São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

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ERIKA PALOMINO

FASHIONISTAS SE JOGAM NA MODA DE INVERNO

Agora sim começou o ano para a moda. O Amni Hot Spot começou anteontem, enquanto da Europa sopram os novos ventos do masculino de Milão. Os jovens criadores neste primeiro dia se mostraram mais consistentes e seguros. A Casa das Caldeiras foi vestida de circo, emprestando um saudável tom descompromissado, inexistente nas cinco edições anteriores (e não é que no caminho tem um circo mesmo, o Circo Spacial? Eu quase entrei com o carro por engano!). No subsolo do espaço, o que é underground ganhou cara de superprodução. O espetáculo vai começar. Uma banda de rock tocou ao vivo na vinheta do patrocinador e pronto: estava selado o evento como algo realmente jovem, para jovens. Ufa.
A Neon agradou aos olhos especializados com uma coleção inteligente e sem pretensão, preservando seu caráter experimental na roupa de banho e avançando em direção a peças marcantes, como o delicioso poncho de couro com nó na ponta. Dudu Bertholini e Rita Comparato pesquisam o vintage e o atualizam, com silhuetas vindas dos 80, com tempero anos 20, mais uma coisinha ou outra de balé e, principalmente, de paixões pessoais de moda, como os turbantes, as estampas com splashes fluo e os desenhos cruzados dos decotes e tops.
Fabia Bercsek cresceu e começa a criar para mulheres adultas e mais verdadeiras. Enxugou sua silhueta e acerta agora nas proporções, alcançando bons momentos em looks intercambiáveis de saia, blusa e cardigã leve, mas também no mantô-fetiche de lã bege. Poderia passar sem os spencerzinhos xadrez (são fortes ainda na memória os de Herchcovitch), e investir mais em suas boas listras, as batas, reforçando ainda mais a feminilidade contemporânea de seu amadurecido trabalho.
Veja todos os looks no site www.erikapalomino.com.br.

MASCULINO FERVE COM TOM FORD
Tom Ford emprestou especial brilho à temporada do masculino em Milão. Em seu último desfile do masculino da Gucci, ele recebeu uma ovação em pé do público, que enlouqueceu com seus playboys de silhueta enxuta, anos 70, modelos que entravam na passarela com copo de uísque e cigarro na mão, tendo como cenário pole dancers desnudas (somente um menino, estrategicamente colocado em frente ao namorado do estilista, o editor da "Vogue", Richard Buckley). Para criar isso, Ford foi na essência da marca. "O consumidor da Gucci é glamouroso, chique, um playboy elegante. Eles fumam, bebem, saem à noite, dormem com homens ou mulheres. Eles aproveitam a vida. E esse desfile é sobre isso", disse o estilista ao "WWD". Ford admitiu ainda que ficou extremamente deprimido com sua saída do grupo Gucci, mas que agora só pensa em fazer o melhor trabalho possível até sua saída, em abril, já que tem ainda três desfiles pela frente e tem que colocar sua equipe para cima. Parece que até antes do Natal Ford tentou compor um acordo com os executivos da PPR, aceitando deixar de fazer a YSL e baixando o valor que pediu para ficar, mas não houve jeito. A D-Squared agradou, com um bom desfile, muito produto, inspirada no look country de sua terra natal, o Canadá, enquanto a D&G fez um passeio multicultural, contemplando até mesmo o Brasil (na t-shirt de Naomi Campbell). A Prada surpreendeu, com simpáticas estampas de robozinhos e até tie-dye, em seu mais casual desfile até hoje. "Quando são jovens, usam t-shitrs detonadas e jeans; quando viram homens de negócio se vestem de modo mais formal", declarou a estilista. Em sua volta ao masculino, Jil Sander veio elegante e moderno, com pólo fechada com paletó, roupa de altíssima qualidade (puro luxury, daquele modo casual mas supercaro que só ela faz). Nada de revolucionário, mas cartela linda, com neutros, e um incrível cashmere rosa claro.

CASAL DEPEYRE ESTRÉIA BEM
O casal Melissa e Julien Depeyre abre as sessões, estreando com a marca que é seu sobrenome. Julien é o tímido francesinho por trás de muitos dos sucessos de Reinaldo Lourenço. O casamento de informações de moda com esperteza das ruas se dá sob o signo do rock, e o casal investe nos modernistas urbanos, com silhueta fina e alongada, perfume gótico, com o roxo pincelando as peças, sempre em preto e cinza. Com um bom casting, eles acertam nas proporções, principalmente com o minivestido em índigo. Érica Ikezilli vem mais conceitual, aprimorando-se no corte e na costura. A roupa vem mais trabalhada, com vestidos de cintura marcada, pitadas de knitwear e McQueen fazendo do picote pontudo a característica. Correu mais riscos e assinou o desfile com o último look, um otimista vestido multicor.

ANIMADOS ENCERRAM HOT SPOT
O Hot Spot termina hoje com o esperado segundo desfile de J.Pig, revelação da última temporada, com um desfile inspirado no universo do circo. O styling é de Felipe Veloso, o fashionista mais fashion -que no primeiro dia estava inteiro de Burberry. Depois, Simone Nunes e Emilene Galende (essa em ótima forma), com muitas estampas e um simpático perfume vintage. Eduardo Inagaki, que vem agradando com seu estilo conceitual e usável, vem em seguida, e finalmente o encerramento acontece com o mais famoso camiseteiro de São Paulo, Adriano Costa. Ele vai colocar 50 modelos na passarela, reunindo novamente modelos e personalidades de seu círculo, como Bianca Exótica e afins. A coleção fala dos fatos do cotidiano, tendo como ícones Peter Pan, Michael Jackson e um pouco de Roberto Marinho (!!!).


Colaborou Camila Yahn, free-lance para a Folha

palomino@uol.com.br


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