São Paulo, quarta-feira, 16 de janeiro de 2002

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Elis
Nossos ídolos ainda são os mesmos

Dirigido por Diogo Vilela, "Elis - Estrela do Brasil" pré-estréia hoje no Rio, duas décadas após sua morte

VALMIR SANTOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Alvo -ou, adoniranamente, "alvaro"- de projetos anteriores nas artes cênicas (coreografia do balé Stagium e solo de Denise Stoklos, por exemplo), pela primeira vez Elis Regina (1945-82) é lembrada no palco com a perspectiva do gênero teatral que talvez batesse mais forte no coração da intérprete gaúcha: o musical.
Quem se lança ao desafio de retratar o mito são o baiano Douglas Dwight e a alagoana Fátima Valença, dupla de jornalistas que vive no Rio e conquistou mais visibilidade a partir de "Dolores" (99), sobre a trajetória da cantora e compositora Dolores Duran.
"Elis - Estrela do Brasil", espetáculo que pré-estréia hoje na sede carioca do Centro Cultural Banco do Brasil, a dois dias de se completarem 20 anos da morte da cantora, tem diálogos escritos por Dwight e Valença. O roteiro de cenas e números musicais foi concebido a seis mãos, incluídas as de Diogo Vilela, ator que assina a segunda direção teatral na carreira -seu primeiro musical, diga-se, precedido do primeiro drama, "Jornada de um Poema" (2000).
Durante cerca de dois anos, o trio pesquisou toda a discografia e bibliografia disponível sobre a cantora que saiu de Porto Alegre para conquistar o Rio, o Brasil e o mundo, na escala geográfica e valorativa de Valença, 47. "Mostramos uma mulher movida pela paixão e pelas contradições do pleno exercício da liberdade que preservou a vida toda, inclusive a liberdade para mudar de opinião", diz Dwight, 41.
Diogo Vilela diz se esquivar de julgamentos sobre personalidade tão idiossincrática: "Trouxemos o arquétipo da Elis para o teatro". Para o diretor, o repertório eleito por Elis está fundamentalmente ligado aos momentos históricos do Brasil. Vilela abraça o "patriotismo". Não à toa, toma como base o show "Saudade do Brasil", que estreou no Rio em 80. A saudade, argumenta Elis à época, início da abertura política, não é endereçada ao que morreu, mas ao que está "vivo, solto e nunca deixou de existir".
Aldir Blanc e João Bosco, compositores interpretados com recorrência por Elis, foram praticamente excluídos da seleção de Dwight, Valença e Vilela. "O Bêbado e o Equilibrista", por exemplo, ganha citação apenas instrumental, ao contrário de Vinicius, Jobim, Milton e outros. "Vamos colher os louros e os espinhos", prevê Valença, dizendo-se preparada para cobranças quanto a "cortes doloridos" de canções e personagens na montagem que deve durar 2h15.
A música, pretende-se, está a favor do teatro, e não ao contrário. São cerca de 40 canções (um quarteto faz acompanhamento ao vivo) entrecortadas por momentos da vida e da carreira de Elis Regina, dos dez aos 34 anos. A primeira parte do espetáculo concentra-se na infância e, segundo autocrítica de Valença, traz o filão dramatúrgico mais acurado do que se verá em cena. São eleitos personagens, por exemplo, Seu Romeu (Marco Oliveira) e Dona Ercy (Malu Valle), pais da menina que, aos 12 anos, canta pela primeira vez no programa "Clube do Guri", da rádio Farroupilha (RS).
Os ex-maridos Ronaldo Bôscoli (Jandir Ferrari) e Cesar Camargo Mariano (Nelson Freitas), além dos parceiros Jair Rodrigues (Flavio Bauraqui) e Bebel Lobo (Edu Lobo, na interpretação da filha), são alguns dos personagens pincelados. Há 21 atores no elenco.
Quem interpreta Elis é Inez Viana, 36 ("a idade na qual Elis morreu"), do musical "Cole Porter, Ele Nunca Disse que me Amava" (2000), de Claudio Botelho e Charles Möeller. Com registro vocal de mezzo-soprano, como Elis, Viana faz solo em 33 canções. Nelas e nos diálogos, oscila gargalhadas e prantos. Estrábica, cabelos curtos durante anos, 1,53 metro, enfim, são características da cantora que a atriz, dois centímetros a menos, tenta seguir à risca. Lança mão até de prótese nos dentes. "Os meus são grandes, e os dela eram menores, cerradinhos."



ELIS - ESTRELA DO BRASIL. De: Douglas Dwight e Fátima Valença. Direção: Diogo Vilela. Direção musical: Cristóvão Bastos. Onde: Centro Cultural Banco do Brasil -°teatro 1 (r. Primeiro de Março, 66, centro, Rio, tel. 0/xx/21/3808-2020). Quando: pré-estréia hoje, às 20h30, para convidados, e estréia amanhã, às 19h, para o público; de qua. a dom., às 19h. Quanto: R$ 10. Até 7/4. Patrocinador: Banco do Brasil.



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