São Paulo, sábado, 15 de outubro de 2005

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Montagem vê "inferno" de Nelson Rodrigues

DA REPORTAGEM LOCAL

Nelson Rodrigues dizia... Difícil falar do dramaturgo sem sucumbir a uma citação: ele dizia que "a família é o inferno de todos nós". Uma companhia recém-nascida em São Paulo, a Antikatártika Teatral, quer ratificar isso num espetáculo que pinça cenas afins nas 17 peças do autor pernambucano-carioca.
"17 x Nelson - O Inferno de Todos Nós" baixa literalmente hoje ao porão do teatro Fábrica São Paulo, na Consolação, para tocar "a raiz de uma tragédia nacional", nas palavras do diretor Nelson Baskerville, 44.
"A nós nos intriga como Nelson Rodrigues consegue permanecer atual com seu teatro desagradável, aquele no qual a platéia nunca saiu do mesmo jeito que entrou", diz Baskerville. "Até épico ele conseguiu ser", diz o diretor.
Pois é esse gênero de essência brechtiana que o espetáculo vai contemplar em sua segunda parte, quando o coro formado pelos oito atores desponta com personagens mais autônomos, individuais, se comparado ao coro que remete mais às origens da Grécia na primeira etapa do projeto.

Tempo
As cenas são apresentadas conforme a cronologia em que as peças foram escritas. Assim, será impagável associar aos tempos de hoje a passagem em que a dona Berta é envolvida com o escândalo dos Correios e anda para trás em "Otto Lara Resende ou Bonitinha, Mas Ordinária" (1962).
Ou quando os deputados "pisam em imunidades" para freqüentar o bordel de madame Luba na tragédia de costumes "Perdoa-me por me Traíres" (1957).
Um placar dará conta da evolução dos anos, não só cumprindo um viés pedagógico, mas, segundo Baskerville, permitindo que o público se dê conta dos estalos criativos de Nelson Rodrigues de acordo com o contexto histórico, da década de 1940 à de 1970. Por exemplo, ele fica sem escrever peças entre 1965 e 1973, em plena ditadura militar.
Para corroborar o inferno rodrigueano, a dramaturgia do espetáculo inclui excertos de obras de James Joyce, Italo Calvino e Dante Alighieri.
Metade do elenco é recém-formada. A outra parte atuou em importantes montagens de algumas peças que serão agora revisitadas pelo grupo.
É o caso de José Ferro ("Nelson Rodrigues, o Eterno Retorno", com direção de Antunes Filho), Ondina Castilho ("Paraíso Zona Norte", idem), Adilson Azevedo ("Paraíso Zona Norte", idem) e Luciana Azevedo ("A Mulher sem Pecado", com direção de José Rubens Siqueira).
(VS)

17 x Nelson - O Inferno de Todos Nós
Quando:
estréia hoje, às 19h; sáb., às 19h, e dom., às 18h
Onde: teatro Teatro Fábrica São Paulo (r. da Consolação, 1.623, Consolação, SP, tel. 0/xx/11/3255-5922)
Quanto: R$ 20


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