São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 2000 |
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LITERATURA Biografia comprova tese de que obra do autor era sobre si mesmo Livro sagra Bukowski personagem
MARINA MONZILLO FREE-LANCE PARA A FOLHA Bêbado, rebelde, desbocado, briguento. A fama que o escritor Charles Bukowski (1920-1994) acumulou durante toda a vida encontra sustentação nos fatos, narrações, lembranças e fotografias apresentados pelo jornalista inglês Howard Sounes, na biografia "Charles Bukowski - Vida e Loucuras de um Velho Safado". A reputação de Hank, como era chamado pelos amigos, não surgiu baseada apenas em suas atitudes e na vida desregrada que levava, frequentando botecos, convivendo com prostitutas e vagabundos de Los Angeles, apostando em corridas de cavalos e bebendo até cair. Bukowski usou a sua literatura e, principalmente, seu alter ego, Henry Chinaski (personagem de livros como "Cartas na Rua" e "Mulheres"), para escancarar seus dramas pessoais, a vida dura de operário, os relacionamentos amorosos conturbados e a rotina de "mosca de bar". Mas o que se pode descobrir de novo na biografia de alguém que já expôs tanto suas angústias de perdedor, as inconstâncias no trato com as mulheres, amigos e conhecidos, e as experiências no underground, de maneira extremamente nua e coloquial, em diversos poemas, romances e contos assumidamente autobiográficos? No início de "Vida e Loucuras...", Sounes cita uma declaração de Bukowski de que 93% de sua obra eram um retrato literal de sua vida, e que os outros 7% eram versões melhoradas de fatos também ocorridos com ele. O jornalista tomou essa afirmação como tese e tratou de comprovar o grau de realidade da obra de Hank. "Desde o princípio ficou claro que sua vida era uma variação de sua ficção e vice-versa. Era apenas uma questão de saber quais detalhes- e o quanto- ele alterou. Em alguns aspectos, ele mudou muito, em outros, quase nada", diz Sounes. O autor entremeou a narrativa cronológica com poemas feitos por Bukowski nas mesmas épocas. O leitor confronta, assim, duas versões dos acontecimentos: de um lado, a história, a partir de documentos e confissões de pessoas que conviveram com Hank; do outro, o próprio poeta, desabafando em versos, de forma crua e debochada. "O que mais me surpreendeu foi ver como, apesar de alcoólatra e esbanjador, ele era um homem diligente", conta o autor. A produção de Bukowski foi realmente prolífera. Escreveu mais de 40 livros e grande parte de seus poemas nunca chegaram a ser publicados e se perderam. A biografia relata o descaso com o qual Bukowski tratava seus originais. O autor também trata de explicar porque Bukowski era considerado erroneamente um poeta da geração beat. "É um pensamento preguiçoso incluir Bukowski nos poetas beats; ele não tinha nada em comum com eles, a não ser o fato de ser americano e escrever literatura confessional." No livro, Sounes justifica mais: os beat eram mais velhos, baseados na cidade de San Francisco e a maioria era homossexual (segundo depoimentos, Bukowski apresentava até atitudes homofóbicas). "O mais importante é que os beats eram um grupo, e Bukowski, um solitário. Ele não aprovava pessoas que tinham que andar em bando para conseguirem apoio." Livro: Charles Bukowski - Vida e Loucuras de um Velho Safado Título original: Locked in the Arms of a Crazy Life Autor: Howard Sounes Editora: Conrad Quanto: R$ 34 (344 págs.) Texto Anterior: Cinema: Zé do Caixão segue trilha de "Bruxa de Blair" em Sundance Próximo Texto: Net Cetera - Sérgio Dávila: Um "No Limite" de verdade: com sexo Índice |
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