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AMOR NOS TEMPOS DO POP
"Não precisamos crescer', diz Nick Hornby
da Reportagem Local
Leia a entrevista do escritor Nick
Hornby, concedida à Folha, por
fax, de Londres.
(PATRICIA DECIA)
Folha - O que o levou a escrever
um livro como "Alta Fidelidade"?
Nick Hornby - Sempre li, e continuo lendo, muitos livros escritos
por mulheres sobre as relações
contemporâneas. Percebi que havia pouquíssimos livros assim partindo de um ponto de vista masculino. Quis mexer nessa balança.
Folha - Muito já foi dito sobre esse "novo homem", menos autoconfiante e um tanto perdido. Rob Fleming é um personagem representativo disso?
Hornby - Sim, acho que Rob é representativo sob vários aspectos.
Acho que nós tivemos muito mais
escolhas comparados à geração de
nossos pais e é muito fácil ficarmos
paralisados por elas. Rob é confuso
em seus relacionamentos, em seu
trabalho, pelo fato de suas namoradas serem muito mais bem-sucedidas do que ele. Todos esses conflitos são relativamente novos.
Folha - Seu mais recente livro,
"About a Boy", discute a adolescência e, em "Alta Fidelidade",
seus personagens se encaixam na
idéia de "adultescente". O que
acha desse prolongamento da adolescência na vida adulta?
Hornby - O que eu diria é que a vida moderna traz maneiras de esticar a adolescência até os 30, ou até
um pouco mais. Como não precisamos decidir sobre as coisas muito rápido -podemos ter filhos e
escolher a carreira mais tarde-,
não precisamos crescer.
Folha - Qual o maior problema e
a principal vantagem de escrever
uma ficção que acontece aqui e
agora e é cheia de referências à
cultura pop?
Hornby - O problema, acho, é que
o trabalho vai parecer datado em
20 ou 30 anos. E, devo dizer, isso
não me preocupa. Sei que preocupa alguns escritores que estão de
olho na posteridade, mas eu prefiro ser lido agora do que daqui a
cem anos. A vantagem é que você
pode datar e situar muito precisamente o que está acontecendo,
num contexto cultural. Sei que julgo as pessoas pelo que elas lêem,
assistem, ouvem e vestem, e tenho
certeza de que outras pessoas também o fazem. Então, quis poder
transpor isso para meus escritos.
Folha - Todas as referências em
"Alta Fidelidade" são suas?
Hornby - Algumas sim, outras
não. Os livros favoritos de Rob, por
exemplo: li todos e gosto deles,
mas nunca estariam na minha lista
de top five. Eu os escolhi para refletir o caráter do personagem.
Folha - O fato de você ter trabalhado na imprensa influenciou o
modo como você escreve ou os temas que escolhe?
Hornby - Na verdade, a maior
parte do meu trabalho como jornalista foi resenhando livros e isso
não me influenciou muito. A única
coisa que eu diria é que "Fever
Pitch" consiste de várias resenhas
agrupadas, o que, suponho, reflete
uma certa falta de confiança, naquela época, em ser capaz de escrever um livro inteiro.
Folha - Você é retratado como
um outsider, antes da fama. O que
acha desse "personagem"?
Hornby - Acho que todos os meus
livros são sobre pertencer a uma
comunidade. Nunca me senti outsider, porque meus interesses me
ajudam a fazer amigos rapidamente. Estou mais interessado em como as pessoas se relacionam.
Folha - Você ficou milionário. Mudou a forma como você se vê?
Hornby - Nada mudou, na verdade, apesar de agora eu poder fazer
exatamente o que quero em termos profissionais -e acho que
posso não fazer nada, se estiver a
fim. Mas não quero ficar parado.
Folha - Na lista de seus autores
favoritos há apenas escritores de
língua inglesa e nenhum poeta.
Qual o motivo?
Hornby - Não consigo ler traduções -é muito difícil ler uma tradução e sentir que você está lendo
as próprias palavras do escritor.
Não acredito fazer parte de uma
tradição literária britânica, especificamente. Acho que o mundo mudou. Vejo filmes americanos, leio
livros americanos, ouço música
francesa, assisto a televisão inglesa... Sou um produto disso tudo,
como todo mundo é agora.
Folha - Os britânicos estão sempre à procura da nova tendência,
das bandas, livros e filmes mais novos e "cool" possível. Como é escrever nesse clima?
Hornby - Amedrontador! Acho
que meus livros são mais calorosos
do que "cool", o que significa que
eles têm uma relação difícil com
gente "cool". A coisa mais difícil de
estar na moda é a inevitável consciência de que você vai ficar fora da
moda em algum momento.
Folha - Você já está escrevendo
um novo livro?
Hornby - Estou trabalhando em
dois roteiros, no momento, para
cineastas ingleses. Um é uma comédia romântica, o outro, um
pouco mais depressivo. Provavelmente não começarei a escrever
outro livro até o ano que vem.
Folha - Você vendeu os direitos
de filmagem de "About a Boy" para o Robert De Niro. E "Fever Pitch"
já virou filme. E quanto a "Alta Fidelidade"?
Hornby - "Alta Fidelidade" vai
ser filmado em 99, em Chicago. Será dirigido por Stephen Frears e estrelado por John Cusack.
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