São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2005

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MUSICAL

Em espetáculo que estréia hoje em SP, Guga Stroeter e José Possi Neto visitam de Ary Barroso a Dorival Caymmi

"Baile Estelar" encerra trilogia com músicas brasileiras

Flávio Florido/Folha Imagem
Cena de "Baile Estelar", musical de Guga Stroeter e José Possi Neto que estréia hoje em São Paulo


JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL

Do encontro entre a tradição harmônica européia e a polirritmia africana, nasceu uma estirpe musical gestada em solo americano. Se sob o pretexto da geopolítica os governos afastam as pátrias, a linhagem musical aproxima o jazz, a salsa e o samba.
Tal concepção de parentesco levou o músico Guga Stroeter, 44, e o diretor José Possi Neto, 58, ao jazz de Duke Ellington ("Emoções Baratas", 88) e à salsa de Cuba ("Mucho Corazón", 92). A terceira perna da trilogia, dedicada à música brasileira, se fecha hoje com a estréia de "Baile Estelar" na Sala Sambatá.
Entre a última montagem e a atual, 13 anos se passaram. O período de pausa, segundo Stroeter, trouxe amadurecimento. "Existe uma coisa que é o tempo cronológico e uma outra que é o tempo de maturação das coisas. No final dos anos 80, havia uma grande vergonha nacional de ser brasileiro. A inflação era de 80% ao mês, a mídia só dava destaque aos grupos de rock ingleses e a música brasileira imitava a estrangeira. Essa terceira parte não foi feita até por receio. Senti que este era o momento", diz o diretor musical.

Anos 20, 30 e 40
O que selecionar do vasto repertório de música brasileira? Foi essa dúvida que, de início, amedrontou o diretor-geral José Possi Neto. "Era difícil focar. Vai fazer o quê? Música de protesto político, música elitista, popular, brega... O Guga chegou com a idéia de centrar na produção musical dos anos 20, 30 e 40, porque ali está o cerne, as raízes que influenciaram toda a MPB contemporânea."
Em uma hora e dez minutos, mais de 18 músicas com arranjos acústicos são interpretadas pela Orquestra Heartbreakers e por três jovens cantores. O espetáculo visita o repertório de Ary Barroso ("Aquarela do Brasil", "Quindins de Iaiá"), Dorival Caymmi ("João Valentão", "O que É que a Baiana Tem?"), Lamartine Babo ("No Rancho Fundo", parceria com Ary Barroso), Luiz Gonzaga ("Pau-de-Arara"), Billy Blanco ("Piston de Gafieira") e Villa-Lobos ("Choro nš 7"). Há ainda sambas-de-roda e cantos de candomblé, como "Oxaguian".
"Teríamos que ser redutores de alguma maneira", conta Stroeter. "Essa fase, pré-bossa nova, compreende uma época de formação da cultura brasileira. O começo do século 20 é o período de urbanização e do surgimento da cultura de massa, com a indústria fonográfica e a radiofonia."
Fora o critério imagético e dramático que pautou a seleção do repertório, a questão da origem negra da música brasileira é determinante em "Baile Estelar".
"A música africana se confunde muito no cotidiano com a função ritual. É uma cultura que não tem uma distinção tão nítida entre a vida religiosa, a vida artística e a vida cotidiana", diz Stroeter.

Coreografia
Com dez bailarinos em cena -cada um com um tipo de formação-, o desafio do coreógrafo Jorge Garcia, 33, foi fugir do estereótipo do regional para chegar à expressão do contemporâneo.
"É uma música que parece óbvia de coreografar, é fácil cair no clichê", diz Garcia, que é do Balé da Cidade. "Tem um samba-de-roda, onde usamos mais a coisa regional, mas o trabalho é muito voltado à dança de salão."
Ao comentar a proposta coreográfica de "Baile Estelar", Possi refuta possíveis vínculos com o folclórico: "Tem uma dança bem contemporânea. Tem a ginga, porque está na musicalidade, mas [as coreografias] são completamente nonsense. O Jorge tem um olhar brasileiro, mas urbano e internacional ao mesmo tempo. Não queríamos algo regionalista."

Baile Estelar
Quando:
qui., sex. e sáb., às 21h, dom., às 20h; de hoje a 20/11
Onde: Sala Sambatá (r. Fidalga, 521, Vila Madalena, SP, tel. 0/xx/11/3814-2850)
Quanto: R$ 40 (qui., sex. e dom.) e R$ 50 (sáb.)


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