São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Livro gera debate sobre crítica na imprensa

DA REPORTAGEM LOCAL

Aspectos da crítica musical. E, mais especificamente, a presença da crítica de música erudita no cotidiano dos cadernos culturais. Esses foram os temas abordados no debate realizado no último dia 7, com promoção da Folha e da Publifolha, que tinha como foco o lançamento do livro "Notas Musicais - Do Barroco ao Jazz", de Arthur Nestrovski.
O evento, realizado no auditório do jornal, contou com as participações de Nestrovski, professor titular de literatura na PUC-SP e articulista da Folha, de John Neschling, regente titular da Orquestra Sinfônica do Estado de SP, e de João Luiz Sampaio, crítico musical do jornal "O Estado de S. Paulo".
O encontro teve a mediação de Alcino Leite Neto, repórter especial da Folha.
O livro "Notas Musicais" é uma compilação de 77 resenhas publicadas sob a assinatura de Nestrovski nos últimos sete anos na Folha, com exceção de um texto editado na revista "Bravo" e um outro para a inauguração da Sala São Paulo.
Nestrovski abriu o debate defendendo, entre outras coisas, que não é possível construir uma crítica musical antes de ser capaz de identificar o que compõe determinada obra.
"Isso parece óbvio, mas não é. A crítica não existe apenas para reproduzir o senso comum. (...) Ela tem uma função informativa, sim, mas é preciso ir além. A crítica é algo transformador. Ela tem de, de alguma forma, nos fazer ouvir uma obra de uma outra maneira. De algum modo, a crítica recria essa obra em seus próprios termos", disse o autor.
Já para o maestro John Neschling, um evento para debater a crítica musical é ao mesmo tempo novo e inócuo.
"Novo porque me surpreende saber que há pelo menos 25 pessoas, em um evento numa terça à noite, interessadas em crítica musical. Porque não existe crítica musical em São Paulo. Está começando a haver de novo. (...) Crítica musical que dê prazer de ler, já que a crítica é uma peça de literatura, foi reaparecer um pouco agora depois de décadas (...). E você ter, de vez em quando, o prazer de ler uma peça como as do Arthur, não é ter crítica musical no país. É você ter uma pessoa de talento que, de vez em quando, consegue escrever sobre música erudita no jornal."
"É inócuo porque essa discussão para 25 pessoas não leva a nada. A crítica musical tem de atingir o público que assiste a concertos. A crítica de música erudita como peça única é inócua também. Existe se ela é consequente. Se analisa não só um concerto, mas também o desenvolvimento de uma orquestra, de um solista, da vida musical de uma cidade. Fazer como os jornais fazem, que é publicar uma crítica hoje e outra daqui a três semanas, isso não adianta nada."
Um dos problemas na crítica musical, no entendimento do jornalista de "O Estado de S.Paulo" João Luiz Sampaio, é a doença da razão cínica, que ataca o jornalismo cultural hoje.
"Razão cínica é o problema do crítico que na verdade quer aparecer, que vai usar a obra de arte para se promover, para falar que é erudito. Enquanto o que é preciso é exatamente o contrário. Primeiro é entender o que o artista tem a dizer. Dar voz a esse artista. Questioná-lo, mas procurar antes de tudo entendê-lo."



Texto Anterior: Projeto: Rumos Musicais divulga 78 selecionados
Próximo Texto: Evento: Profissionais discutem relação entre psicanálise e psiquiatria
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.