São Paulo, domingo, 15 de outubro de 2006

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BIA ABRAMO

Celebridades banalizam a intimidade


Desejamos o prazer de espiar uma vida que se apresenta como menos ordinária que a nossa

DANIELA CICARELLI , por fim, saiu por cima da carne-seca. Vai ganhar um programa jovem na Record, depois de pagar mico no "Beija Sapo", da MTV. Se deu bem, ao fim e ao cabo, depois de ser achincalhada até por Bruna Surfistinha só porque transou com o namorado na praia.
É um mundo curioso e cruel, esse da megaexposição da mídia. A moça é uma linda, pernuda, bocuda e olhuda. E é exatamente isso que ela tem a vender no mercado das celebridades, sua mais-valia estética e sexual.
Por que também é justamente isso que os consumidores vorazes da fama alheia querem dela. E ela, o que faz? Sai vendendo, por aí, é claro. Fotografa para revistas, protagoniza comerciais, torna-se apresentadora de programas jovens em que aparece linda, pernuda, bocuda, olhuda e de pouca roupa.
No melhor formato "minha vida é uma revista "Caras" aberta", inventa o casamento do "século". O rei do futebol e a princesa das passarelas casam-se e descasam-se com pompa, circunstância e barulheira em um tempo recorde.
Some e volta, "low profile", em um programinha para adolescentes se beijarem em público patrocinados por uma marca de refrigerantes. A voz rouca, a malícia sestrosa de mulher bonita no meio dos recém pós-púberes soa como uma estridência sexual inatingível, tanto para os meninos desejantes como para as meninas invejantes.
Depois, isso que todo mundo sabe: foi filmada com o namorado, o vídeo correu o mundo pelo YouTube, etc.
E, diante da intimidade revelada, a surpresa: mas essa mulher, que fantasiamos como uma deusa do sexo, fez sexo mesmo?
A intimidade, vista de perto, é sempre ao mesmo tempo mais banal e mais assustadora do que parece. Esses personagens colocam no mercado uma sugestão de que sua vida entre quatro paredes é tão glamurosa que é quase extra-humana, de uma textura publicitária, mas quando se apresenta, de fato, alguma nesga da intimidade real, há choque e decepção.
Com a mesma intensidade, desejamos o prazer de espiar uma vida que se apresenta como menos ordinária e repelimos as manifestações de humanidade de quem se emoldura para a mídia.
A crise, entretanto, é passageira. Na mesma medida que vem, vai. E, no fim, tudo "dá certo", assina-se um novo contrato e a paz volta a reinar no mundo das imagens.


biabramo.tv@uol.com.br


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