|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Obra de Amado foi acusada de populista e conservadora
DA ENVIADA À BAHIA
O fato de ter sido o escritor
brasileiro mais conhecido
mundo afora e o mais vendido e
popular aqui não bastou para
que se produzisse uma unanimidade crítica a favor de Jorge
Amado em seu próprio país.
Muito pelo contrário.
Traduzido para dezenas de
línguas e um dos primeiros a
chegar a países do Leste Europeu, à China e à ex-União Soviética -por sua filiação ao stalinismo e ao comunismo, durante a primeira fase da carreira-, Amado foi bastante contestado no Brasil.
Nos anos 70, enquanto parte
da intelectualidade de esquerda elogiava as mensagens políticas de seus livros, outra o condenava por apaziguar as diferenças sociais do Brasil, ao elogiar uma mestiçagem mansa, a
sensualidade "cravo e canela", a
promiscuidade sem conflito de
classes (vide seus coronéis e
prostitutas) e promover a glamourização da pobreza.
Hoje, porém, é o tom de condescendência que prevalece. A
professora titular de teoria literária da USP Walnice Nogueira
Galvão, por exemplo, que em
seu livro "Saco de Gatos" (1976)
acusava o progressismo de
Amado de ser populista e sexista, agora prefere reforçar sua
importância como "um luminar" do regionalismo.
"Depois dele, cresceu no Brasil a importância da literatura
metropolitana, que predomina
até hoje. Dessa vertente, o novo
luminar seria o Rubem Fonseca", disse à Folha.
Ela ainda identifica influências amadianas nos atuais romances urbanos: "Coisas marcantes na sua obra e que se vêem hoje são a crueza, o hiper-realismo e o relevo do baixo corporal", conclui.
O escritor Milton Hatoum,
que assina o novo posfácio de
"Capitães da Areia", acha que o
preconceito com relação a escritores regionais como Amado
"era forte, mas se apagou". "Ou
os leitores o derrotaram. Amado é ainda o nosso autor mais
lido. Algumas críticas à linguagem e à composição dos romances são válidas. Mas são raros os romances perfeitos.
Quem tentou desqualificar a
prosa de Amado se danou."
Lugar da crítica
O professor de teoria literária da Unicamp Alcir Pécora
acha que a grande discussão sobre Amado a ser feita agora é
sobre a mudança do olhar da
crítica. "Os que falavam mal já
não têm coragem de fazê-lo hoje", diz.
Pécora diz que nunca se comoveu pela obra do baiano.
"Sempre achei a linha narrativa
muito formular. Era eficiente,
havia habilidade literária, mas
o tipo de enredo que criava se
resolvia muito facilmente."
Para ele, a obra "Dona Flor e
Seus Dois Maridos" é o que melhor revela o aspecto negativo
de sua literatura. "Ali está o marido certinho, que é chato, e o
malandro, que é esperto e sexual. E o que parece contradição a princípio caminha para a
conciliação desses dois elementos que comporiam o brasileiro. Esse esforço de conciliação que ele buscava é nitidamente conservador."
Pécora diz que sua obra fomentou "um populismo erótico
da Bahia", assim como o Rio teria optado pelo elogio ao malandro. "São modos de resolver
contradições de um modo muito fácil, evitando o conflito."
(SC)
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Reedição das obras se completará em 2012, ano do centenário do autor Índice
|