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BIA ABRAMO
Celebridades banalizam a intimidade
Desejamos o prazer de
espiar uma vida que se
apresenta como menos
ordinária que a nossa
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DANIELA CICARELLI , por fim,
saiu por cima da carne-seca.
Vai ganhar um programa jovem na Record, depois de pagar mico no "Beija Sapo", da MTV. Se deu
bem, ao fim e ao cabo, depois de ser
achincalhada até por Bruna Surfistinha só porque transou com o namorado na praia.
É um mundo curioso e cruel, esse
da megaexposição da mídia. A moça
é uma linda, pernuda, bocuda e olhuda. E é exatamente isso que ela tem a
vender no mercado das celebridades, sua mais-valia estética e sexual.
Por que também é justamente isso
que os consumidores vorazes da fama alheia querem dela.
E ela, o que faz? Sai vendendo, por
aí, é claro. Fotografa para revistas,
protagoniza comerciais, torna-se
apresentadora de programas jovens
em que aparece linda, pernuda, bocuda, olhuda e de pouca roupa.
No melhor formato "minha vida é
uma revista "Caras" aberta", inventa
o casamento do "século". O rei do futebol e a princesa das passarelas casam-se e descasam-se com pompa,
circunstância e barulheira em um
tempo recorde.
Some e volta, "low profile", em um
programinha para adolescentes se
beijarem em público patrocinados
por uma marca de refrigerantes. A
voz rouca, a malícia sestrosa de mulher bonita no meio dos recém pós-púberes soa como uma estridência
sexual inatingível, tanto para os meninos desejantes como para as meninas invejantes.
Depois, isso que todo mundo sabe:
foi filmada com o namorado, o vídeo
correu o mundo pelo YouTube, etc.
E, diante da intimidade revelada, a
surpresa: mas essa mulher, que fantasiamos como uma deusa do sexo,
fez sexo mesmo?
A intimidade, vista de perto, é
sempre ao mesmo tempo mais banal
e mais assustadora do que parece.
Esses personagens colocam no mercado uma sugestão de que sua vida
entre quatro paredes é tão glamurosa que é quase extra-humana, de
uma textura publicitária, mas quando se apresenta, de fato, alguma nesga da intimidade real, há choque e
decepção.
Com a mesma intensidade, desejamos o prazer de espiar uma vida
que se apresenta como menos ordinária e repelimos as manifestações
de humanidade de quem se emoldura para a mídia.
A crise, entretanto, é passageira.
Na mesma medida que vem, vai. E,
no fim, tudo "dá certo", assina-se um
novo contrato e a paz volta a reinar
no mundo das imagens.
biabramo.tv@uol.com.br
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