São Paulo, terça, 15 de setembro de 1998

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Rei Lear


O ator Raul Cortez e o diretor Ron Daniels, que começaram juntos no teatro, se reencontram para montar a tragédia de Shakespeare, que deve estrear no segundo semestre de 99


NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

O diretor Ron Daniels e o ator Raul Cortez conversam como velhos amigos sobre "Rei Lear". Cortez o chama de Ronaldo, do nome de ator, quando Daniels estreou no palco: Ronaldo Daniel.
Estiveram juntos em "Boca de Ouro", em 60, e "Pequenos Burgueses", em 63. E "Rei Lear", de Shakespeare, tem muito dos dois amigos, quase 40 anos depois.
"É a história de dois pais", diz Daniels. "Um, Lear, com três filhas. O outro, Gloucester, com dois filhos. Raul e eu falamos sobre nossos filhos. Sobre como estamos sempre certos e errados, cometemos enganos e maravilhas."
Chamado pela filha de Raul, a atriz Lígia Cortez, para oficinas no teatro-escola Célia Helena, Daniels foi convidado pelo ator e aceitou dirigir a peça de Shakespeare. Não sem relutância.
Mas o diretor, que saiu do Brasil em 64 e desde então vem morando e trabalhando na Inglaterra e nos EUA, onde fez fama com encenações shakespearianas, acabou descobrindo que era o que devia fazer. É sua "dívida a pagar" com o país onde nasceu e cresceu.
"Eu falei com o (diretor Augusto) Boal, um guru na minha vida", diz Daniels. "Ele falou, "se você vem para cá, não tem alternativa: tem que fazer o Shakespeare com o Raul, neste momento dele'."
E Raul Cortez, neste momento da carreira, é exatamente o que, segundo Daniels, Shakespeare exige: "um ator com a coragem, o fôlego, a capacidade emocional, um ator no momento exato".
Daniels, que não atua desde os anos 60, rejeita a idéia de voltar ao palco, ele próprio. "Qualquer um pode ser diretor. Difícil é aquele instante em que o ator se transforma. Em que a palavra não é mais a palavra na página, mas a palavra vivenciada. Isso eu não posso fazer. Quem faz é o Raul."
A peça só estréia no segundo semestre de 99, mas o ator -e produtor- Raul Cortez diz já ter patrocinador encaminhado, bem como cenógrafo, J.C. Serroni, e uma nova tradução, de Barbara Heliodora. O elenco não está definido, mas, aos poucos, atores estão sendo convidados.
"Rei Lear", escrita em torno de 1606, é uma das grandes tragédias do autor inglês William Shakespeare (1564-1616), ao lado de "Hamlet", "Macbeth" e "Otelo".
A obra de Shakespeare narra o final da vida de Lear, rei de 80 anos, irascível, que aos poucos se despoja de tudo -do poder e, por fim, até da própria razão.



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