São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2005

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FILOSOFIA

Em seminário no Rio, professora Géraldine Muhlmann relembra relação do pensador com a imprensa

Francesa volta a Marx e à defesa da liberdade

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Autora de "Uma História Política do Jornalismo nos Séculos 19 e 20", importante livro lançado na França em 2004 (e ainda inédito no Brasil), a jornalista e professora de filosofia Géraldine Muhlmann falou, no seminário "O Silêncio dos Intelectuais", de século 19, especialmente Karl Marx (1818-1883), mas tocou em pontos sempre presentes.
"Marx atacava os burgueses franceses, porque muitos artigos da Declaração dos Direitos do Homem [de 1789] só seriam formais, não se traduzindo na realidade. Mas ele nunca dirá que a liberdade de expressão é também formal. Para Marx, ela é absoluta", ressaltou Muhlmann na Maison de France, no Rio. O filósofo alemão batia-se "contra a idéia de se calar o intelectual em nome de um dogmatismo militante". Em outra parte da palestra, ela ressaltou pensamentos de Marx válidos para qualquer tempo.
"[Para ele,] revoluções de palácio não fazem com que os pilares do edifício se modifiquem", disse, antes de recordar a expressão "mesquinharia de classe", de Marx. "Uma vez no poder, a classe ascendente repete as práticas daquela que derrotou. Deixa, até, de dar a palavra a outras classes no espaço público", explicou.
Muhlmann relembrou a relação de Marx com esse espaço público através de sua atividade na imprensa. "Ele foi jornalista durante toda a sua vida", afirmou. Como não poderia deixar de ser em se tratando de Marx, a história dessa relação é dialética.
No primeiro momento, no início da década de 1840, Marx era um entusiasta da imprensa, chegando a dirigir a "Gazeta Renana" ("Rheinische Zeitung").
"Ele estava ligado a idéias de Kant, que foi o primeiro a formular uma definição do espaço público, e via a imprensa como o "olho do espírito do povo". Para Marx, os intelectuais deviam se expor à crítica e entrar nos jornais. Ele criticava a tendência dos filósofos à solidão", disse ela.
Já entre 1843 e 1845, culminando com a publicação de "A Ideologia Alemã", Marx parece ter se desencantado com o poder da imprensa de transformar a sociedade. "Ele percebe que o espaço público também pode ser mentiroso", afirmou ela.
Em grosseiro resumo, os jornais não deixariam de estar a serviço da ideologia da chamada classe dominante. Ideologia, para Marx, tem o sentido negativo de refletir essa dominação.
Nos anos seguintes é que, para Muhlmann, o filósofo conseguiu encontrar um equilíbrio entre prática e teoria, concebendo "um intelectual que trabalhe para os excluídos do espaço público dentro do espaço público".
Para jornais como o "New York Daily Tribune", então, Marx escrevia de Londres artigos como um em que desmascarou os falsos argumentos para o Reino Unido não tomar posição na Guerra de Secessão (1861-1865) nos EUA. Os motivos seriam econômicos. Tais como os que provocaram a atual Guerra do Iraque.


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