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Montagem vê "inferno" de Nelson Rodrigues
DA REPORTAGEM LOCAL
Nelson Rodrigues dizia... Difícil
falar do dramaturgo sem sucumbir a uma citação: ele dizia que "a
família é o inferno de todos nós".
Uma companhia recém-nascida
em São Paulo, a Antikatártika
Teatral, quer ratificar isso num espetáculo que pinça cenas afins nas
17 peças do autor pernambucano-carioca.
"17 x Nelson - O Inferno de Todos Nós" baixa literalmente hoje
ao porão do teatro Fábrica São
Paulo, na Consolação, para tocar
"a raiz de uma tragédia nacional",
nas palavras do diretor Nelson
Baskerville, 44.
"A nós nos intriga como Nelson
Rodrigues consegue permanecer
atual com seu teatro desagradável, aquele no qual a platéia nunca
saiu do mesmo jeito que entrou",
diz Baskerville. "Até épico ele
conseguiu ser", diz o diretor.
Pois é esse gênero de essência
brechtiana que o espetáculo vai
contemplar em sua segunda parte, quando o coro formado pelos
oito atores desponta com personagens mais autônomos, individuais, se comparado ao coro que
remete mais às origens da Grécia
na primeira etapa do projeto.
Tempo
As cenas são apresentadas conforme a cronologia em que as peças foram escritas. Assim, será
impagável associar aos tempos de
hoje a passagem em que a dona
Berta é envolvida com o escândalo dos Correios e anda para trás
em "Otto Lara Resende ou Bonitinha, Mas Ordinária" (1962).
Ou quando os deputados "pisam em imunidades" para freqüentar o bordel de madame Luba na tragédia de costumes "Perdoa-me por me Traíres" (1957).
Um placar dará conta da evolução dos anos, não só cumprindo
um viés pedagógico, mas, segundo Baskerville, permitindo que o
público se dê conta dos estalos
criativos de Nelson Rodrigues de
acordo com o contexto histórico,
da década de 1940 à de 1970. Por
exemplo, ele fica sem escrever peças entre 1965 e 1973, em plena ditadura militar.
Para corroborar o inferno rodrigueano, a dramaturgia do espetáculo inclui excertos de obras
de James Joyce, Italo Calvino e
Dante Alighieri.
Metade do elenco é recém-formada. A outra parte atuou em importantes montagens de algumas
peças que serão agora revisitadas
pelo grupo.
É o caso de José Ferro ("Nelson
Rodrigues, o Eterno Retorno",
com direção de Antunes Filho),
Ondina Castilho ("Paraíso Zona
Norte", idem), Adilson Azevedo
("Paraíso Zona Norte", idem) e
Luciana Azevedo ("A Mulher sem Pecado", com direção de José Rubens Siqueira).
(VS)
17 x Nelson - O Inferno de Todos Nós
Quando: estréia hoje, às 19h; sáb., às
19h, e dom., às 18h
Onde: teatro Teatro Fábrica São Paulo (r.
da Consolação, 1.623, Consolação, SP,
tel. 0/xx/11/3255-5922)
Quanto: R$ 20
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