São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 2011

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CRÍTICA JAZZ

Tons variados de Renaud García-Fons revelam passagens de inegável beleza

FABRICIO VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

É provável que muitos entusiastas do jazz no país ainda desconheçam o nome de Renaud García-Fons.
Mas a música de delicado sabor mediterrâneo do baixista francês, que se apresentará em junho em São Paulo, no BMW Jazz Festival (Auditório do Ibirapuera), tem tudo para angariar novos fãs.
Enquanto o músico francês não desembarca por aqui, descobrir seu mais recente trabalho, "Mediterranées", pode ser uma opção mais que recompensadora.
Renaud García-Fons, 48, vem de uma família de origem catalã.
Sua música, partindo do jazz, lida com sonoridades múltiplas (erudita, árabe, latina), muito devendo ao estilo flamenco.
Dois nomes basilares de "Mediterranées", e que devem acompanhar o baixista em sua apresentação no país, são David Venitucci (acordeom) e Kiko Ruiz (guitarra flamenca).
Junto a eles, uma gama de instrumentos pouco usuais forma a palheta que sustenta o trabalho.

MEDITERRÂNEO
Do alaúde barroco a instrumentos de percussão do Oriente Médio (como "daf", "zarb" e "rik"), "Mediterranées" exibe as referências variadas de García-Fons, sem cair no mau gosto ou desaguar em exotismo para exportação.
Composto por 18 temas, o disco traz pequenas peças (muitas delas se estendem por apenas dois ou três minutos) de tons variados, buscando vagar pelos diferentes polos que compõem a costa do Mediterrâneo.
Para abrir o disco, "Aljamiado" explora a região da Andaluzia, com o acordeom de Venitucci em primeiro plano.
Na sequência, a música "Luces de Lorca" penetra ainda mais no colorido espanhol, embalada pela guitarra flamenca.
Virtuose que já foi chamado de "Paganini do baixo", o músico ajusta seu toque para que não soe exageradamente jazzístico em relação aos outros instrumentistas.
Um exemplo da perfeição do rumo adotado por ele é "Fortaleza", que se revela a melhor faixa do conjunto.
É em "Fortaleza" que García-Fons tem alguns de seus momentos mais fortes, exibindo com generosidade sua perfeita técnica de arco.
Outro momento elevado, ideal para apreciar toda a expressividade do baixista, é "Sinai", na qual ele cria, sozinho, pontos luminosos com as cordas.
Mais do que solista ou improvisador, García-Fons é um músico preocupado em desenvolver composições.
Nessa sua tentativa de traçar um elo entre sons do Ocidente e do Oriente, o instrumentista francês acaba por desembocar em um universo muito particular, sereno e com passagens de inegável beleza.

MEDITERRANÉES
ARTISTA Renaud García-Fons
LANÇAMENTO Enja
QUANTO US$ 15,90 (R$ 26,50 mais taxas)
AVALIAÇÃO bom




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