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MÚSICA ERUDITA/CRÍTICA
Antonio Meneses enche a música com sutilezas
ARTHUR NESTROVSKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
A tempestade foi boa. A bonança, menos: a sinfonia
"Pastoral", sendo uma das obras
mais conhecidas de Beethoven
(1772-1827), seus pastores e riachos precisam de uma dose extra
de imaginação para voltar à vida.
Mas, afinal, ninguém foi ao teatro
Cultura Artística anteontem para
escutar a Orquestra Filarmônica
da Renânia. Foi para escutar Antonio Meneses. Que nunca é menos que Antonio Meneses e, nessa
noite, foi até um pouco mais.
Indo de trás para diante. Exemplo do que pode um grande músico: a nota final da "Elegia" de Fauré (1845-1924), que Meneses tocou de bis, é um dó grave, a quarta
corda solta do violoncelo. Tecnicamente, você e eu podemos tocar
essa nota. Mas que diferença
quando um músico desses constrói a chegada no dó como ele
construiu! Um dó é um dó é um
dó? Não para Meneses, que fez
convergir para essa nota longa e
escura todo o sentido da elegia.
O mesmo pode ser dito do final
do "Concerto para Violoncelo e
Orquestra" de Dvorak (1841-1904). Um fá sustenido, simples,
parado, que começa lá longe, sem
lustro, e vem crescendo, com a intensidade de um sentimento, até
pular para o si, que arrebata o
concerto, o violoncelista, a orquestra e cada um de nós. São só
duas notas, a dominante e a tônica. Tocadas assim, guardam tudo
o que há para dizer.
O "Concerto" é fácil de ouvir e
difícil de tocar. Uma das virtudes
de Meneses é não fazer tudo parecer fácil, embora ele vença as dificuldades com a franqueza natural
de quem saboreia um copo d'água. A dificuldade faz parte da experiência da música. Um concerto é para ser visto também e a dimensão atlética da música só não
entusiasma quem nunca tocou
um instrumento. Arabescos e arpejos nas alturas da primeira corda são uns dos tantos exercícios
que essa música impõe para chegar ao entendimento.
Uma outra dimensão, menos
óbvia, de transcendência é o tempo. E desta perspectiva a orquestra ficou devendo bastante ao solista. Meneses tem um sentido
maravilhoso da plasticidade da
música, não apenas dentro de cada frase, mas na grande idéia de
cada movimento, e até na sequência desses. A música tem zonas de
intensidade e zonas de relaxamento, áreas de aceleração e compactação, espaços de descanso e
devaneio. São sutilezas, que a Filarmônica da Renânia acompanhou sem chegar a acompanhar
de verdade. O maestro Theodor
Guschlbauer é claro e eficiente; a
orquestra é segura e afinada. Um
e outro cresceram na vizinhança
de Meneses, mas não o bastante
para mudar de mundo.
Até a platéia cresce, escutando
um músico que enche a música de
música como Meneses. Sai cada
um com música dentro, amuleto
e bálsamo para a batalha dos dias.
Antonio Meneses e a
Filarmônica da Renânia
Quando: hoje, às 21h
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor
Pestana, 196, tel. 0/xx/11/258-3616)
Quanto: de R$ 80 a R$ 180
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