LÚCIO RIBEIRO
Editor-adjunto da Ilustrada

Se o ator cult Tim Roth queria fazer de sua estréia na direção um fato marcante, pode-se dizer que, a julgar por "Zona de Conflito", o moço arrombou com os dois pés a porta do novo ofício.
"The War Zone", título original dessa atração de hoje na Mostra de Cinema de São Paulo, é um denso, vigoroso, barra pesada drama sobre um pai brutamontes que mantém uma relação incestuosa com a bela filha adolescente.
O filme é construído na visão de um espinhento garoto de 16 anos, obcecado por sexo, cuja família (a do tal pai e a da tal irmã de 17 anos, mais a mãe grávida) abandona a agitação cosmopolita de Londres para viver isolada em um lugar bucólico qualquer no condado de Devon, logo se sabe por quê.
O "zona de conflito" do título se refere à delicada situação entre quatro paredes que se forma depois que o menino descobre os abusos do pai para cima da irmã.
Assunto de difícil trato, o que Tim Roth faz em seu début atrás das câmeras é botar o dedo nessa ferida exposta que é a esfacelada questão familiar britânica. Ou, como o próprio Roth fala, ele apenas quis fazer "um filme adulto sobre o que os adultos podem fazer com as crianças numa sociedade como a inglesa".
O exercício de ver "Zona de Conflito" pode ser simbolizado por algumas cenas do próprio filme, como as quando o garoto, perturbado com a família, fica à beira de um penhasco vendo ondas raivosas quebrarem violentamente nas pedras abaixo de seus pés, em dias sempre cinzentos.
Uma coisa é certa: depois de "Zona de Conflito", Tim Roth não vai ser mais lembrado pelo papel de palhação nos filmes de Quentin Tarantino.

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