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NOITE
Berlin, Exquisito! e Casa Belfiori apostam no rock alternativo e em uma clientela mais adulta; Matrix festeja dez anos
Geração de bares amadurece com público
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Diz a tradição que uma nova geração chega para cutucar a anterior. E pregam os educadores que
todo novo rebento deve aperfeiçoar a lição dos pais. Pois o rock,
esse gênero tão rebelde, mostra-se
filho exemplar em São Paulo. Ao
menos na nova geografia e filosofia de gerenciamento dos bares
dedicados ao segmento.
Na mesma semana em que o
clássico Matrix completa dez anos
de existência, o classudo Berlin
chega ao seu primeiro mês de funcionamento. Este último consolida e coroa a proposta que une
música alternativa, boas bebidas e
cardápio variado -e, muitas vezes, surpreendente- de bares como o Exquisito! e a Casa Belfiori.
Agora, não há uma única região
que agrupe esses espaços, como já
foi a Vila Madalena no passado
-apesar de dois deles ficarem na
Barra Funda. Ao contrário, os donos desprezam vários lugares-comuns da administração.
"Queria abrir um bar no meio
do nada. O cara vem para cá porque realmente quer conhecer.
Aqui não tem pára-quedista", diz
o dono do Berlin Marcelo Schenberg, 29, que tem como vizinhos
longas ruas desertas e indústrias.
Em pouco tempo de funcionamento, já virou o novo hit da cidade, com noites disputadíssimas
que, no entanto, ainda não atiçaram uma possível sanha mercantilista dos proprietários -eles
abrem apenas nas terças, quintas
e sextas-feiras, além de planos de
funcionar também como estúdio
de gravação para bandas.
A gênese lembra a história de
bandas de rock. Inicialmente,
Schenberg fazia parte de um trio
de novatos que sacaram suas economias para montar a casa noturna FunHouse, na esteira do boom
do novo rock de 2001. Pouco depois, Schenberg saiu da parceria.
Os remanescentes ainda montariam um outro bar, o Exquisito!
"Não tínhamos experiência nenhuma nem muito dinheiro para
investir quando começamos", diz
a sócia do Exquisito! Andrea Nathan, 31. Ao contrário dos adolescentes da FunHouse, que não gastam muito dinheiro além da entrada, o Exquisito! reúne uma
clientela na faixa dos 30 anos, interessada em bebericar, conversar
e provar o cardápio com pratos da
América do Sul. "Foi um risco
abrir na r. Bela Cintra, já que esse
público vai por inércia à Vila Madalena, no Filial etc."
O mesmo espírito guiou os donos da Casa Belfiori, bem-sucedido bar que completa dois anos de
funcionamento. "Pode até parecer antimarketing, mas não é.
Apenas queria estar fora do eixo e
selecionar melhor as pessoas que
vêm para cá", diz um dos sócios,
Diego, 30. "O aluguel [na Barra
Funda] era mais barato, e eu tinha
conhecimento zero sobre como
abrir um bar. Não rende maravilhas, mas se sustenta até hoje."
Em outra ponta da cidade e da
história, está o veterano Gigio, 45,
dono do Matrix, que comemora
seus dez anos hoje com a volta da
banda Sala Especial e discotecagem de João Gordo. "Na época, a
Vila Madalena era lugar de hippie.
De repente, começou a pipocar
um monte de bares. O Matrix foi o
primeiro que levou os alternativos para o bairro", diz Gigio. "Eu
praticamente morava no Matrix
quando era mais novo", diz o publicitário Alexandre Costa, 28,
que hoje vai ao Berlin. E o rock sobrevive porque se equilibra entre
a tradição e a renovação.
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