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CINEMA
Filme de Martin Scorsese ficou 16 anos proibido no país e estréia antes do longa-metragem dirigido por Mel Gibson
"Tentação" e "Paixão de Cristo" competem no México
FRANCESCA ANGIOLILLO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, NA CIDADE DO MÉXICO
Enquanto a maior pressão que a
produção de Mel Gibson encara
no México vem da pirataria
-pois já há cópias circulando em
DVD nas mãos de ambulantes-,
outro filme, este sim proibido por
razões religiosas desde 1988, ganhou pela primeira vez as telas locais no último dia 12.
Trata-se de "A Última Tentação
de Cristo", de Martin Scorsese.
Nele, Jesus, vivido por Willem
Dafoe, se debate com a dúvida sobre aceitar a divindade ou viver
uma existência humana ao lado
de Maria Madalena (Barbara
Hershey).
Ainda que na história, baseada
em romance homônimo de Nikos
Kazantzakis, Cristo não ceda, a
mera hipótese (somada a momentos iconoclastas, como a cena
de sexo do suposto casal, na verdade um delírio do crucificado)
bastou para irritar grupos católicos no mundo inteiro, com conseqüências mais ou menos drásticas
para a produção -que tinha
Harvey Keitel como Judas, David
Bowie no papel de Poncio Pilatos.
No México, o filme ficou enlatado todo esse tempo por não ter
conseguido classificação do governo -a qual finalmente obteve,
para maiores de 18 anos (por sinal, a mesma dada à película de
Gibson, fazendo do México o único país latino-americano em que
menores não poderão ver o martírio de Cristo na tela grande; comercialmente, um grande problema, já que a totalidade dos ingressos colocados em pré-venda está
esgotada).
Mas por que agora, e não antes?
Teria a ver com "A Paixão de Cristo", que desde sua estréia, nos
EUA, já arrecadou US$ 264 milhões?
"Nada a ver", responde, meio
ressabiado, o diretor-geral da UIP
México, o norte-americano Michael Horn, 34. "Apresentamos o
filme pela primeira vez há 16 anos
e não conseguimos que o governo
o qualificasse", diz Horn. "Agora
conseguimos. Reapresentamos
no ano passado, para termos tempo de preparar o material, como
trailers, e estrear na Semana Santa
deste ano."
O que Horn não pode negar é
que a UIP adiantou a entrada do
filme em cartaz ao mesmo tempo
em que a Fox corria com a data de
"A Paixão", numa tentativa de diminuir os prejuízos da pirataria.
Resultado: o filme de Gibson,
marcado para o dia 19, ficou uma
semana "atrasado" em relação ao
de Scorsese. Inicialmente, ambos
estreariam no dia 26.
"Pouco me importa quando estréiam os filmes dos outros", diz o
diretor da UIP. "O nome de "A Última Tentação" é tão forte que não
preciso de mais nada. Preferiria
não ter concorrência, mas estamos num mercado livre."
O gigante representado por
Horn diz não ter "nenhuma expectativa" sobre quantos ingressos pode produzir a força de seu
nome no imaginário mexicano.
"A Última Tentação de Cristo" estréia no país com 71 cópias - número significativamente menor
do que "A Paixão" de Gibson, que
vem com 500, num território de
3.054 telas.
"Pode ser que tenhamos uma
grata surpresa, que cubra os gastos de promoção", estima Horn,
dizendo que poucas pessoas viram o filme em vídeo por aqui. Segundo o diretor, embora a distribuidora possa comercializar "A
Última Tentação de Cristo" nas
locadoras, poucas lojas se interessaram pelo título.
Talvez os mesmos grupos católicos -que, novamente, bombardeiam diariamente a UIP e os exibidores com telefonemas e e-mails- tenham uma presença
ainda mais marcante na mentalidade local.
"Mas nada vai tirar do público
mexicano o direito a ver esse filme", conclui Horn.
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