São Paulo, segunda, 16 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PERSONALIDADE
José Mojica diz que era "pássaro selvagem'
Zé do Caixão corta unhas de 35 anos

FERNANDO COSTA NETTO
Editor-chefe do "Notícias Populares"

Sexta passada, 13 de março, José Mojica Marins, 62, na pele de seu personagem Zé do Caixão, protagonizou o maior corte de unhas do mundo.
Nessa data simbólica, sob noite de lua cheia na capital, foram derrubadas as cinco garras da mão esquerda que acompanhavam o cineasta havia 35 anos.
O evento teve a participação especial da banda Sepultura, que entrou no clima da cerimônia com uma paulada sonora.
Enquanto a banda tocava, Mojica, devidamente trajado de Zé do Caixão, recitava o monólogo "Prenúncio", escrito por ele, sobre medo, corrupção, forças desconhecidas, liberdade de expressão e outros tabus.
Terminado o monólogo, Claudia Guedes, 25, uma das 13 guardiãs do Terceiro Milênio -personagem que faz parte da parafernália do cineasta-, apagou a vela que carregava, pegou uma tesoura, deu dois passos à frente e iniciou a delicada operação de corte das unhas mais famosas do planeta. A platéia gritava o nome da banda Sepultura e pedia em coro para que fosse cortada a mão inteira de Zé do Caixão.
Cada uma daquelas unhas compridas e espessas já tinham um destino certo. A do polegar foi entregue a Igor Cavalera, líder da banda, a do mindinho foi colocada na Internet e será leiloada com renda revertida a uma instituição que cuida de crianças carentes, a do dedo indicador foi doada ao jornal "Notícias Populares", a quarta foi enviada ao apresentador Faustão. A quinta é patrimônio de Zé do Caixão.
Uma crise renal impediu Mojica de cumprir no palco um antigo desejo, o de fechar a mão esquerda já sem as unhas, curvar o braço e dar uma banana à corrupção no Brasil. Mojica, com muitas dores, foi amparado e seguiu para o camarim onde recebeu a imprensa.
Mais calmo, disse à Folha que sem as unhas vai poder trabalhar no computador e dirigir. "Eu era um pássaro selvagem, preso numa gaiola. Eu era uma pessoa dependente havia 35 anos, minha vida era um desespero."



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.