São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 2011

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Colecionador obsessivo, editor vive em casa soterrada por gibis

Otacílio d'Assunção tem coleções completas de revistas e acumula papéis há mais de 30 anos

Editor da "Mad" guarda desde gibis que fez aos seis anos de idade até páginas de quadrinhos de diversos jornais

DO ENVIADO AO RIO

No ano passado, Otacílio d'Assunção foi procurado para ser objeto de um documentário. "Ota, The Movie", em pré-produção, vai contar histórias engraçadas de sua vida, como o dia em que colocou fogo no próprio pé na redação do "Jornal do Brasil", ou quando, demitido da editora Vecchi, passou a vender camisetas no Rio com a inscrição "desempregado".
Mas a chegada do documentário desencadeou uma espécie de processo de revisão dos arquivos de Ota. Agora ele quer encontrar tudo: seus primeiros gibis, feitos aos seis anos, a revista que lançou em 1993, os santinhos da campanha em que se lançou para vereador em 1988 (com o lema "menos cocô nas praias") e muitas outras coisas que só ele lembra.
O problema é que ele vive no meio de um arquivo, em constante risco de despencar sobre sua cabeça. Ota é um colecionador compulsivo e seu apertado apartamento na zona central do Rio é um infindável corredor com jornais, revistas, caixas e uma papelada amarelada que mais parece um lote de pergaminhos alexandrinos.
Ota tem em sua sala, por exemplo, todas as cartas que leitores da "Mad" enviaram para a editora Record entre 1984 e 2000. "Não sei se tenho as da época da Vecchi, nos anos 1970", comenta.
Ota tem, em seu quarto do meio, coleções da "Mad" brasileira, americana, australiana etc, etc, etc. Sem falar nos quadrinhos de terror, de caubói, de super-heróis, de ficção científica, de aventuras na selva. "Vendi recentemente parte das réplicas, quero dizer, as que eu possuía duas ou três edições idênticas", esclarece.
No escritório, Ota tem cem CDs com fotos de mulheres peladas (não pornôs) que baixa todas as manhãs da internet e organiza em pastas. "Acho bonito", diz.

VHS
No quarto de dormir, há apenas um colchão no chão. E prateleiras com 800 fitas VHS, apesar de não ter um videocassete que possa reproduzi-las. "Quando o Cartoon Network apareceu, comprava uma caixa de fitas por semana para gravar todos os desenhos da Hanna Barbera", esclarece.
A obsessão de Ota é assim: "Hoje, é fácil baixar os desenhos pela rede ou comprar DVDs com temporadas inteiras dos Flintstones ou Pepe Legal. Mas, talvez, nessas fitas, eu tenha uma dublagem diferente e que não está mais disponível." Por isso, o editor aguarda o dia em que tiver dinheiro suficiente para digitalizar seu inestimável acervo.
Por enquanto, ele não dirige, não pinta o cabelo -apesar de muitos acharam que sim-, inveja o iPad que sua mãe de 84 anos comprou e ainda se considera um adolescente: foi casado por três anos, dividiu casa com mais duas mulheres, namorou dezenas de outras. O problema, sempre, é o colete -é que Ota faz questão de andar por aí com um colete de fotógrafo.
Anteontem, carregava em seus seis bolsos: uma caneta hidrográfica preta para desenhar, um fanzine que ganhou de presente, um isqueiro, um guardanapo de papel, um maço de Marlboro, um recibo de banco, um bloco para desenhar, uma reportagem sobre Carlos Zéfiro recortada d'"O Globo", um celular e sete outros papéis indefinidos.
"Disso, elas reclamam. E quando tenho que escolher entre elas ou o colete, fico com o colete. Sei que é difícil conviver comigo", admite.
Nesse momento de reflexão sincera, ele concede: "Se eu voltasse no tempo, acho que seria menos obsessivo. Ainda colecionaria, mas não precisaria ser coleções completas, né?" (IVAN FINOTTI)


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