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DISCO LANÇAMENTOS
Brian Wilson diz que
ainda está em 1966
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
O homem-mito está de volta.
Nos últimos dez anos, Brian Wilson, 56, pareceu deixar de ser um
personagem real, recolhendo-se e
passando a assistir de longe ao
sempre crescente culto a sua figura
enquanto líder da banda pop sessentista Beach Boys.
Agora, volta com "Imagination",
primeiro álbum solo de canções
inéditas em dez anos. É, por enquanto, mais um soluço de uma
carreira fincada na instabilidade.
Líder desde 1961 da mais famosa
banda de surf music da história,
Brian cometeu em 1966 o álbum
"Pet Sounds", que inspirou o "Sgt.
Peppers Lonely Hearts Club Band"
(67) dos Beatles e hoje carrega status de lenda no cenário pop.
Nas ressaca de "Pet Sounds", a
combinação entre instabilidade
emocional e uso desenfreado de
drogas levou os Beach Boys a uma
carreira para sempre inconstante.
Em 1988, houve o soluço solo de
Brian. Seu primeiro disco, "Brian
Wilson", causou espécie por razões extramusicais: foi produzido
e composto em parceria com Eugene Landy, psiquiatra de Brian,
que clamava ter resolvido os problemas psicológicos do artista.
Em meio a disputas entre terapeuta e família e a persistente instabilidade, Brian se recolheu novamente. Lançou, em 95, "I Just
Wasn't Made for These Times"
-um álbum só de regravações.
Em entrevista por escrito à Folha, Brian Wilson falou sobre a
volta com "Imagination" e admitiu que se mantém atado ao ápice
de 1966. "Ainda estou em "Pet
Sounds', com todo aquele amor."
Folha - Por que você ficou dez
anos sem lançar canções inéditas?
Brian Wilson - Fiquei tão machucado por meu primeiro disco não
ter vendido que me desliguei. Mas
estive sempre escrevendo canções.
Quando decidi fazer um novo álbum, não usei nenhuma dessas
canções antigas que escrevi. Eu
guardei-as. Elas podem ser gravadas um dia, porque são canções
rock. Rock'n'roll faz bem à alma.
Folha - Como você definiria o disco "Imagination"?
Wilson - Como uma coleção de
canções espirituais de amor.
Folha - Em texto que acompanha
o CD, você diz: "É como se eu visse
alguma luz. As coisas fazem sentido para mim novamente". Elas haviam perdido o sentido?
Wilson - Às vezes, atravesso períodos em que penso que ninguém
se importa comigo. Vou ao piano e
componho. Tenho muita música
em minha alma, mais do que eu jamais poderia exteriorizar.
Quando minha alma precisa se
expressar, vou para o piano. Passei
por muita coisa ruim. Agora casei,
e adotamos duas crianças. Minha
vida se alegrou, se renovou.
Folha - Por que você opta por fazer quase todos os backing vocals?
Wilson - Para que o disco soasse
como uma pequena coleção de
canções vindas de um mesmo lugar, um lugarzinho chamado Brian
Wilson. Ele representa o meu
amor.
Folha - O som que você criava
com os Beach Boys ainda faz sentido à beira do século 21?
Wilson - Não, as novas canções
não são contemporâneas. Estão
um pouquinho fora de época, mas
vêm do coração. Minha música é
um pouco antiquada hoje em dia, e
estou orgulhoso de dizer isso. O
modo como canto está fora de moda. E, é claro, o amor está fora de
moda. A música de hoje não tem
muito amor. Ainda estou em "Pet
Sounds", com todo aquele amor.
Folha - Você é considerado um
gênio por muitos artistas e críticos.
O que você pensa disso? Influencia
seu modo de trabalhar?
Wilson - Fico honrado que as pessoas pensem que sou um gênio.
Quando fiz "Pet Sounds", as pessoas disseram que eu era um gênio.
Me considerei um gênio pelo modo delicado como criava música.
Ser chamado de gênio me afeta,
sim. Me dá confiança em minha
habilidade de compor. O lado mau
é que você tem que sobreviver a isso.
É sabido que você teve muitas
experiências com drogas. Como
elas influenciaram -ou determinaram- o curso de sua carreira?
Wilson - Elas não influenciaram o
desenvolvimento de minha carreira. Só me fizeram mais consciente
ao cantar. Me forçaram a vasculhar
minha alma. Eu não gostava de
drogas. Fodam-se as drogas. Me fizeram medroso da vida e das pessoas. Me forcei a sair delas. Não use
drogas. Quem precisa delas, afinal?
Tudo que fazem é torná-lo paranóico. Seja natural.
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