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"NOITES DO NORTE AO VIVO"
Caetano permite as dúvidas em CD
DA REPORTAGEM LOCAL
No palco, "Noites do Norte", de Caetano Veloso, era
um espetáculo de alto impacto
-musical em primeiro grau, mas
também visual, cenográfico, gestual. Em DVD talvez conserve
parcela substancial de tal impacto. Como o disco agora lançado,
tem seus lampejos, mas perde em
relação aos outros formatos.
É que, embora o artista tenha
optado pela reprodução do show
na íntegra, em dois CDs, com as
canções na ordem em que ocorriam, já não é o show "Noites do
Norte" que se pode apreciar aqui.
Isso não lhe rouba a excelência
que possuía, é claro, mas provoca
a diluição da comunhão tensa que
havia entre o som e as evoluções
táticas do Caetano "showman",
ou do embate cru e doloroso do
Caetano "neo-abolicionista" com
músicos negros estrategicamente
refugiados na "cozinha" do palco.
Acompanhar músicos jovens (e
outros não tão jovens) imprimindo intervenções lancinantes sobre
a obra de Caetano não era só ouvir música, era integral -e ardia.
Aqui, no CD, é preciso domar a
atenção para perceber que a música de Caetano hoje se mostra
mais penetrável -mais parangolé?- quando ruídos desconfortáveis e vibrações tensas atravessam
seu canto hoje já tornado convencional, como em "Cajuína", "Haiti", "Tigresa", "Tropicália".
Subtraído o bombardeio coordenado que regia a integridade
cênica do show, "Noites do Norte
ao Vivo" se torna álbum inconstante, às vezes saboroso, às vezes
arrastado. Ora é vigoroso de novidade (como no diálogo briguento
entre "Dom de Iludir" e o funk do
tapinha, ou quando o autor canta
músicas tipo "lado B" que fizera
para Angela Ro Ro, Marina Lima,
Cássia Eller, A Cor do Som), ora
fica meramente redundante (o
poema-título, "Cobra Coral",
"Rock'n'Raul", essas canções do
disco anterior quase todas).
Aqui é nostálgico na medida do
emocionante ("Escândalo", a que
Ro Ro cantara em 81, ou "Magrelinha", que Luiz Melodia lançou
em 73 e nunca fora gravada por
Caetano), ali é emocional na medida do marketeiro (o público fazendo vocais para ele e Lulu Santos em "Como uma Onda").
Mas é quando menospreza as
fórmulas tropicalistas de tese/antítese/síntese que Caetano exercita permitir-nos (e a si) o difícil benefício da dúvida. Assim, pode-se
botar asas à imaginação: "Mimar
Você" (95) seria só uma versão
bonita da música da Timbalada
ou uma "fisga-multidão" candidata a nova "Sozinho", o hit de 99?
"Magrelinha" teria o mais inteligente arranjo que a canção de Melodia jamais sonhou receber ou
seria balão de ensaio testando sofisticar a idéia de "Sozinho"? Ou
tudo isso junto, sem síntese?
Ressalvas e aplausos à parte,
"Noites do Norte ao Vivo" é um
disco sério e longo. Servirá a
quem não viu o show, talvez entedie quem esteve lá. É um disco inteiriço, embora desfalcado do que
dava totalidade ao show de que foi
extraído. Sem ser, er, "total", é um
disco legal de Caetano, e um CD
ao vivo decente. E sem "Sampa"!
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Noites do Norte ao Vivo
Artista: Caetano Veloso
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 50, em média (CD duplo)
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