São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 2000

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MÚSICA
Compositor, que tem suas musas em Copacabana, nas loiras e orientais, diz que Fernanda Abreu é a parceira ideal
Fausto Fawcett prepara livro e novo ciclo

DO ENVIADO AO RIO


Fausto Fawcett, 43, autor e intérprete do clássico pop "Kátia Flávia" (87) e até hoje um dos parceiros mais constantes de Fernanda Abreu, parece trocar cada vez mais a cena pelas atividades de poeta, escritor e compositor.
Ainda surge nas paradas -é co-autor de "Balada do Amor Inabalável", do Skank-, mas não lidera apresentações desde o show "Leviatã" (95). Longe de inativo, lança em março seu terceiro livro, "Copacabana Lua Cheia", que insiste no uso da praia carioca como musa central.
Outras musas são as do que ele chama "universo amarelo": "loiraças belzebu" como Farrah Fawcett ou as mais próximas Marinara e Regininha Poltergeist (co-protagonistas de seu show "Básico Instinto", de 94) e divas orientais ("Queria fazer um show só com elas, mas é difícil achar orientais com traços de exibicionismo como o das loiras").
Diz não haver trocado o pop pela escrita. "Acabei dando uma escondida, mas não é uma desistência. Junto com o livro vai rolar um disquinho com três ou quatro músicas. Esse terreno literário é a base de tudo que faço, é a partir dos livros que surgem os shows. Os discos vêm em função dos shows, são registros deles", diz, insinuando o início de novo ciclo.
Continua morando em Copacabana, e fala sobre seu modo de vê-la: "Gosto de ter dado um chega para lá em vários clichês. As pessoas se referiam a Copa de forma nostálgica, diziam que nos anos 50 é que era glamourosa, que agora é um favelão classe média. Isso é de uma ignorância completa. Orgulho-me de tê-la recolocado como um lugar de efervescência social, com todas as características mitológicas renovadas".
Parece continuar fascinado: "Em Copacabana há a maior concentração de tudo, de urbanidade e de natureza, de quem circula e se joga nas escuridões dos antros, e da vovozinha de classe média".
Envereda por raciocínios que lembram suas letras feéricas: "Estamos divididos entre coliseus e domésticos, duas grandes tribos. Você tem os acionistas da civilização benigna, que somos nós, sitiados por coliseus de todos os tipos: do bandido que mata quase gratuitamente até os grandes lobos, gaviões, tubarões, águias políticas e empresariais, trambiqueiros que quebram instituições financeiras e especuladores em geral".
Ele fala da relação com Fernanda Abreu: "Sempre gostei de trabalhar com meninas, musas, e Fernanda é decididamente "a" parceira nas coisas que escrevo".
Fala, no Brasil das letras de axé, sobre como emplacou "Rio 40 Graus" e "Kátia Flávia", de estruturas e letras complexas, aparentemente proibitivas para o sucesso de mercado: "Acho que é ousadia de quem tem uma ligação forte com literatura e faz sem medo, conjugando frases sonoras, mesmo que não vão entender o que dizem. Ao mesmo tempo, me afasto da pose cabeça, tudo o que faço tem a ver com a rua".
"Mas, sendo um sucesso fulminante, "Kátia Flávia" não fugiu das acusações de comercialóide", continua, falando de um tempo em que cultura de bunda não passava das chacretes que ele tanto admira. "Concordo que houve uma avalanche de imbecilidades, mas a gente não deve se preocupar com isso."
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


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