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MÚSICA
Compositor, que tem suas musas em Copacabana, nas loiras e orientais, diz que Fernanda Abreu é a parceira ideal
Fausto Fawcett prepara livro e novo ciclo
DO ENVIADO AO RIO
Fausto Fawcett, 43, autor e intérprete do clássico pop "Kátia
Flávia" (87) e até hoje um dos parceiros mais constantes de Fernanda Abreu, parece trocar cada vez
mais a cena pelas atividades de
poeta, escritor e compositor.
Ainda surge nas paradas -é
co-autor de "Balada do Amor
Inabalável", do Skank-, mas não
lidera apresentações desde o
show "Leviatã" (95). Longe de
inativo, lança em março seu terceiro livro, "Copacabana Lua
Cheia", que insiste no uso da
praia carioca como musa central.
Outras musas são as do que ele
chama "universo amarelo": "loiraças belzebu" como Farrah Fawcett ou as mais próximas Marinara e Regininha Poltergeist (co-protagonistas de seu show "Básico Instinto", de 94) e divas orientais ("Queria fazer um show só
com elas, mas é difícil achar
orientais com traços de exibicionismo como o das loiras").
Diz não haver trocado o pop pela escrita. "Acabei dando uma escondida, mas não é uma desistência. Junto com o livro vai rolar um
disquinho com três ou quatro
músicas. Esse terreno literário é a
base de tudo que faço, é a partir
dos livros que surgem os shows.
Os discos vêm em função dos
shows, são registros deles", diz,
insinuando o início de novo ciclo.
Continua morando em Copacabana, e fala sobre seu modo de vê-la: "Gosto de ter dado um chega
para lá em vários clichês. As pessoas se referiam a Copa de forma
nostálgica, diziam que nos anos
50 é que era glamourosa, que agora é um favelão classe média. Isso
é de uma ignorância completa.
Orgulho-me de tê-la recolocado
como um lugar de efervescência
social, com todas as características mitológicas renovadas".
Parece continuar fascinado:
"Em Copacabana há a maior concentração de tudo, de urbanidade
e de natureza, de quem circula e se
joga nas escuridões dos antros, e
da vovozinha de classe média".
Envereda por raciocínios que
lembram suas letras feéricas: "Estamos divididos entre coliseus e
domésticos, duas grandes tribos.
Você tem os acionistas da civilização benigna, que somos nós, sitiados por coliseus de todos os tipos:
do bandido que mata quase gratuitamente até os grandes lobos,
gaviões, tubarões, águias políticas
e empresariais, trambiqueiros
que quebram instituições financeiras e especuladores em geral".
Ele fala da relação com Fernanda Abreu: "Sempre gostei de trabalhar com meninas, musas, e
Fernanda é decididamente "a"
parceira nas coisas que escrevo".
Fala, no Brasil das letras de axé,
sobre como emplacou "Rio 40
Graus" e "Kátia Flávia", de estruturas e letras complexas, aparentemente proibitivas para o sucesso de mercado: "Acho que é ousadia de quem tem uma ligação forte com literatura e faz sem medo,
conjugando frases sonoras, mesmo que não vão entender o que
dizem. Ao mesmo tempo, me
afasto da pose cabeça, tudo o que
faço tem a ver com a rua".
"Mas, sendo um sucesso fulminante, "Kátia Flávia" não fugiu das
acusações de comercialóide",
continua, falando de um tempo
em que cultura de bunda não passava das chacretes que ele tanto
admira. "Concordo que houve
uma avalanche de imbecilidades,
mas a gente não deve se preocupar com isso."
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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