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FILOSOFIA
Em seminário no Rio, professora Géraldine Muhlmann relembra relação do pensador com a imprensa
Francesa volta a Marx e à defesa da liberdade
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Autora de "Uma História Política do Jornalismo nos Séculos 19 e
20", importante livro lançado na
França em 2004 (e ainda inédito
no Brasil), a jornalista e professora de filosofia Géraldine Muhlmann falou, no seminário "O Silêncio dos Intelectuais", de século
19, especialmente Karl Marx
(1818-1883), mas tocou em pontos
sempre presentes.
"Marx atacava os burgueses
franceses, porque muitos artigos
da Declaração dos Direitos do
Homem [de 1789] só seriam formais, não se traduzindo na realidade. Mas ele nunca dirá que a liberdade de expressão é também
formal. Para Marx, ela é absoluta", ressaltou Muhlmann na Maison de France, no Rio. O filósofo
alemão batia-se "contra a idéia de
se calar o intelectual em nome de
um dogmatismo militante". Em
outra parte da palestra, ela ressaltou pensamentos de Marx válidos
para qualquer tempo.
"[Para ele,] revoluções de palácio não fazem com que os pilares
do edifício se modifiquem", disse,
antes de recordar a expressão
"mesquinharia de classe", de
Marx. "Uma vez no poder, a classe ascendente repete as práticas
daquela que derrotou. Deixa, até,
de dar a palavra a outras classes
no espaço público", explicou.
Muhlmann relembrou a relação
de Marx com esse espaço público
através de sua atividade na imprensa. "Ele foi jornalista durante
toda a sua vida", afirmou. Como
não poderia deixar de ser em se
tratando de Marx, a história dessa
relação é dialética.
No primeiro momento, no início da década de 1840, Marx era
um entusiasta da imprensa, chegando a dirigir a "Gazeta Renana"
("Rheinische Zeitung").
"Ele estava ligado a idéias de
Kant, que foi o primeiro a formular uma definição do espaço público, e via a imprensa como o
"olho do espírito do povo". Para
Marx, os intelectuais deviam se
expor à crítica e entrar nos jornais. Ele criticava a tendência dos
filósofos à solidão", disse ela.
Já entre 1843 e 1845, culminando com a publicação de "A Ideologia Alemã", Marx parece ter se
desencantado com o poder da imprensa de transformar a sociedade. "Ele percebe que o espaço público também pode ser mentiroso", afirmou ela.
Em grosseiro resumo, os jornais
não deixariam de estar a serviço
da ideologia da chamada classe
dominante. Ideologia, para Marx,
tem o sentido negativo de refletir
essa dominação.
Nos anos seguintes é que, para
Muhlmann, o filósofo conseguiu
encontrar um equilíbrio entre
prática e teoria, concebendo "um
intelectual que trabalhe para os
excluídos do espaço público dentro do espaço público".
Para jornais como o "New York
Daily Tribune", então, Marx escrevia de Londres artigos como
um em que desmascarou os falsos
argumentos para o Reino Unido
não tomar posição na Guerra de
Secessão (1861-1865) nos EUA. Os
motivos seriam econômicos. Tais
como os que provocaram a atual
Guerra do Iraque.
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