São Paulo, segunda-feira, 15 de setembro de 2008

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Crítica/CD/"Ao Vivo, em Porto"

Humor performático de "Clara Crocodilo" volta desconcertante e pode incomodar

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Das cores da Banda Sabor de Veneno para o preto-e-branco dos teclados, duas décadas depois: "Clara Crocodilo" continua funcionando?
Para quem já achava que funcionava naquela época, a resposta é sim. A sonoridade acústica dos pianos só faz ressaltar o que a música de Arrigo Barnabé tem de mais interessante -uma característica agressiva, que parece juntar várias tendências da música do século 20.
Muito já se falou da aplicação pessoal e "sui generis" que o compositor fez, na música popular, da técnica erudita de composição conhecida como dodecafonismo, desenvolvida na década de 1920 por Arnold Schönberg (1874-1951).
O dodecafonismo, de qualquer forma, é apenas um dos elementos da linguagem de Arrigo, na qual convivem o gestual áspero de Penderecki, a escrita pianística percussiva de Prokofiev e uma visão do show como "happening" que parece vir de Frank Zappa.
Esses elementos de performance provocam risos que oscilam entre o franco e o amarelo, na recriação que Braga e Barnabé fazem dos diálogos entre vocalista e "backing vocals" que havia nos momentos de maior teatralidade de "Clara Crocodilo". Na linha tênue entre o nonsense e o constrangimento, sem nunca deixar claro se é assumido ou involuntário, esse tipo de humor talvez seja o mais desconcertante no disco -e o que mais pode incomodar os ouvidos de hoje. (IFP)



ARRIGO BARNABÉ E PAULO BRAGA - AO VIVO, EM PORTO
Selo: Atração Fonográfica
Quanto: R$ 21,90
Avaliação: bom



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