São Paulo, quinta-feira, 15 de novembro de 2001

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GASTRONOMIA

ORIENTAL

Restaurantes têm cardápio tradicional, com grande número de pratos

São Paulo esconde chineses que vão além das caixinhas

CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem só de macarrão frito chop suey e de rolinhos primavera, servidos em caixinhas como nos filmes norte-americanos, vive a tradicionalíssima culinária chinesa, cujas receitas remontam há pelo menos 3.000 anos.
Para quem tem saudade do velho frango frito com mandiopã, alguns bons restaurantes chineses continuam resistindo e mantendo seu estilo peculiar: quadros com bucólicas montanhas nas paredes, lanternas penduradas no teto. Restaurante chinês que se preze tem lá sua dose de cafonice.
Os nomes dos pratos foram simplificados com o tempo e perdendo a poesia -em lugar dos floreios típicos da cozinha chinesa, viraram esclarecimentos sobre o conteúdo. Daí a "carne desfiada com molho de ostra" ou a "fatia de porco com molho apimentado e repolho".
Mas como comparar "banana que solta fios" com uma mera "banana caramelada"? Um "pato com oito tesouros" parecia muito mais apetitoso que apenas "pato recheado". E que dizer do "camarão borboleta", que, em alguns cardápios, consta como um italianizado "camarão à milanesa"?
Mesmo o frango com mandiopã ganha muito mais atrativo e charme na versão original: "frango saboroso e crocante". Está tudo lá, escrito ao lado do nome em português -nada difícil de decifrar, se você fala chinês.
A culinária chinesa é, ao contrário do que fazem parecer os reduzidos cardápios das entregas em domicílio, muito variada. Está dividida em basicamente três regiões: a pequinesa, de sabor forte e consistência pesada; de Xangai vêm os sabores picantes e ácidos; e a cantonesa, com o agridoce. Todas elas seguindo à risca o preceito fundamental de que a comida deve ter sabor, aroma, cor e boa apresentação, além de estar meticulosamente cortada das mais diversas maneiras: em tiras, quadrados, fatias.
Dizem que na China há, por exemplo, 18 cortes possíveis para preparar a carne de porco, muito usada. Também se usam o frango e os frutos do mar, além da carne de vaca.
A vinda dos imigrantes para a América acabou por originar pratos próprios. O chop suey teria nascido nos Estados Unidos, por volta de 1800, como uma versão local da mistura de legumes e carne já feita na China. O nome seria uma americanização do cantonês "tsap seui", que quer dizer "peças misturadas", feito com restos de comida.
Voltando ao frango frito com mandiopã e outros pratos clássicos, é possível encontrá-los em São Paulo em restaurantes de origem familiar, como o Oriental Ting, na Lapa. Com bons preços (menos de R$ 20 por pessoa por uma refeição generosa), o Ting foi inaugurado em 1983, pela família que leva seu nome. O cozinheiro, que atende por "Ting 1" ("Ting 2" é o irmão caçula), fez um verdadeiro chop suey no cardápio, que reúne os pratos mais conhecidos da culinária chinesa, como o frango xadrez, o porco agridoce ou a sopa de barbatana de tubarão.
Mais antigo, fundado em 1960 -seus proprietários dizem ser o primeiro de São Paulo-, o Kinkon, perto da avenida Paulista, é um dos poucos que ainda trazem o pãozinho recheado com porco como variação aos imbatíveis rolinhos primavera de entrada. Possui também um viveiro de carpas, que são mortas na hora para serem preparadas ao molho de gengibre. De sobremesa, gelatina de algas com amêndoas.
Para quem não larga mão do tal macarrão, há o China Massas Caseiras, modesto porém honesto restaurantezinho em Pinheiros que traz vários tipos de pastéis recheados e de variações sobre os talharins fritos que fizeram a fama da terra dos mandarins.
E, é preciso que se diga, todos eles passaram a entregar em casa. Mas sem as caixinhas dos filmes.


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