São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

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Jogo da Amarelinha

Divulgação
A atriz Nicole Kidman, em cena de "Dogville', do diretor dinamarquês Lars von Trier; ao lado, Tom Cruise em "O Último Samurai"


Em "Dogville", início de sua trilogia sobre os EUA, Lars von Trier filma sem cenários; marcas de giz indicam as "construções"

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Nicole Kidman pede um cigarro. Não é comum uma estrela de Hollywood fumar enquanto fala com jornalistas, diante de centenas de câmeras. Mas nada obedece ao previsível quando a estrela protagoniza um filme de teor antiamericano, com a assinatura do dinamarquês Lars von Trier, 47.
Zombador, Trier parece se divertir na corda bamba das classificações -gênio ou impostor? No Festival de Cannes de 2003, quando foi exibido pela primeira vez "Dogville", que estréia hoje no Brasil, o cineasta foi ambos.
Para quase toda a imprensa presente (cerca de 2.500 jornalistas), a sessão do filme foi o ponto alto do festival. O júri presidido pelo francês Patrice Chéreau desconheceu-o por completo, negando ao longa prêmios e menções.
"Dogville" é o primeiro título da trilogia que Trier dedica a esmiuçar a sociedade norte-americana. A idéia é uma revanche aos críticos que desmereceram "Dançando no Escuro" (2000), que Von Trier ambientou nos EUA, sem jamais haver visitado o país. (Leia entrevista ao lado.)
Em maio do ano passado, durante Cannes, Trier ainda se empenhava em convencer Kidman a estrelar os dois próximos títulos da trinca. Ela havia garantido sua participação em apenas mais um. O diretor rejeitava a idéia de substituir a atriz principal no terceiro e último filme. A ser assim, preferia escalar uma intérprete diferente para cada título da série.
Voz e olhar doces -raridades em seu comportamento-, Von Trier implorou a Kidman: "Você só tem que falar para eles [os jornalistas]: "Sim, eu farei esses dois filmes com Lars'". Ele se antecipava à resposta da atriz, indagada sobre seus projetos a seguir. "Já conversamos sobre isso, Lars", foi tudo o que ela disse. E baforou novamente a fumaça do cigarro.
Hoje se sabe que Kidman manteve a recusa ao compromisso com o último filme. Trier escolheu Bryce Howard para o segundo, "Manderlay", que está em início de produção.
Assim como "Dogville", o título do próximo filme corresponde ao nome de uma imaginária cidade norte-americana, onde Grace, a heroína da trilogia, seguirá sua saga. Com ou sem a grande estrela, a história recente dos Estados Unidos, vista por um de seus desafetos, continua.


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