PATRICIA DECIA
da Reportagem Local

É provável que você conheça alguém como Rob Fleming. Ele tem 35 anos, é um fã inveterado de música pop (encarada como coisa séria, e não um simples passatempo) e está em crise, tentando descobrir por que mais um de seus relacionamentos amorosos terminou.
Rob é o protagonista de "Alta Fidelidade", segundo livro do britânico Nick Hornby, 41, que acaba de chegar ao Brasil, três anos depois de ser lançado no Reino Unido.
Lá e nos Estados Unidos, Rob Fleming transformou-se numa espécie de paradigma do "novo homem" da década de 90, mais inseguro e sem saber para onde ir.
A revista "Details", direcionada ao público masculino, até recomendou, ironicamente: "Mantenha o livro fora do alcance de sua namorada -contém muitos segredos para cair em mãos erradas".
Essa identificação do público não é casual. Ao escrever o livro, Hornby adentrou na seara da literatura confessional, doméstica, que, segundo afirmou o autor em entrevista à Folha, "estava como que reservada às mulheres".
Para deixá-lo ainda mais reconhecível, recheou seus parágrafos com toneladas de referências pop e listas dos cinco favoritos (top five), da música aos seriados de TV -reforço extra da literatura "para vender em megastore", bem ao gosto da década.
O resultado final é um elaborado retrato do "adultescente", ou o homem que retarda o final da adolescência para bem depois dos 30.
Esse quadro é retomado pelo autor em "About a Boy", lançado este ano, em que a discussão da adolescência se divide em duas faces: o homem totalmente "cool" e sem preocupações financeiras ou de qualquer outro tipo que se relaciona com um garoto nerd de 12 anos.
Essa literatura transformou o ex-crítico literário do "Independent on Sunday" e do "Sunday Times" em milionário. E seus textos já estão fazendo carreira no cinema: "Fever Pitch", seu primeiro livro, virou filme no Reino Unido; "Alta Fidelidade" em breve estará nos cinemas, com John Cusack como Rob e direção de Stephen Frears; e "About a Boy" também já teve os direitos vendidos para a produtora do ator Robert De Niro, por US$ 3 milhões. Agora, Hornby escreve dois roteiros para cineastas britânicos. Tudo o que ele conta sobre o trabalho é que um deles será uma comédia romântica enquanto o outro é "mais depressivo".