São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TELEVISÃO

Novo "reality show" de canal pago dos EUA estréia sem eficácia para resolver crises e parece "Rainha por um Dia"

"Queer Eye" para mulheres tende ao constrangedor

ALESSANDRA STANLEY
DO "NEW YORK TIMES"

Tudo começou com o programa "Queer Eye for the Straight Guy", produzido pelo canal Bravo -que no Brasil é exibido pelo canal pago Sony. Era divertido.
O mesmo se aplica à paródia reversa, "Straight Plan for the Gay Man" (que foi exibida em curta temporada pelo GNT). Mas o derivativo distante "Queer Eye for the Straight Girl" realmente não funciona.
Há muitas mulheres que não escovam os cabelos ou jogam fora os jornais velhos, mas nos "reality shows" elas parecem mais patéticas que bonitinhas.
"Queer Eye for the Straight Guy" funcionava bem ao remexer em todos os doces estereótipos que temos sobre os homens heterossexuais, definindo-os como malcuidados, grosseiros e necessitados de um toque feminino -ou, no caso, da dica de um homem gay.
Na noite de estréia do "reality show", que aconteceu na última quarta-feira nos Estados Unidos, Nicole, 29, uma insegura mulher que usa jeans e bonés de beisebol, recebe a visita de uma equipe da SWAT formada por três exuberantes homens gays e uma lésbica -Damon Pease, Danny Teeson, Robbie Laughlin e Honey Labrador-, todos especialistas em estilo, que vão ajudá-la a preparar sua festa de 30º aniversário.
"Trinta é o novo 20", diz Robbie, responsável pelo quesito aparência, ou seja, roupas e maquiagem. (O que presumivelmente implica que dez seja o novo zero.)
A equipe conclui que Nicole precisa de um tratamento à maneira de "Sex and the City" ou, como define um de seus integrantes, "precisa ser menos Charlotte e mais piranha".

Crise
Mas as piadas verbais e físicas dos estilistas não funcionam bem diante da crise que eles têm de ajudar a resolver. Os problemas de Nicole parecem ser mais profundos que uma má coleção de sapatos e uma falta de almofadas. Ela parece angustiada e chora sempre que fala do pai, que morreu na época em que ela estava na faculdade.
E não é uma idiota. Depois de uma sessão intensa de compras e tratamento em um spa (que inclui máscara de algas para o traseiro), ela diz, mansamente: "Não me interpretem mal, mas isso tudo é muito superficial".
Para exorcizar a desordem interior de Nicole, Danny, que fala com sotaque londrino e cuida do aspecto "vida", dá a ela um maço de cartas de tarô e algumas dicas espirituais estilo new age.
Ela está pronta para a festa, usando um vestido preto que lhe deixa as costas nuas e sapatos de salto agulha. Um rapaz bonito por quem ela se interessa em segredo foi convidado para a festa, como uma surpresa para Nicole, e o espanto e as lágrimas de alegria que ela derrama ao vê-lo são pungentes -e meio tristes.
O que começou como um programa irônico de transformação se torna uma espécie de choroso "Rainha por um Dia", e isso incomoda muito mais do que diverte.
O "reality show" é exibido semanalmente e ainda não tem previsão de chegada ao Brasil.


Tradução Paulo Migliacci

Texto Anterior: Cinema: O mundo antigo é mais macho que o atual
Próximo Texto: Lançamentos / DVD - Coleção: Caixa envereda pela América de Oliver Stone
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.