São Paulo, terça-feira, 16 de março de 2004

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CINEMA

Filme de Martin Scorsese ficou 16 anos proibido no país e estréia antes do longa-metragem dirigido por Mel Gibson

"Tentação" e "Paixão de Cristo" competem no México

FRANCESCA ANGIOLILLO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, NA CIDADE DO MÉXICO

Enquanto a maior pressão que a produção de Mel Gibson encara no México vem da pirataria -pois já há cópias circulando em DVD nas mãos de ambulantes-, outro filme, este sim proibido por razões religiosas desde 1988, ganhou pela primeira vez as telas locais no último dia 12.
Trata-se de "A Última Tentação de Cristo", de Martin Scorsese. Nele, Jesus, vivido por Willem Dafoe, se debate com a dúvida sobre aceitar a divindade ou viver uma existência humana ao lado de Maria Madalena (Barbara Hershey).
Ainda que na história, baseada em romance homônimo de Nikos Kazantzakis, Cristo não ceda, a mera hipótese (somada a momentos iconoclastas, como a cena de sexo do suposto casal, na verdade um delírio do crucificado) bastou para irritar grupos católicos no mundo inteiro, com conseqüências mais ou menos drásticas para a produção -que tinha Harvey Keitel como Judas, David Bowie no papel de Poncio Pilatos.
No México, o filme ficou enlatado todo esse tempo por não ter conseguido classificação do governo -a qual finalmente obteve, para maiores de 18 anos (por sinal, a mesma dada à película de Gibson, fazendo do México o único país latino-americano em que menores não poderão ver o martírio de Cristo na tela grande; comercialmente, um grande problema, já que a totalidade dos ingressos colocados em pré-venda está esgotada).
Mas por que agora, e não antes? Teria a ver com "A Paixão de Cristo", que desde sua estréia, nos EUA, já arrecadou US$ 264 milhões?
"Nada a ver", responde, meio ressabiado, o diretor-geral da UIP México, o norte-americano Michael Horn, 34. "Apresentamos o filme pela primeira vez há 16 anos e não conseguimos que o governo o qualificasse", diz Horn. "Agora conseguimos. Reapresentamos no ano passado, para termos tempo de preparar o material, como trailers, e estrear na Semana Santa deste ano."
O que Horn não pode negar é que a UIP adiantou a entrada do filme em cartaz ao mesmo tempo em que a Fox corria com a data de "A Paixão", numa tentativa de diminuir os prejuízos da pirataria. Resultado: o filme de Gibson, marcado para o dia 19, ficou uma semana "atrasado" em relação ao de Scorsese. Inicialmente, ambos estreariam no dia 26.
"Pouco me importa quando estréiam os filmes dos outros", diz o diretor da UIP. "O nome de "A Última Tentação" é tão forte que não preciso de mais nada. Preferiria não ter concorrência, mas estamos num mercado livre."
O gigante representado por Horn diz não ter "nenhuma expectativa" sobre quantos ingressos pode produzir a força de seu nome no imaginário mexicano. "A Última Tentação de Cristo" estréia no país com 71 cópias - número significativamente menor do que "A Paixão" de Gibson, que vem com 500, num território de 3.054 telas.
"Pode ser que tenhamos uma grata surpresa, que cubra os gastos de promoção", estima Horn, dizendo que poucas pessoas viram o filme em vídeo por aqui. Segundo o diretor, embora a distribuidora possa comercializar "A Última Tentação de Cristo" nas locadoras, poucas lojas se interessaram pelo título.
Talvez os mesmos grupos católicos -que, novamente, bombardeiam diariamente a UIP e os exibidores com telefonemas e e-mails- tenham uma presença ainda mais marcante na mentalidade local.
"Mas nada vai tirar do público mexicano o direito a ver esse filme", conclui Horn.


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