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TEATRO/CRÍTICA
"Rainha" encena com correção um dos textos da década
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
É uma boa montagem, que
corre com regularidade em humor e tensão. Está lá o texto exato, de amplo domínio da "carpintaria", do jovem autor inglês,
de família irlandesa, Martin
McDonagh.
Walderez de Barros, como
Mag, a mãe asfixiante que seria
a representação da própria Irlanda, onde se passa a peça, está
precisa no tempo de comédia e
um pouco abusada nos saltos de
drama. Mas é a atuação que carimba o espetáculo.
Xuxa Lopes, como a filha,
Maureen, presa à mãe e a si
mesma, ela que depois toma o
lugar de Mag como alegoria da
Irlanda, está mais natural, mais
contida em gestos e voz. Não se
percebe um deslize maior em
sua interpretação.
Não é exuberante, mas não é
isso o que o papel pede. A atriz
aceita e domina seu personagem como ninguém mais.
Quem não tem domínio sobre
seu papel, a não ser em passagens, é Chico Diaz, que faz Pato
Dooley, amante e maior ou única esperança de casamento de
Maureen. Diaz confunde a rudeza de Pato com relutância no
amor por Maureen -e muitas
cenas se perdem.
O mesmo vale, em medida até
maior, para Marcelo Médici,
que faz Ray Dooley. Desbocado
e "junkie", Ray odeia a Irlanda,
odeia Maureen e Mag. E diz que
odeia, que não suporta ficar ali.
Que a casa fede.
Seus diálogos com Mag, que
tampouco o entende, são das
melhores coisas escritas para
teatro em anos. Mas o mais que
o ator atinge é a superfície, com
o choque do palavrão, das ofensas, de Ray. Faz rir, mas como
faria rir uma piada.
E assim "A Rainha da Beleza
de Leenane" chega ao Brasil, afinal, com competência, com humor, na evidente opção de comédia leve da encenação, mas
muito aquém do que a peça pode alcançar.
As adaptações -o abrasileiramento- do texto não o ridicularizam, mas também nada
acrescentam.
A cenografia, apinhada e com
sinais de decoração, lembra a
montagem irlandesa original,
mas deixa de lado um elemento
essencial, o crucifixo -e, portanto, o catolicismo tão robusto
no texto, como tudo mais que é
irlandês de caricatura.
A trilha da montagem, por outro lado, podia economizar um
pouco em U2.
Avaliação:
Peça: A Rainha da Beleza de Leenane
Direção: Carla Camurati
Quando: sex., às 21h; sáb., às 19h e
21h30; dom., às 19h
Onde: Teatro Alfa (r. Bento de
Andrade Filho, 722, Santo Amaro,
região sul, tel. 0/xx/11/5693-4000)
Quanto: R$ 30 e R$ 35
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