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BASTIDORES
Deputado recebeu de BH e de Brasília telefonemas da banda dizendo o mesmo: "Estamos sendo presos"
Planet Hemp recorreu a Gabeira 2 vezes
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
O deputado federal Fernando
Gabeira (PV-RJ) acompanhou de
perto cada momento do episódio
da prisão dos integrantes da banda
carioca Planet Hemp, entre sábado
da semana passada e a libertação,
anteontem, em Brasília.
Foi ele quem, na madrugada de
sábado, recebeu de Belo Horizonte
(MG) o chamado da banda pelo telefone: "Estamos sendo presos".
A banda teve seu show na capital
mineira cancelado e seus músicos
foram detidos por cinco horas pela
polícia local.
O susto durou até as 6h, quando
chegou-lhe a notícia de que a banda havia sido liberada e se dirigia a
Brasília para novo show no próprio sábado.
"Estava tudo bem, eles estavam
com advogados, mas sentiam que
alguma coisa estava sendo tramada. Jornalistas de Brasília estavam
cobrindo sua chegada de um modo estranho."
Gabeira, uma das vozes mais
atuantes na discussão sobre a descriminação da maconha no Brasil,
recebeu o telefonema seguinte na
madrugada do domingo: "Estamos sendo presos".
Na manhã do dia seguinte, Gabeira intermediou a contratação
do advogado Nabor Bulhões pela
produtora da banda, a Na Moral.
"Graças a Deus, conseguimos
orientá-los para não falarem nada
à polícia. Se não fosse assim, iam
partir daí para fortalecer um flagrante, o que era uma porcaria",
relata Gabeira.
O auto de flagrante justificava a
prisão por apologia às drogas, baseando-se no fato de que "a banda
cantou várias músicas de seus
CDs". Ele diz que tinha razões para se preocupar: quando a equipe
do grupo voltou ao hotel, por volta
das 4h, a polícia havia fechado todos os quartos reservados à banda.
"Falei que pedissem uma carta
do hotel relatando esse fato, mas o
responsável disse que não faria a
carta porque tinha medo. Poderiam ter plantado o que quisessem
nos quartos deles. Mas não havia
nada, e o auto de flagrante deixou
de mencionar isso."
A partir daí, começou a batalha
para que Gabeira e o empresário
da banda, Marcelo Lobato, pudessem entrar em contato com os artistas.
Conseguida com o secretário de
Segurança de Brasília a permissão
de entrada na prisão, começaram
as negociações para a libertação.
"Liguei para o governador do
DF, Cristóvão Buarque. Ele disse
para mim que aquilo era uma
conspiração da polícia contra ele,
mas que não podia se manifestar
porque não queria comprometer
sua reputação com um caso ligado
a drogas", disse o deputado.
"Ele alegou que não conhecia as
músicas, o que é um bom argumento liberal. Podia dizer que não
conhecia, mas lutava pela liberdade de expressão", critica.
Gabeira começou a alistar parceiros de visita à prisão, como os
senadores Eduardo Suplicy
(PT-SP) e Roberto Freire (PPS-PE)
e o deputado João Paulo (PT-SP).
"Eu e João Paulo tivemos um
bate-boca com o diretor da Polícia
Civil. João Paulo disse: 'Vou ler no
plenário as letras do Planet Hemp,
aí o senhor vai lá e me prende'."
Gabeira avalia como retaliação
do diretor a atitude seguinte: ele e
Gabeira testemunharam a entrada
dos artistas no camburão, para serem transferidos ao Complexo Penitenciário da Papuda.
"Ficamos apavorados, botamos
a boca no mundo. Freire ligou para
o governador -eu já havia brigado com ele-, e ele disse que ia resolver. De fato, conseguiu ligar para a viatura e fazer com que ela retornasse antes de chegar."
O resultado do episódio do Planet, para Gabeira, deve ser uma
maior profissionalização de sua
carreira de shows.
"Pude ver que a estrutura de
seus shows é muito precária. Eles
viajam com empresários na base
da relação afetiva. O grande empresário não está com o Planet
Hemp, ele está com É o Tchan. Eles
devem discutir condições melhores de show, com advogado em cada cidade, gravando em vídeo."
Passada a epopéia, Gabeira define sua relação com a banda pop.
"Senti a aflição de pai, acabei me
aproximando muito deles. Mas
defendemos a mesma causa. O que
eles dizem em forma de canção, eu
digo em forma de discurso."
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