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GASTRONOMIA
ORIENTAL
Restaurantes têm cardápio tradicional, com grande número de pratos
São Paulo esconde chineses que vão além das caixinhas
CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem só de macarrão frito chop
suey e de rolinhos primavera, servidos em caixinhas como nos filmes norte-americanos, vive a tradicionalíssima culinária chinesa,
cujas receitas remontam há pelo
menos 3.000 anos.
Para quem tem saudade do velho frango frito com mandiopã,
alguns bons restaurantes chineses
continuam resistindo e mantendo seu estilo peculiar: quadros
com bucólicas montanhas nas paredes, lanternas penduradas no
teto. Restaurante chinês que se
preze tem lá sua dose de cafonice.
Os nomes dos pratos foram
simplificados com o tempo e perdendo a poesia -em lugar dos
floreios típicos da cozinha chinesa, viraram esclarecimentos sobre
o conteúdo. Daí a "carne desfiada
com molho de ostra" ou a "fatia
de porco com molho apimentado
e repolho".
Mas como comparar "banana
que solta fios" com uma mera
"banana caramelada"? Um "pato
com oito tesouros" parecia muito
mais apetitoso que apenas "pato
recheado". E que dizer do "camarão borboleta", que, em alguns
cardápios, consta como um italianizado "camarão à milanesa"?
Mesmo o frango com mandiopã
ganha muito mais atrativo e charme na versão original: "frango saboroso e crocante". Está tudo lá,
escrito ao lado do nome em português -nada difícil de decifrar,
se você fala chinês.
A culinária chinesa é, ao contrário do que fazem parecer os reduzidos cardápios das entregas em
domicílio, muito variada. Está dividida em basicamente três regiões: a pequinesa, de sabor forte
e consistência pesada; de Xangai
vêm os sabores picantes e ácidos;
e a cantonesa, com o agridoce.
Todas elas seguindo à risca o preceito fundamental de que a comida deve ter sabor, aroma, cor e
boa apresentação, além de estar
meticulosamente cortada das
mais diversas maneiras: em tiras,
quadrados, fatias.
Dizem que na China há, por
exemplo, 18 cortes possíveis para
preparar a carne de porco, muito
usada. Também se usam o frango
e os frutos do mar, além da carne
de vaca.
A vinda dos imigrantes para a
América acabou por originar pratos próprios. O chop suey teria
nascido nos Estados Unidos, por
volta de 1800, como uma versão
local da mistura de legumes e carne já feita na China. O nome seria
uma americanização do cantonês
"tsap seui", que quer dizer "peças
misturadas", feito com restos de
comida.
Voltando ao frango frito com
mandiopã e outros pratos clássicos, é possível encontrá-los em
São Paulo em restaurantes de origem familiar, como o Oriental
Ting, na Lapa. Com bons preços
(menos de R$ 20 por pessoa por
uma refeição generosa), o Ting foi
inaugurado em 1983, pela família
que leva seu nome. O cozinheiro,
que atende por "Ting 1" ("Ting 2"
é o irmão caçula), fez um verdadeiro chop suey no cardápio, que
reúne os pratos mais conhecidos
da culinária chinesa, como o frango xadrez, o porco agridoce ou a
sopa de barbatana de tubarão.
Mais antigo, fundado em 1960
-seus proprietários dizem ser o
primeiro de São Paulo-, o Kinkon, perto da avenida Paulista, é
um dos poucos que ainda trazem
o pãozinho recheado com porco
como variação aos imbatíveis rolinhos primavera de entrada. Possui também um viveiro de carpas,
que são mortas na hora para serem preparadas ao molho de gengibre. De sobremesa, gelatina de
algas com amêndoas.
Para quem não larga mão do tal
macarrão, há o China Massas Caseiras, modesto porém honesto
restaurantezinho em Pinheiros
que traz vários tipos de pastéis recheados e de variações sobre os
talharins fritos que fizeram a fama
da terra dos mandarins.
E, é preciso que se diga, todos
eles passaram a entregar em casa.
Mas sem as caixinhas dos filmes.
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