São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"O ÚLTIMO SAMURAI"

Um (bom) épico melodramático

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

No começo de "O Último Samurai" é quase possível ouvir o grito de "ação" do diretor antes de cada imagem. O filme se apresenta como um épico no sentido tradicional. Centenas de figurantes se deslocam em movimentos orquestrados; a grua sobe para que a câmera revele cenários visivelmente construídos. Tudo é real e falso ao mesmo tempo: é o poder das produções de larga escala exibindo sua imponência.
Aos poucos, no entanto, o filme vai se despindo desses excessos e assume outros, mais arriscados. Sem perder o senso da aventura, a trama toma rumos surpreendentes em direção ao melodrama.
Em sua essência, "O Último Samurai" é muito parecido com "Irmão Urso", o mais recente desenho da Disney. Basicamente, conta a história de um homem que, por circunstâncias que lhe escapam da vontade, descobre o ponto de vista do inimigo. Mais do que isso, ele decide se transformar no inimigo. É o cinema americano purgando a culpa do Estado americano, belicoso e incapaz de enxergar a alteridade. Como "Irmão Urso", "O Último Samurai" é um filme com uma mensagem muito evidente, antibélica e a favor da compreensão do outro.
É verdade que essa relativização do inimigo é um tanto superficial. Tom Cruise é o capitão Nathan Algren, veterano da Guerra Civil contratado pelo imperador japonês para treinar o primeiro Exército do Japão equipado com armas de fogo. Eles têm uma missão específica: combater os samurais, antigos protetores do imperador no Japão feudal, que na época eram empecilho para a unificação e a abertura do país ao Ocidente.
No primeiro e precipitado combate, Nathan é seqüestrado por um grupo de samurais liderado por Katsumoto (Ken Watanabe). Refém, passa a ser treinado com a técnica do inimigo. O problema é que, numa simplificação extrema, a partir daí os samurais tornam-se heróis absolutos.
O filme, com alguma sinceridade, quer ser um grande espetáculo sem abandonar a emoção. Acaba conquistando algumas lágrimas furtivas, porém sinceras.


O Último Samurai
The Last Samurai
   
Produção: EUA/Japão/Nova Zelândia
Direção: Edward Zwick
Com: Tom Cruise, Ken Watanabe
Quando: a partir de hoje nos cines Butantã, Ipiranga e circuito



Texto Anterior: Dogville: Fábula ataca fragilidade humana
Próximo Texto: Mônica Bergamo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.