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ARTES PLÁSTICAS
Brasileiro abre mostra no maior complexo de arte de Paris e coloca imagem de seu avô na entrada do local
Marepe transforma Beaubourg em Bubu
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
Desde ontem, o Centro Pompidou, maior complexo de arte em
Paris, também conhecido como
Beaubourg, ganhou uma nova alcunha: Bubu. Ao lado da foto de
George Pompidou, presidente
francês que criou a instituição e
principal imagem na entrada do
centro, está agora uma foto do
avô de Marepe, o Bubu, com as
mesmas linhas do artista cinético
Victor Vasarely, que criou o retrato de Pompidou.
A operação é parte da mostra de
Marepe, que integra o calendário
do Ano do Brasil na França, e demandou dupla negociação: com a
viúva do ex-presidente, Claude
Pompidou, que foi consultada para aprovar a alteração, além da família de Vasarely, que autorizou a
cópia do estilo do artista. Bubu
(ou Tiburtino Peixoto) representa
para Marepe uma forma de fazer
artístico: "Ele era um carpinteiro
que influenciou toda uma geração
e deixou vários discípulos".
Não deixa de ser um mérito para um país tão cheio de regras de
refinamento que Marepe tenha
conseguido igualar um presidente
a um carpinteiro. Sua ação artística revela-se transformadora.
"Desde que vi "Telhado", obra
do Marepe exposta no Museu de
Arte Moderna de São Paulo, decidi que deveríamos expor seu trabalho aqui ", diz Alfred Pacquement, diretor do Museu de Arte
Moderna, sediado no Bubu, ou
melhor, Beaubourg.
Em dois anos, a instituição prevê a realização de uma exposição
mais abrangente de arte contemporânea brasileira, a partir de novas aquisições, como ocorreu há
pouco com obras de Leonilson.
Com quatro trabalhos de grande dimensão, Marepe ocupa todo
o hall de entrada do centro cultural. "São obras criadas a partir de
minhas memórias de infância, como a convivência com meu avô.
Tudo começou quando soube
que a mostra integrava o Ano do
Brasil na França. A imagem que
me veio foi de um desfile de 7 de
Setembro, que precisei participar
vestido de periquito, quando eu
tinha sete anos", contou anteontem Marepe à Folha, durante a
montagem da mostra.
Não deixa de ser irônico que,
numa festividade marcada por
cunho patriótico, Marepe se apresente de forma múltipla -são
nove fotos do artista quando
criança em tamanho natural que
se movimentam lentamente-,
vestido de periquito, um estereótipo bem brasileiro. "Eu não pensei em ironia, mas algo que representasse a idéia de nacionalidade,
e, para mim, desfilar de periquito
foi um desconforto com as práticas oficiais", disse ele.
À frente dos "periquitos", está
instalada uma imensa tela de TV
com acrílico colorido, como se fazia para tornar os aparelhos preto-e-branco, nos anos 70, em
equipamento em cores, outra memória infantil de Marepe. "Era
quando o Brasil buscava ser mais
moderno com essas formas improvisadas, como o acetato na
frente da TV."
Ainda da infância, Marepe traz
um andador, desses que as crianças utilizavam para aprender a
andar, hoje condenados por pediatras. Seu andador, entretanto,
tem quatro metros de altura.
Finalmente, Marepe apresenta
ainda uma performance, realizada ontem e ainda mais quatro vezes durante a mostra, que segue
até janeiro de 2006, baseadas em
gincanas de TV, quando adolescentes precisavam encher a roupa
de bexigas e estourá-las.
Para o Bubu, o artista criou duas
roupas largas, uma vermelha e
outra azul, que podem acolher até
180 bexigas. Dois bailarinos participam da performance e explodem quando tentam se tocar. "É
uma maneira lúdica de tratar de
coisas simples, mas com resultados plásticos", disse Marepe.
De fato, a mostra toda utiliza
"coisas simples", mas que ganham novos significados. "É como pinçar memórias e dar valores
específicos a elas, salientar o que
tem de poesia nessas coisas, mas
de forma aberta. Não trato só de
minhas memórias, procuro abordar memórias coletivas."
Em Marepe, aliás, o processo é
sempre assim: ele nos transporta
para outras paragens pelo uso dos
objetos mais cotidianos e mais visíveis. A diferença é que ele extrai
desses sistemas banais um alto
grau de poesia, o que se busca ao
observar uma obra de arte.
O jornalista Fabio Cypriano viajou a
convite do Consulado da França em São Paulo e do Gabinete de Cultura
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