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SEPULTURA EM LONDRES
Grupo leva escola de samba hardcore ao Astoria
SÔNIA MAIA
especial para a Folha, em Londres
Durante três dias, de 25 a 27 de
novembro, os shows do Sepultura
e do Slayer dominaram a cena da
área central de Londres -uma das
mais concorridas, a da estação de
metrô Tottenham Court Road.
Desde o primeiro dia, cambistas
disputavam o público já dentro da
estação.
Alguns chegavam a comprar os
nada baratos bilhetes de metrô para buscar o cliente ainda na escada
rolante que leva até as catracas de
Tottenham.
Eles não apenas vendiam os ingressos, que estavam esgotados
havia mais de três semanas, como
também se dispunham a comprar.
A disputa se repetia ao longo do
trajeto até a porta do clube Astoria,
a menos de cinco minutos a pé daquela estação.
Lá, eles dividiam o espaço com os
vendedores ambulantes de camisetas, metade carregando as estampas do Sepultura, metade as do
Slayer.
A expectativa gerada na rua por
esses personagens se confirmava
dentro do Astoria. Com capacidade para 2.000 pessoas, a casa ficou
lotada todas as noites de jovens
rockers, em sua maioria ingleses,
vestidos a caráter: metade com as
camisetas do Slayer, metade com
as do Sepultura na versão Copa do
Mundo, nş 10 nas costas, devidamente pirateadas pelos camelôs.
Depois da apresentação da banda armênia-americana System of a
Down, a platéia se comprimia no
espaço para conferir os brasileiros
em sua nova formação.
²
Escola de samba hardcore
O tema mais sinistro de "Laranja
Mecânica" serviu de mote para a
abertura do show, seguido da bateria de Igor Cavalera e o peso da conhecida massa sonora do Sepultura.
O show foi ousado. Eles optaram
pelo repertório do último CD,
"Against", desde a música-título,
passando por "Choke", "Old
Earth", "Common Bonds" e "Floaters in Mud", que contou com a
participação de todo o backstage
no palco, munido de tambores extras para garantir o clima de escola
de samba hardcore.
O novo vocalista, Derrick Green
-quase dois metros de altura, cabelos alongados pelos dreadlocks e
uma voz gutural bem ao gosto do
hardcore nova-iorquino-, foi
duas vezes apresentado à platéia.
A ousadia da banda não se ateve,
no entanto, ao repertório, ainda
pouco conhecido da platéia.
O Sepultura mostrou um experimentalismo de hospício dado pelo
guitarrista Andreas Kisser, misturado à percussão ora baião, ora
samba, ora puramente tribal de
Igor Cavalera.
Foi apenas nos antigos sucessos,
como "Chaos" e "War for Territory", deixados para o final do
show, que se sentiu a falta de um
elemento da antiga formação: a
guitarra de Max Cavalera.
Mas, na contabilidade final, o público descobriu que mais ganhou
do que perdeu com a tumultuada e
chorosa separação.
No caso dos ingleses, em vez de
um show em Londres do Sepultura, ganharam duas apresentações
comandadas por três dos mais talentosos artistas do gênero: Igor
Cavalera, Andreas Kisser e Max
Cavalera, que fez um único show
com seu atual Soulfly em 19 de
maio deste ano no mesmo Astoria,
com ingressos igualmente esgotados.
²
Estratégia
No segundo dia do Sepultura e
do Slayer, um cambista usava o nome da banda brasileira como mote
de venda. O legendário Slayer entrou com o som mais alto e luzes
mais potentes.
Seria o medo de se ver na mesma
situação do Sodom, quando o Sepultura, ainda galgando os primeiros degraus da fama, roubou a platéia dos alemães?
O nome do Slayer é incomparável ao sucesso talvez passageiro de
um Sodom. Mas a estratégia de
marketing do Sepultura foi a mesma.
Temeroso de enfrentar uma exigente platéia européia só com as
próprias pernas, uniu-se ao Slayer
para garantir uma turnê sem surpresas desagradáveis.
Agora eles devem saber que nem
precisariam ter usado desse artifício. De Londres, seguiriam para
Suécia, França e Praga, depois de
uma turnê por cidades dos EUA.
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