São Paulo, sábado, 15 de novembro de 1997.




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BASTIDORES
Deputado recebeu de BH e de Brasília telefonemas da banda dizendo o mesmo: "Estamos sendo presos"
Planet Hemp recorreu a Gabeira 2 vezes

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

O deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) acompanhou de perto cada momento do episódio da prisão dos integrantes da banda carioca Planet Hemp, entre sábado da semana passada e a libertação, anteontem, em Brasília.
Foi ele quem, na madrugada de sábado, recebeu de Belo Horizonte (MG) o chamado da banda pelo telefone: "Estamos sendo presos".
A banda teve seu show na capital mineira cancelado e seus músicos foram detidos por cinco horas pela polícia local.
O susto durou até as 6h, quando chegou-lhe a notícia de que a banda havia sido liberada e se dirigia a Brasília para novo show no próprio sábado.
"Estava tudo bem, eles estavam com advogados, mas sentiam que alguma coisa estava sendo tramada. Jornalistas de Brasília estavam cobrindo sua chegada de um modo estranho."
Gabeira, uma das vozes mais atuantes na discussão sobre a descriminação da maconha no Brasil, recebeu o telefonema seguinte na madrugada do domingo: "Estamos sendo presos".
Na manhã do dia seguinte, Gabeira intermediou a contratação do advogado Nabor Bulhões pela produtora da banda, a Na Moral.
"Graças a Deus, conseguimos orientá-los para não falarem nada à polícia. Se não fosse assim, iam partir daí para fortalecer um flagrante, o que era uma porcaria", relata Gabeira.
O auto de flagrante justificava a prisão por apologia às drogas, baseando-se no fato de que "a banda cantou várias músicas de seus CDs". Ele diz que tinha razões para se preocupar: quando a equipe do grupo voltou ao hotel, por volta das 4h, a polícia havia fechado todos os quartos reservados à banda.
"Falei que pedissem uma carta do hotel relatando esse fato, mas o responsável disse que não faria a carta porque tinha medo. Poderiam ter plantado o que quisessem nos quartos deles. Mas não havia nada, e o auto de flagrante deixou de mencionar isso."
A partir daí, começou a batalha para que Gabeira e o empresário da banda, Marcelo Lobato, pudessem entrar em contato com os artistas.
Conseguida com o secretário de Segurança de Brasília a permissão de entrada na prisão, começaram as negociações para a libertação.
"Liguei para o governador do DF, Cristóvão Buarque. Ele disse para mim que aquilo era uma conspiração da polícia contra ele, mas que não podia se manifestar porque não queria comprometer sua reputação com um caso ligado a drogas", disse o deputado.
"Ele alegou que não conhecia as músicas, o que é um bom argumento liberal. Podia dizer que não conhecia, mas lutava pela liberdade de expressão", critica.
Gabeira começou a alistar parceiros de visita à prisão, como os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP) e Roberto Freire (PPS-PE) e o deputado João Paulo (PT-SP).
"Eu e João Paulo tivemos um bate-boca com o diretor da Polícia Civil. João Paulo disse: 'Vou ler no plenário as letras do Planet Hemp, aí o senhor vai lá e me prende'."
Gabeira avalia como retaliação do diretor a atitude seguinte: ele e Gabeira testemunharam a entrada dos artistas no camburão, para serem transferidos ao Complexo Penitenciário da Papuda.
"Ficamos apavorados, botamos a boca no mundo. Freire ligou para o governador -eu já havia brigado com ele-, e ele disse que ia resolver. De fato, conseguiu ligar para a viatura e fazer com que ela retornasse antes de chegar."
O resultado do episódio do Planet, para Gabeira, deve ser uma maior profissionalização de sua carreira de shows.
"Pude ver que a estrutura de seus shows é muito precária. Eles viajam com empresários na base da relação afetiva. O grande empresário não está com o Planet Hemp, ele está com É o Tchan. Eles devem discutir condições melhores de show, com advogado em cada cidade, gravando em vídeo."
Passada a epopéia, Gabeira define sua relação com a banda pop. "Senti a aflição de pai, acabei me aproximando muito deles. Mas defendemos a mesma causa. O que eles dizem em forma de canção, eu digo em forma de discurso."



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