São Paulo, sexta, 16 de janeiro de 1998.



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Vida e morte do Blues


Gênero perdeu três grandes nomes em 97, mas uma nova geração se firma


SÉRGIO TEIXEIRA JR.
da Reportagem Local

O ano de 1997 foi um dos mais "blues" da história do blues. Três nomes de peso morreram, um está gravemente doente -mas, se existe um "equilíbrio natural das coisas", três jovens talentos também dão seus primeiros passos.
Desapareceu mais uma parte da geração que deixou o sul dos EUA em direção ao norte a partir dos anos 40 e mudou os rumos do que hoje se chama música popular.
Da grande imprensa, tanto aqui como lá, essas notícias passaram longe. Só topando com elas na Internet ou nas revistas especializadas (difíceis de encontrar e caras).
Dos nomes históricos, sobram cada vez menos.
Velhos, alguns praticamente não podem mais tocar, como Pinetop Perkins e John Lee Hooker. Poucos têm a vitalidade de B.B. King, 72, que desafia idade e problemas de saúde e dá a impressão de que vai estar em turnê mundial até o final da vida.
Os guitarristas Luther Allison e Johnny Copeland e o cantor Jimmy Witherspoon não resistiram -morreram no ano passado. O gaitista Junior Wells sofreu um ataque cardíaco em setembro, chegou a estar em coma e segue internado em estado grave. É muito provável que não volte a tocar.
Por coincidência, as duas últimas gravações de Allison e Copeland estão no mesmo disco, "Paint it Blue" (gravadora House of Blues), uma coletânea de clássicos dos Stones regravados por "bluesmen". São as melhores faixas do CD, que também tem "Satisfaction" com Junior Wells.
Mas no ano passado três novos astros também garantiram seus lugares entre os "titulares": Kenny Wayne Shepherd, Jonny Lang e Monster Mike Welch, todos guitarristas.
Embora não tenham a história sofrida dos "bluesmen" originais -infância pobre no sul, trabalho nas plantações de algodão, largar tudo para tentar a sorte como músico em Chicago etc.-, também não podem ser considerados apenas "três rostinhos bonitos".
Saúde frágil
A primeira morte foi a de Copeland, em 3 de julho, por causa de complicações cardíacas. Seus problemas de coração não eram novos. Desde 1995, ele já havia sido operado oito vezes.
No primeiro dia de 1997, foi submetido a um transplante de coração, após anos de espera por um doador e mais de 20 meses vivendo com o auxílio de um aparelho implantado no abdome para ajudar o coração a funcionar.
Uma semana depois, em 10 de julho, foram diagnosticados os tumores intratáveis no pulmão e no cérebro de Luther Allison, 57, horas após um show. Era tarde demais. Um mês e dois dias depois, ele morreu, internado.
Em 18 de setembro, Jimmy Witherspoon foi encontrado morto por seu filho em sua casa, em Los Angeles. Morreu aos 74, enquanto dormia, de causas naturais.
Junior Wells, que tinha passagem pelo Brasil prevista para o começo de 97, ainda está inconsciente no hospital. Sua condição geral é muito instável para que ele possa ser tratado do câncer nos gânglios linfáticos de que sofre.
Keri Leigh, colunista da revista "Blues Revue", escreveu que não se lembra de um ano de tantas perdas. Lembra de 1992, quando morreram Willie Dixon, Johnny Shines e Albert King.
Junto com alguns de seus "personagens", foi-se também Robert Palmer, ex-jornalista da "Rolling Stone" e do "The New York Times" e autor de "Deep Blues", considerado o melhor livro sobre a história desse gênero de música.



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