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"TIBET, NO CORAÇÃO DO HIMALAIA"
Quando o Tibete não é auto-ajuda
JAIME SPITZCOVSKY
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Poucos são os livros sobre o
Tibete que, nas lojas, não terminam nas prateleiras de auto-ajuda, condenados a dividir espaço com textos de seriedade duvidosa. Outra característica recorrente em livros sobre a região do
dalai-lama é a indisfarçável militância antichinesa, tratando quase sempre a questão tibetana apenas pelo prisma da disputa entre
os budistas e o regime de Pequim.
Em "Tibet, no Coração do Himalaia", a fotógrafa e artista plástica
Cláudia Proushan deixa de lado
os aspectos mais mercadológicos
e mais políticos, para privilegiar
imagens de uma das fatias mais
fotogênicas do planeta.
O Tibete "abre os nossos sentidos", escreve Cláudia num dos
parcos textos de um livro basicamente fotográfico. Continua ela:
"O contato com a sua tintura viva
representou um divisor de águas
no meu trabalho de fotógrafa e artista plástica. Tudo ali é clareza e
vastidão". A artista sustenta que,
por conta da influência exercida
pelos tibetanos, "cores mais definidas também começaram a aparecer nas aquarelas".
Cláudia Proushan fez três viagens ao Tibete entre os anos 80 e
90, em busca de "aperfeiçoamento artístico e espiritual". Embora o
seu livro destoe da maré de best-sellers que transformam ensinamentos tibetanos em produtos de
venda fácil, Cláudia evidencia
desde o início sua simpatia pelo
budismo, que passou a conhecer
melhor ao acompanhar, em viagem, o lama (sacerdote budista)
Gangchen Rimpoche.
O lama Gangchen, num texto
em "Tibet, no Coração do Himalaia", destaca o fato de o trabalho
de Cláudia ter "contribuído para
despertar o povo da América do
Sul para a importância da antiga
cultura espiritual da Ásia". E,
num outro trecho, revela uma espécie de sincretismo alimentado
pela autora: "Ela ainda conseguiu
integrar com êxito a sabedoria do
Himalaia a sua herança judaica".
Entre fotos e aquarelas e com
um prefácio do compositor norte-americano Philip Glass, "Tibet,
no Coração do Himalaia" monta
um atraente mosaico do "teto do
mundo". Mas, ao derramar o foco
sobre a etnia tibetana, deixa de lado a questão da tomada do território pelos chineses, praticamente
ignorada nas páginas do livro. No
leitor, pode despertar a curiosidade sobre a convivência entre as
duas populações, como interagem, com suas tensões e disputas.
Dar pouca ênfase à questão política desponta como um acerto
de Cláudia, evitando que seu livro
caia na vala comum da intensa
militância anti-Pequim. Mas registrar cenas prosaicas do cotidiano de tibetanos e de integrantes
da etnia han (grupo a que pertence a maioria dos chineses) teria sido uma interessante dádiva jornalística, que jogaria luzes num
aspecto raramente explorado na
maioria das obras sobre o Tibete.
O regime comunista chinês
ocupou militarmente a região a
partir de 1950, e a resistência local
se apóia na figura do dalai-lama,
líder do budismo tibetano, Prêmio Nobel da Paz de 1989 e que vive exilado na Índia.
Cláudia Proushan, em "Tibet,
no Coração do Himalaia", montou um mosaico do "teto do mundo" que não precisou se apoiar na
reverenciada figura do dalai-lama. A fotógrafa preferiu destacar
cenas do cotidiano e da população. Também assim conseguiu escapar do lugar-comum.
Tibet, no Coração do Himalaia
Autor: Cláudia Proushan
Editora: lançamento independente
Quanto: R$ 63
Onde comprar: livraria Spyro (0/xx/11/
3085-8855) e na loja Essencial (0/xx/11/
3168-5601)
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