São Paulo, Sexta-feira, 15 de Outubro de 1999
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TEATRO/CRÍTICA
"Rainha" encena com correção um dos textos da década

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

É uma boa montagem, que corre com regularidade em humor e tensão. Está lá o texto exato, de amplo domínio da "carpintaria", do jovem autor inglês, de família irlandesa, Martin McDonagh.
Walderez de Barros, como Mag, a mãe asfixiante que seria a representação da própria Irlanda, onde se passa a peça, está precisa no tempo de comédia e um pouco abusada nos saltos de drama. Mas é a atuação que carimba o espetáculo.
Xuxa Lopes, como a filha, Maureen, presa à mãe e a si mesma, ela que depois toma o lugar de Mag como alegoria da Irlanda, está mais natural, mais contida em gestos e voz. Não se percebe um deslize maior em sua interpretação.
Não é exuberante, mas não é isso o que o papel pede. A atriz aceita e domina seu personagem como ninguém mais.
Quem não tem domínio sobre seu papel, a não ser em passagens, é Chico Diaz, que faz Pato Dooley, amante e maior ou única esperança de casamento de Maureen. Diaz confunde a rudeza de Pato com relutância no amor por Maureen -e muitas cenas se perdem.
O mesmo vale, em medida até maior, para Marcelo Médici, que faz Ray Dooley. Desbocado e "junkie", Ray odeia a Irlanda, odeia Maureen e Mag. E diz que odeia, que não suporta ficar ali. Que a casa fede.
Seus diálogos com Mag, que tampouco o entende, são das melhores coisas escritas para teatro em anos. Mas o mais que o ator atinge é a superfície, com o choque do palavrão, das ofensas, de Ray. Faz rir, mas como faria rir uma piada.
E assim "A Rainha da Beleza de Leenane" chega ao Brasil, afinal, com competência, com humor, na evidente opção de comédia leve da encenação, mas muito aquém do que a peça pode alcançar.
As adaptações -o abrasileiramento- do texto não o ridicularizam, mas também nada acrescentam.
A cenografia, apinhada e com sinais de decoração, lembra a montagem irlandesa original, mas deixa de lado um elemento essencial, o crucifixo -e, portanto, o catolicismo tão robusto no texto, como tudo mais que é irlandês de caricatura.
A trilha da montagem, por outro lado, podia economizar um pouco em U2.


Avaliação:    


Peça: A Rainha da Beleza de Leenane Direção: Carla Camurati Quando: sex., às 21h; sáb., às 19h e 21h30; dom., às 19h Onde: Teatro Alfa (r. Bento de Andrade Filho, 722, Santo Amaro, região sul, tel. 0/xx/11/5693-4000) Quanto: R$ 30 e R$ 35

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