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FESTIVAL DE BERLIM
"The Yes Men" mostra as ações de um grupo ativista americano que se faz passar por integrante da OMC
Documentário faz ataque com "guerrilha satírica"
DO ENVIADO A BERLIM
Ironia, sarcasmo, criatividade.
Estas são as armas de uma nova
forma de guerrilha apresentada
na Berlinale, como é chamado o
Festival de Berlim.
Mesmo homenageando Che
Guevara, o mais famoso guerrilheiro do século 20, em duas produções italianas, de Gianni Minà,
que realizou "Traveling with
Che", um making of do filme
"Diários de Motocicleta", de Walter Salles (ainda sem previsão de
estréia no Brasil), e "La Ultime
Ora del Che", de Romano Scavolini, sobre os últimos momentos do
líder na Bolívia, um outro perfil
de guerrilheiro chamou a atenção
do festival. Foi com o documentário "The Yes Men", exibido na seção Panorama (filmes fora de
competição, em que também estavam os brasileiros "Fala Tu",
documentário de Guilherme Coelho, e "O Outro Lado da Rua", de
Marcos Bernstein).
Lançado no Sundance Festival,
nos Estados Unidos, no mês passado, a produção dos diretores
norte-americanos Chris Smith,
Sarah Price e Dan Ollman apresenta Mike e Andy, dois personagens do grupo de ativistas Yes
Men, que realizam performances
satíricas à globalização, a partir do
uso da internet.
Eles criaram, para tanto, um falso site da Organização Mundial
do Comércio (www.gatt.org) e,
por conta dele, acabam sendo
convidados para palestras e debates na TV por desavisados que
acessam o site -praticamente
igual ao da poderosa instituição
econômica-, e se assumem como representantes da entidade.
"Por três vezes a Organização
Mundial do Comércio tentou derrubar nosso site, mas sempre conseguimos mantê-lo", contou Mike, durante entrevista em Berlim.
O site institucional dos ativistas
é www.theyesmen.org.
A internet, no entanto, é apenas
a forma de realizarem contatos.
São suas performances anarquistas a parte mais vibrante do documentário.
Eles se travestem de executivos
e criam situações absurdas para a
OMC, como em uma palestra numa universidade de Nova York,
na qual apresentaram a idéia de
reciclagem de alimentos, isto é,
que todo o excremento do primeiro mundo seja reciclado para
a criação de hambúrgueres a serem consumidos em países do
Terceiro Mundo.
Naquela ocasião, a reação da
platéia foi quase automática, mas
em muitas outras palestras, não é
o que se vê.
Durante oito meses, a equipe
que realizou o documentário
acompanhou o grupo Yes Men
pela Finlândia, França, Bélgica,
Austrália e Estados Unidos, apresentando suas iniciativas, que levaram a platéia do cinema às gargalhadas praticamente durante
toda a exibição da produção, que
conta também com depoimentos
do polêmico documentarista Michael Moore (de "Tiros em Columbine").
Tirar a roupa
Apesar de armarem situações
absurdas -na Finlândia, chegaram a tirar os ternos, deixando à
vista uma roupa dourada com um
imenso pênis e uma televisão em
sua ponta, que controlaria todos
os trabalhadores de uma empresa-, os ativistas costumam ser
aplaudidos e, no geral, ninguém
admite perceber que se trata de
uma farsa.
Na Austrália, por exemplo, foi
manchete dos jornais o que Mike
chegou a anunciar durante uma
de suas palestras: que a Organização Mundial do Comércio iria
passar por uma reestruturação
durante quatro meses para se dedicar a diminuir a pobreza e a fome do mundo.
(FABIO CYPRIANO)
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