São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2005

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NOITE

Berlin, Exquisito! e Casa Belfiori apostam no rock alternativo e em uma clientela mais adulta; Matrix festeja dez anos

Geração de bares amadurece com público

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Diz a tradição que uma nova geração chega para cutucar a anterior. E pregam os educadores que todo novo rebento deve aperfeiçoar a lição dos pais. Pois o rock, esse gênero tão rebelde, mostra-se filho exemplar em São Paulo. Ao menos na nova geografia e filosofia de gerenciamento dos bares dedicados ao segmento.
Na mesma semana em que o clássico Matrix completa dez anos de existência, o classudo Berlin chega ao seu primeiro mês de funcionamento. Este último consolida e coroa a proposta que une música alternativa, boas bebidas e cardápio variado -e, muitas vezes, surpreendente- de bares como o Exquisito! e a Casa Belfiori.
Agora, não há uma única região que agrupe esses espaços, como já foi a Vila Madalena no passado -apesar de dois deles ficarem na Barra Funda. Ao contrário, os donos desprezam vários lugares-comuns da administração.
"Queria abrir um bar no meio do nada. O cara vem para cá porque realmente quer conhecer. Aqui não tem pára-quedista", diz o dono do Berlin Marcelo Schenberg, 29, que tem como vizinhos longas ruas desertas e indústrias. Em pouco tempo de funcionamento, já virou o novo hit da cidade, com noites disputadíssimas que, no entanto, ainda não atiçaram uma possível sanha mercantilista dos proprietários -eles abrem apenas nas terças, quintas e sextas-feiras, além de planos de funcionar também como estúdio de gravação para bandas.
A gênese lembra a história de bandas de rock. Inicialmente, Schenberg fazia parte de um trio de novatos que sacaram suas economias para montar a casa noturna FunHouse, na esteira do boom do novo rock de 2001. Pouco depois, Schenberg saiu da parceria. Os remanescentes ainda montariam um outro bar, o Exquisito!
"Não tínhamos experiência nenhuma nem muito dinheiro para investir quando começamos", diz a sócia do Exquisito! Andrea Nathan, 31. Ao contrário dos adolescentes da FunHouse, que não gastam muito dinheiro além da entrada, o Exquisito! reúne uma clientela na faixa dos 30 anos, interessada em bebericar, conversar e provar o cardápio com pratos da América do Sul. "Foi um risco abrir na r. Bela Cintra, já que esse público vai por inércia à Vila Madalena, no Filial etc."
O mesmo espírito guiou os donos da Casa Belfiori, bem-sucedido bar que completa dois anos de funcionamento. "Pode até parecer antimarketing, mas não é. Apenas queria estar fora do eixo e selecionar melhor as pessoas que vêm para cá", diz um dos sócios, Diego, 30. "O aluguel [na Barra Funda] era mais barato, e eu tinha conhecimento zero sobre como abrir um bar. Não rende maravilhas, mas se sustenta até hoje."
Em outra ponta da cidade e da história, está o veterano Gigio, 45, dono do Matrix, que comemora seus dez anos hoje com a volta da banda Sala Especial e discotecagem de João Gordo. "Na época, a Vila Madalena era lugar de hippie. De repente, começou a pipocar um monte de bares. O Matrix foi o primeiro que levou os alternativos para o bairro", diz Gigio. "Eu praticamente morava no Matrix quando era mais novo", diz o publicitário Alexandre Costa, 28, que hoje vai ao Berlin. E o rock sobrevive porque se equilibra entre a tradição e a renovação.


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