São Paulo, domingo, 15 de novembro de 2009

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Homoerotismo de dupla ganha mostra

Franceses Pierre et Gilles, famosos por retratos coloridos e pop, tem primeira exposição individual no país, no Rio

"No nosso trabalho há um pouco de dor, não é só leveza", diz Pierre à Folha; cantoras Kylie Minogue e Nina Hagen já foram retratadas


Pierre et Gilles/Divulgação
"São Sebastião da Guerra', trabalho deste ano que está em mostra da dupla francesa no Rio

SILAS MARTÍ
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Kitsch e queer (gay) servem de baliza visual e palavras de comando para a dupla Pierre et Gilles. Desde que se conheceram nos anos 70, numa festa na casa do estilista Kenzo, os parisienses ajudam a definir o que se entende por estética homoerótica nas artes visuais.
Outros vão além e lembram que, mais do que isso, Pierre et Gilles, juntos na arte, na vida e no trabalho desde então, deitaram as bases para o surgimento da chamada sensibilidade gay.
Exageros à parte, conseguiram colocar jogadores de futebol, modelos anônimos, atores pornô, a roqueira Nina Hagen, o estilista Jean-Paul Gaultier e as cantoras pop Kylie Minogue e Madonna no mundo ultracolorido -plumas e paetês são muito pouco- que inventaram.
Esses retratos, reluzentes como balas de goma e pirulitos, estão agora no Oi Futuro, no Rio de Janeiro, na primeira exposição da dupla francesa no Brasil.
"É mesmo a cor que nos atrai, desde sempre", conta Gilles à Folha, num táxi entre o Leblon e o Flamengo. "Todas as cores, não só as da moda, cores da arte, da cultura popular", acrescenta Pierre.

Referências visuais
Na paleta de alta voltagem que costumam empregar, há espaço para tudo. Tanto que as cores transbordam da imagem para a moldura, que pode ser tão transparente e purpurinada quanto o resto do quadro.
São também dois os lados do trabalho. Se a cultura pop tem uma agulha injetada na jugular desse duo, que sampleia desde Teletubbies aos excessos histriônicos de David LaChapelle, existe um substrato de arte dita mais séria -o brilho industrial de Jeff Koons, cartuns que vazam testosterona de Tom of Finland e a base pop de Warhol.
"Somos muito mais visuais do que literários", confessa Gilles. "Mas adoramos misturar as coisas, como vários sabores diferentes numa cozinha."
Mas, ao contrário do que diz Gilles, cabe literatura nessa mistura. Não demora a surgir a maior das influências da dupla mesmo no recorte conciso que está agora no Rio. Jean Genet e seus marinheiros, safados e sofridos, se multiplicam em "Darling Harbour", "Le Marin" (o marinheiro) e "Dans le Port du Havre" (no porto de Havre).
Nessas imagens, a pele plástica de seus personagens ganha outro significado. Enquanto nas aparições quentes e coloridas de suas celebridades e modelos essa textura padrão remete a um ideal de beleza inatingível, quase obsessivo, nos marinheiros, lembra a morte.
"Fala um pouco de sofrimento", diz Gilles. "Gosto quando veem também que no nosso trabalho há interrogações e um pouco de dor", diz Pierre. "Há outras leituras, não é só leveza."
"Wonderful Town" (cidade maravilhosa) dá bem a ideia desse peso. Numa caixa de papelão, coberto de pedaços de isopor, jaz um belo homem, morto e de olhos bem abertos.


PIERRE ET GILLES
Quando: de ter. a dom., das 11h às 20h; até 17/1
Onde: Oi Futuro (r. Dois de Dezembro, 63, Rio, tel. 0/ xx/ 21/3131-3060)
Quanto: entrada franca
Classificação: 16 anos



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