São Paulo, Segunda-feira, 15 de Novembro de 1999
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Cantor uniu morro e zona sul

ALESSANDRA KORMANN
do Banco de Dados

Zé Keti, um dos maiores sambistas da velha-guarda, representou um dos principais elos entre os compositores do morro e os intelectuais da zona sul carioca.
O marco dessa conexão foi o show "Opinião", de 1964, idealizado por Oduvaldo Vianna Filho, engajado na resistência ao regime militar. Keti fazia um malandro de morro, contracenando com João do Vale e Nara Leão, depois substituída por Maria Bethânia.
José Flores de Jesus nasceu no Rio de Janeiro, em Inhaúma (zona norte), em 6 de outubro de 1921. Como era muito quieto na infância, ganhou o apelido de Zé Quieto, ou Zé Quietinho, que mais tarde se tornaria Zé Keti.
Seu primeiro contato com a música dos morros foi na escola de samba Mangueira. Mas foi aos 16 anos que conheceu a Portela, aquela que seria sua escola de coração.
Entre 1940 e 1943, época em que compôs sua primeira marcha carnavalesca, Keti serviu como soldado na Polícia Militar. Sua primeira composição gravada foi "Tio Sam no Samba", em 1946, pelos Vocalistas Tropicais.
Um dos seus maiores sucessos, "A Voz do Morro", foi gravado em 1955 por Jorge Goulart e incluído na trilha de "Rio, 40 Graus", de Nelson Pereira dos Santos.
Começou a participar das atividades musicais do restaurante Zicartola como apresentador dos velhos compositores, como Cartola e Nelson Cavaquinho. Também foi o responsável pela apresentação de Elton Medeiros e Paulo César, um novo compositor até então desconhecido que apelidou de Paulinho da Viola.
Em 1957, sua vida e obra serviram de base para "Rio Zona Norte", de Nelson Pereira dos Santos.
Recebeu o Prêmio Shell de Música Popular Brasileira em 1998 pelo conjunto da obra. Entre os sambistas, ficou famosa a história de uma prótese que teria implantado para manter a virilidade.
Antes de morrer, Keti vivia com problemas de saúde. Sobrevivia com o dinheiro da aposentadoria e repasses de direitos autorais (de R$ 1.200 a R$ 2.000, segundo um de seus seis filhos).
"Não fui bem pago, mas pelo menos deu para fazer alguma coisa em relação à música popular brasileira. O Brasil me deu muita coisa. Inspiração, assuntos bonitos, mulheres bonitas."



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