|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Livro gera debate sobre crítica na imprensa
DA REPORTAGEM LOCAL
Aspectos da crítica musical. E,
mais especificamente, a presença
da crítica de música erudita no
cotidiano dos cadernos culturais.
Esses foram os temas abordados
no debate realizado no último dia
7, com promoção da Folha e da
Publifolha, que tinha como foco o
lançamento do livro "Notas Musicais - Do Barroco ao Jazz", de Arthur Nestrovski.
O evento, realizado no auditório
do jornal, contou com as participações de Nestrovski, professor
titular de literatura na PUC-SP e
articulista da Folha, de John
Neschling, regente titular da Orquestra Sinfônica do Estado de
SP, e de João Luiz Sampaio, crítico
musical do jornal "O Estado de S.
Paulo".
O encontro teve a mediação de
Alcino Leite Neto, repórter especial da Folha.
O livro "Notas Musicais" é uma
compilação de 77 resenhas publicadas sob a assinatura de Nestrovski nos últimos sete anos na
Folha, com exceção de um texto
editado na revista "Bravo" e um
outro para a inauguração da Sala
São Paulo.
Nestrovski abriu o debate defendendo, entre outras coisas, que
não é possível construir uma crítica musical antes de ser capaz de
identificar o que compõe determinada obra.
"Isso parece óbvio, mas não é. A
crítica não existe apenas para reproduzir o senso comum. (...) Ela
tem uma função informativa, sim,
mas é preciso ir além. A crítica é
algo transformador. Ela tem de,
de alguma forma, nos fazer ouvir
uma obra de uma outra maneira.
De algum modo, a crítica recria
essa obra em seus próprios termos", disse o autor.
Já para o maestro John Neschling, um evento para debater a
crítica musical é ao mesmo tempo
novo e inócuo.
"Novo porque me surpreende
saber que há pelo menos 25 pessoas, em um evento numa terça à
noite, interessadas em crítica musical. Porque não existe crítica
musical em São Paulo. Está começando a haver de novo. (...) Crítica
musical que dê prazer de ler, já
que a crítica é uma peça de literatura, foi reaparecer um pouco
agora depois de décadas (...). E
você ter, de vez em quando, o prazer de ler uma peça como as do
Arthur, não é ter crítica musical
no país. É você ter uma pessoa de
talento que, de vez em quando,
consegue escrever sobre música
erudita no jornal."
"É inócuo porque essa discussão para 25 pessoas não leva a nada. A crítica musical tem de atingir o público que assiste a concertos. A crítica de música erudita
como peça única é inócua também. Existe se ela é consequente.
Se analisa não só um concerto,
mas também o desenvolvimento
de uma orquestra, de um solista,
da vida musical de uma cidade.
Fazer como os jornais fazem, que
é publicar uma crítica hoje e outra
daqui a três semanas, isso não
adianta nada."
Um dos problemas na crítica
musical, no entendimento do jornalista de "O Estado de S.Paulo"
João Luiz Sampaio, é a doença da
razão cínica, que ataca o jornalismo cultural hoje.
"Razão cínica é o problema do
crítico que na verdade quer aparecer, que vai usar a obra de arte
para se promover, para falar que é
erudito. Enquanto o que é preciso
é exatamente o contrário. Primeiro é entender o que o artista tem a
dizer. Dar voz a esse artista. Questioná-lo, mas procurar antes de
tudo entendê-lo."
Texto Anterior: Projeto: Rumos Musicais divulga 78 selecionados Próximo Texto: Evento: Profissionais discutem relação entre psicanálise e psiquiatria Índice
|