, de comunhão com o absoluto, está sempre presente. Pode ser que a visão passageira do trabalho seja obscura ou pessimista, mas não é a visão espiritual que queremos transmitir do homem. Os desfechos das nossas peças são apenas metafísicos. Não buscamos respostas no que é passageiro, mas no eterno.



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