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TEATRO
Encenador italiano completa 50 anos no país e lança "Hipocritando", livro que mescla crônica e "dicas" para iniciantes
Gianni Ratto descortina ofício do ator
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Primeiro, Gianni Ratto esquadrinhou suas memórias entre a
geografia afetiva de Milão, cidade
italiana onde nasceu, e a São Paulo onde está radicado há meio século. Depois, discorreu sobre a
evolução do espaço cênico no teatro e na ópera. No terceiro livro,
encontrou atalho para a crônica,
gênero que parece impregnar toda a sua escrita.
Agora, ele se propõe a descortinar o ofício do ator para iniciantes. Em se tratando de Ratto, isso
não implica manual ou método.
Ao contrário, mostra um dos artistas e pensadores mais importantes do teatro brasileiro contemporâneo, com o lançamento
de seu "Hipocritando - Fragmentos e Páginas Soltas".
O título é carregado daquele estranhamento típico da metáfora,
a figura de linguagem que vai
pontuar todo o volume e convidar
o leitor a se aventurar pelo caminho do autoconhecimento.
Para esse processo, que ele espera dirigido à sensibilização do jovem interlocutor (e aqui não quer
dizer de idade, mas de espírito),
lhe apraz o recurso da crônica,
"inevitavelmente elaborada, mas
sem fazer uso de técnica literária".
À palavra -"instrumento preciosíssimo, mas também muito
importante porque seu ponto de
chegada é a poesia"- Ratto interpõe ilustrações.
De largada, há a foto de um
orangotango a dividir a capa com
o termo "Hipocritando" (na Grécia Antiga, o ator era chamado de
"hipokrités", fingidor).
"O que me toca nesta imagem,
em profundidade mesmo, é a doçura imperativa da beleza desses
olhos. Como não ficar emocionado quando nosso espírito nos leva
a este encontro em que é impossível separar a dimensão humana
da dor do animal?", escreve.
O livro se propõe exatamente a
descobrir, por meio da metáfora,
valores que não são declarados,
mas que são propostos indiretamente com ilustrações.
Em "A Mochila do Mascate"
(Hucitec), ele concluía: "A topografia do meu rosto é na realidade
o mapa de novos percursos e, lá
no fundo, bem no fundo, um horizonte está amanhecendo". No
"Antitratado de Cenografia" (Senac) dizia: "Os horizontes estão
abertos: é só querer chegar lá".
Quem acompanha as narrativas
do autor, depara com esses horizontes mais próximos em "Hipocritando". Mas ainda horizontes a
serem desbravados com o tempo
e a vontade de cada um.
"Se você tem a lucidez e o prazer
de existir, a descoberta vem como
uma provocação militante", afirma Ratto.
Ele pertence à leva de diretores
estrangeiros que aportou no Brasil entre os anos 40 e 50, como o
polonês Zbigniew Ziembinski
(1908-78), o italiano Adolfo Celi
(1918-86) e o belga Maurice Vaneau, que também pretende escrever um livro (leia abaixo).
Ratto segue criando, quer no
departamento de teatro da secretaria municipal da Cultura em São
Paulo, quer na produção recente
"Novas Diretrizes em Tempo de
Paz" (iluminação).
A simbologia, que lhe é tão cara,
está presente até no lançamento
de "Hipocritando". A noite de autógrafos acontece hoje, no Museu
de Arte de São Paulo, o Masp onde o encenador trabalhou em
1954, no departamento de teatro
do espaço de Pietro Maria Bardi.
Veio para o Brasil naquele mesmo ano, a convite da atriz Maria
Della Costa, que inaugurava seu
teatro. Deixou para trás a formação e cerca de sete anos no Piccolo
Teatro di Milano, o primeiro teatro estável da Itália, onde atuou ao
lado de diretores como Giorgio
Strehler e Paolo Grassi.
O hiato de 50 anos entre o 4º
Centenário e os 450 anos de São
Paulo, mais o retrospecto do artista na Itália serão focados no documentário "Gianni Ratto", dirigido
por Antonia Ratto, sua filha, e Gabriela Greeb. Ainda em busca de
recursos para finalização, o filme
captou imagens de Ratto em Milão, Gênova, Florença, Rio e Angra dos Reis. Além do próprio, deram já depoimentos Dario Fo,
Fernanda Montenegro, Maria Della Costa e Millôr Fernandes.
HIPOCRITANDO - FRAGMENTOS E
PÁGINAS SOLTAS - De: Gianni Ratto.
Editora: Bem-Te-Vi. Quanto: R$ 80.
Quando: hoje, às 18h30, no Masp (av.
Paulista, 1.578, tel. 0/xx/11/251-5644)
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