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TEATRO
O diretor deve estrear em janeiro do próximo ano "Scapino", do autor francês, em que presta homenagem ao comediante italiano Totó
Cacá Rosset prepara Molière italianado
Lili Martins/Folha Imagem
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No ensaio da peça, o diretor e ator Cacá Rosset posa junto a Claudio Lopomo, o falso Totó |
ANA PAULA RAGAZZI
da Redação
Dois malucos andam à solta pelas ruas de São Paulo. No passado,
apareciam vestidos de caça-fantasmas e irmãos Metralha e foram
vistos pegando no pé dos políticos da cidade.
Agora lutam por uma nova causa: o diretor Cacá Rosset e Wagner Sugamele, coordenador de
elenco do Ornitorrinco, querem
levar adiante a produção da mais
nova peça do grupo, "Scapino"
-do original "Les Fourberies de
Scapin" (As Artimanhas de Scapino)- escrita por Molière no ano
de 1671.
A tática da dupla é simples:
abordam pessoas -conhecidas
ou não, dependendo do que pretendem conseguir-, enaltecem
suas qualidades e sentenciam:
"Chegou a hora de você receber a
mais justa homenagem e o Ornitorrinco fará isso em seu próximo
espetáculo".
"Com essa conversa, já conseguimos o cenário e o pôster para a
divulgação, tudo sem pagar nenhum centavo", divertem-se Cacá e Sugamele.
Animados, resolveram testar a
lábia com Maria Alice Vergueiro,
fundadora do Ornitorrinco, junto
com Cacá Rosset e Roberto Galizia, no ano de 1977: "Falamos que
ela merecia uma homenagem por
aguentar o Cacá há tanto tempo...
Ela nem deixou que terminássemos com a história e já foi logo dizendo para nós: "O meu eu quero
em grana'".
Toda essa brincadeira já demonstra que os atores entraram
no clima do personagem-título da
nova peça.
Scapino é definido por Cacá
com um "criado esperto", daqueles que mantém com o patrão
uma relação de igual para igual:
"Ele é um malandro simpático.
Faz uma série de armações, mas
com a intenção de ajudar", descreve o diretor.
No texto de Molière, Scapino
tem de ajudar o patrão, Leandro,
a resolver as suas confusões amorosas.
"É uma das últimas peças escritas por Molière e acho que ele retoma algumas características das
farsas que escreveu no início de
sua carreira", diz Cacá.
A história se passa em Nápoles,
na Itália, o que fez com que o diretor aproveitasse a deixa para prestar a "mais justa homenagem"
aos imigrantes italianos.
"O texto é atemporal, o que me
permitiu situá-lo numa Nápoles
contemporânea, aquela retratada
nos filmes do comediante italiano
Totó", explica Cacá. Totó estará
presente na montagem, como o
dono da cantina "O Ornitorrinco
Que Ri". (leia texto nesta página)
"Scapino" ainda está em sua fase inicial de produção, Cacá termina a tradução do texto de Molière e os ensaios devem ter início
ainda este mês.
"Já tenho a montagem muito
clara em minha cabeça. Já escolhi
um papel perfeito para o Chachá
(José Rubens Chachá, ator do
grupo) e, é claro, o Scapino serei
eu. Por isso sou diretor e ator, para escolher os melhores papéis",
afirma Cacá.
Desta vez, ele terá a ajuda de
Maria Alice Vergueiro como sua
assistente de direção, que, além
do dinheiro, fez outra exigência:
ter Wagner Sugamele no elenco:
"O Cacá argumentou que eu não
iria ter paciência de encarar uma
temporada, de quarta a domingo", conta Sugamele, "Mas a Maria Alice mandou ele criar um
personagem especialmente para
mim, para que eu pudesse aparecer, mesmo que não fizesse muita
diferença na história, para que eu
possa ir só de vez em quando",
afirma o ator.
Sugamele será um sapateiro,
que terá uma cena, após 1h30 de
peça, em que dirá a frase: "O jantar está servido". " Só não me pergunte o que uma coisa tem a ver
com outra", diz.
O Ornitorrinco completa 22
anos, e 14 montagens, e mantém
sucesso como um grupo que
monta comédias populares.
"No Brasil, ela nosso trabalho é
visto como merecedor da medalha de bronze. Eu discordo. Uma
cebola faz qualquer um chorar,
mas qual legume faz alguém rir?",
ironiza Cacá.
Se tudo der certo -leia-se, se
eles conseguirem o patrocínio-
"Scapino" deve estrear em janeiro
do ano 2000. Pelo menos até lá,
Cacá Rosset terá o que fazer e não
precisará mais colocar anúncios
no jornal à procura de emprego,
como fez em janeiro passado, na
Folha: "Recebi três telefonemas
como resposta. Um rapaz me ofereceu emprego de apresentador
de shows de striptease, nos intervalos das sessões de cinema na
rua Aurora; uma senhora que me
consolou disse que a vida é feita
de altos e baixos e que, se precisasse, poderia jantar na casa dela.
E outro que falou que teatro era
coisa de veado e me mandou ir
para aquele lugar", conta o diretor e ator.
Ainda sobre "Scapino", Cacá
tem um último aviso para os fãs:
"Se não me internarem antes, a
peça sai".
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