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CRÍTICA
Filme mostra proletariado como classe rude
CRÍTICO DE CINEMA
Billy é um menino diferente.
Não gosta de boxe ou futebol.
Gosta de dançar. Mora em uma
cidade pequena e está cercado de
machismo. Não terá vida fácil:
precisará enfrentar a todos para
fazer o que deseja.
Esta é a história de "Billy Elliot",
que seria revolucionária em 1950.
Hoje é injusto dizer que uma ficção desse gênero não tem seu papel: seja em relação ao homossexualismo ou a várias outras espécies de diferenças. Vivemos em
um mundo marcado por intolerância e incapacidade de ver e
aceitar o outro.
Talvez seja essa a justificativa
para "Billy Elliot" ser indicado para os Oscar de direção e roteiro.
Será difícil encontrar outra.
Ao lado da trama envolvendo o
menino e seu talento, existe outra:
a história se passa num condado
de mineiros, em 1984. Como todos se lembram, esse foi o ano da
greve que Margareth Thatcher,
então primeira-ministra, enfrentou disposta a quebrar a espinha
do sindicalismo -conseguiu, para maior glória do então triunfante pensamento neoliberal.
O pai de Billy é mineiro e divide
suas atividades entre greves e a
tentativa de reencaminhar o filho.
Encararemos as coisas positivamente: talvez o filme pretenda dizer com isso que, assim como
Thatcher não compreende os mineiros e os massacra, o velho
Elliot não aceita os pendores artísticos de Billy.
Aceitar essa hipótese seria como
juntar alhos e bugalhos. A analogia não está na imagem. O que está na imagem é o pendor de certo
cinema para representar o proletariado como uma classe rude e
incapaz de compreender a arte e
suas particularidades.
Essa é a tônica. Mesmo se o velho Elliot decide colocar o amor
paterno acima de tudo (o filme
nos priva de qualquer evolução
aceitável: o pai passa de opositor
inflexível da opção do filho a entusiasta de sua carreira), o que se
vê, e que a cena final torna indesmentível, por motivos que aqui
não se pode revelar, é a incomunicabilidade entre arte e operariado.
"Billy Elliot" é um filme inepto.
Como se não bastasse, opera uma
troca de preconceitos: aceita-se a
homossexualidade como opção
sexual, mas ao mesmo tempo
projeta o operário no poço profundo da insensibilidade.
Que isso sofra uma mudança de
180 graus do meio para o fim, não
altera o problema. Apenas mostra
o quanto "Billy Elliot" é uma ficção postiça.
(INÁCIO ARAUJO)
Billy Elliot
Billy Elliot
Direção: Stephen Daldry
Produção: Reino Unido, 2000
Com: Jamie Bell, Julie Walters
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Belas Artes, Center
Iguatemi, Morumbi, Sala UOL, Tamboré e
circuito
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